Um dia, a luz é
só uma luz e o sol apenas um brilho quente.
Um dia, o
perfume não tem cheiro, nem o mel sabe a natureza.
Um dia, o dia
não mais significa viver; será apenas um molho de horas
que passam em
sonolento limbo, onde tudo é nada: e nada é tudo.
Um dia tudo
será uma sombra ensombrada, sem cor e dormente.
Um dia, um olhar
apenas significa que se vê, mas que se perdeu a beleza,
que se perdeu o
vigor, o sentido e a razão, e que tudo se prende com escoras
feitas de teias
de aranha, feitas de brumas e de tempo passando: mudo.
Um dia, as mãos
vão esquecer-se do caminho, do préstimo, do sentido,
nada mais que
conchas vazias em areal estranho e intemporal.
Um dia, apenas a
névoa povoará o olhar, encherá o corpo, a alma, a vida.
Um dia, as
memórias serão farrapos sem nexo, desgarradas e esparsas.
Um dia de nada
servirão os esforços, o empenho, a luta; estará perdido
o mundo
periclitante onde se equilibram os passos, lutando contra o vendaval.
Um dia terei
que deixar-te ir após as lutas que nos levam de vencida.
Um dia será o
vazio; nada mais restará que vazio, num voo de brancas garças.
Lágrimas de lua
3 comentários:
Uma coisa reparo, minha Amiga, entre a poesia que pública e os comentários seus, que leio por aí:
o contraste entre pessimismo na mágoa que alimenta a Alma e, o optimismo com que incentiva os outros, na vida com esperança no amanhã.
Posto assim, vamos lá 'entrar' no poema.
A poesia é matriz. É sentir e exprimir. É tanto mais pessoal, quanto a riqueza das vivências.
Pode-se divagar, por vezes, começar e seguir um qualquer rumo, sem se saber onde acabar. Mas há sempre um cunho biográfico, misturado com a influência do meio é da cultura ganha.
Até se pode mentir, a nós próprios, em especial.
Mas sabe-se (intui-se) quando a poesia tem 'sumo' e sabor e amor.
Sabe-se quando é o coração a ditar...
E mais não digo (nesta mágoa tão expressa), a não ser que gostei deveras.
Um beijo, Paula e um resto de semana sorridente.
Que esse dia vazio,
Nunca chegue à porta tua!
E que lágrimas da lua,
Sejam seus raios, a fio,
Dando luz, cujo desvio
Se espraie por toda a rua
Que palmilhas, e que a nua
Lua flutuante, por brio
Brilhe mais intensamente
Para dar-ta a alma e a mente
Mais amor, mais esperança,
Mostrando o subjacente
Sentimento que alma sente
Tal sentias em criança.
Grande abraço. Laerte.
Que esse dia tarde a bom tardar...
Excelente, parabéns.
Bom resto de semana, querida amiga.
Beijo.
Enviar um comentário