sexta-feira, outubro 02, 2015

DIA DA PARTIDA











No dia em que parti, vesti-me de anil e rosa,
calcei sandálias de lírios, enfeitei-me de versos e prosa.
No dia em que parti fechei o coração a sete chaves,
cerrei janelas e portas, memórias duras ou suaves.
No dia em que parti enterrei sonhos e dores,
enterrei as minhas mágoas e todos os meus amores.
No dia em que parti deixei metade do que sou
morri e ao morrer, fui gaivota que voou.
Parti sem olhar para trás, deixei-me em cada canto,
aos poucos perdi o corpo, a alma, o rasto e o pranto.
No dia em que parti, ninguém deu porque eu partia!
Só eu sabia que ia, só eu caminhava e sorria,
só eu olhava sem ver o caminho que percorria.
Só eu trilhava descalça a estrada nua e fria.
No dia em parti, vesti-me de céus e de terra,
calcei sandálias de rosas e encetei uma nova guerra.
No dia em que parti pintei o olhar de infinito
arrumei na mala a esp’rança. Calei fundo mais um grito.
No dia em que parti ninguém soube, ninguém viu.

Atrás de mim só deixei a sombra de quem partiu.

3 comentários:

Unknown disse...

Amiga querida: já li e reli tantas vezes este magistral poema que quase o tenho todo decorado. Quanto mais lia, mais me encantava com a sonoridade perfeita. Se pudesse ser musicado, daria uma linda canção. Hoje, mais do que nunca, encantaram-me os versos deste teu magnífico poema.
Também li a postagem anterior, uma linda e amorosa carta dedicada ao teu pai. Dias atrás também publiquei algo assim. Tive um pai maravilhoso que me deixou belas lições de vida e cuja saudade está sempre a me trazer lembranças do passado que compartilhamos. Assim como tu, amiga, hoje também consigo avaliar as dores sofridas por meu pai e que, por extremo amor, tentava sempre me ocultar, mas que meu coração de filha atenta a tudo que a ele se referia, conseguia captar apenas num olhar. Eu e meu pai tivemos uma ligação muito forte, pois ele era uma pessoa de uma humildade extrema, que achava que todo mundo era bom, generoso, igual a ele. Se isto foi um defeito, acredito que também sofro deste mal, pois sou muito confiante nas pessoas, estou sempre a dar-lhes um crédito, a ver até nas atitudes negativas algo que as redima do feito. Muitas vezes, ao longo da doença do meu pai, chorei no meu quarto enquanto fazia minhas orações, para que ao encontrá-lo pudesse sempre mostrar um sorriso confiante. Sabia que ele necessitava da minha força e assim procedia no intuito de deixá-lo mais tranqüilo.
Minha linda, quando dizes que "deste lado da nuvem que é a barreira entre nós", ouso dizer que não existe nenhuma barreira entre o coração de um pai e sua filha. Se fechares os olhos, como sempre faço, verás o rosto sorridente do teu pai, pois ao vislumbrares "uma fugaz imagem do teu rosto a espreitar" pode ter a certeza de que ele está realmente a te olhar. Não precisas agir como São Tomé... Se já o "sentes" em vários momentos de tua vida, então estarás sempre a enxergá-lo com os olhos da alma. Agora que ele está livre dos males que o martirizavam, num “novo lar onde a dor e a tristeza já não existem. Onde a paz, a luz e a segurança são a realidade do teu dia-a-dia. Onde vives um tempo já sem tempo, simplesmente porque atingiste a eternidade” com toda a certeza está a te olhar e a cuidar de ti como sempre fez quando aqui na terra esteve.
Minha querida amiga, amei estas duas postagens, como tudo aquilo que escreves. Que teus dias sejam lindos e que possas sempre ver “no horizonte, tingido de vermelhos e laranjas de amarelos e alilasados” um lindo amanhecer e um pôr do sol que te traga paz e alegria.
Fica um beijo nesse teu lindo coração e que muita diversão preencha o teu final de semana.
Com carinho,
Helena

Flor de Jasmim disse...

Ontem vim aqui, li-te e reli, fui embora, agora aqui estou de novo, voltei a ler e a reler e não sei que te dizer, as minhas lágrimas caem.

Um beijinho com muito carinho e amizade.

saudade disse...

Não encontrando bem as palavras que te quero escrever....
Apenas espero que tenhas partido para um novo começo....
Beijo de....
Saudade

O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...