quarta-feira, novembro 29, 2006

BRANCA, GÉLIDA...A LUA


Do mais profundo do gélido luar,
o bafo branco da clara noite
vem de manso para se aninhar
no meu corpo, pedir-lhe que acoite
mais este beijo, que vem profanar
a pureza deste noite de encantar.
Da mais branca e distante lua
soltam-se mil raios de luz
que me percorrem a pele nua,
lembrando-me a dura cruz
de só de longe te poder amar,
só de leve te poder tocar.
Do mais gélido e profundo luar,
eleva-se apenas esta voz,
o nosso mutuo murmurar
"este amor, é de nós para nós".

segunda-feira, novembro 27, 2006

NOITE DE VENTANIA


Bem do fundo da minha alma
eleva-se um grito,
como um guerreiro rito,
que se espraia na calma
desta noite de ventania.
Bem do fundo do meu ser
há um amor que floresce,
que se desdobra e cresce,
cria asas, eleva-se a amadurecer,
nesta noite de invernia.
Bem do fundo de mim,
eleva-se um grito de prazer,
fruto de tanto te querer,
que flui entre nós, assim,
nesta noite de calmaria
em que o amor renasceu.

domingo, novembro 26, 2006

ENCHENTES TRANSBORDANTES


O céu vestiu-se de cinza carregado,
lançou sobre os longos cabelos
uma mantilha de negro marchetado,
e do olhar cansado e já sem desvelos
grossas bátegas de cristalina chuva
soltam-se em catadupa.
O céu vestiu o seu negro vestido,
carregou o olhar, pintou-o de noite,
feita trovoada e dor. Soltou um bramido
de paixão e mágoa, sem ter quem o acoite.
E a terra tremeu, vergou-se e rompeu
do seu ventre fecundo um grito nasceu,
virado para o céu, suplicante e perdido.
"Céu de tormentas, céu de invernia,
não chores mais, não mais te lastimes
ouve antes esta minha sinfonia
de águas correntes de forças sublimes.
Acalma a tua furia, cala os meus rasgões,
compõe nova musica de paz e calmia.
Ah céu!!! Cala esta minha agonia!"

quinta-feira, novembro 16, 2006

ARCO IRIS


Vestindo-me de azul celeste,
esquecendo o cinzento dos dias ocos,
ultrapassando os vermelhos das iras surdas,
pisando os lilases das dores marcantes,
saltando sobre os castanhos dos vales dos medos.
Vestindo-me de azul celeste,
beijando os verdes das festas,
acarinhando os amarelos dos mimos,
prendendo os laranjas das ternuras,
abracando os negros das saudades.
Vestindo-me de azul celeste
apenas para viver este dia....

terça-feira, novembro 14, 2006

ABISMO


Já nem sequer se importava com as vergastadas dos troncos semi-despidos, que lhe fustigavam o corpo e o rosto á passagem, apenas queria acabar de vez com o tormento que a aprisionava havia tanto tempo. Fugir, fugir, desaparecer, não olhar para trás, e se possível; Esquecer!O vento frio da noite de Inverno arrepiava-lhe a pele cortada aqui e além pelos troncos contra os quais se lançava ás cegas, o bosque que tanto amava e que percorrera vezes sem conta com tanto prazer, era apenas um manto escuro e tenebroso que a envolvia nos seus braços gélidos, apertando, apertando, apertando, sem a deixar respirar livremente. Mas os seus passos em correria dirigiam-se para a orla onde fervilhava o caudal cantante do rio que, por essa altura, já ia bem cheio. A dor, a mágoa, a tristeza imensa inundavam-lhe a alma, embotavam-lhe os sentidos, travavam o raciocínio. Ela era apenas uma mulher sem rumo, sem esperança, perdida, à beira do abismo onde se iria lançar feliz por finalmente encontrar a paz que tanto buscava.Mais um golpe no rosto, sentiu o gosto do seu próprio sangue nos lábios, mas não abrandou a corrida, clareava um pouco o negrume das árvores, sinal que o rio estava perto. A sua libertação, o fim do seu suplício, e para essa ténue claridade encaminhou os passos…
Na curva do rio, onde uma gruta se abria, e as aguas raramente chegavam, uma pequena fogueira ardia, sobre as brasas uma grelha e um peixe que assava com a pele a chiar. Com todo o cuidado e atenção umas mãos masculinas iam virando a grelha para que não esturricasse o jantar, alheio ao drama que sobre a sua cabeça corria, trauteava baixinho uma melodia suave. Mas os seus sentidos, sem motivo aparente, deram-lhe um sinal de alerta, algo não estava bem, uma inquietação crescente começou a apoderar-se dele, algo inconsistente, vago, difuso e impreciso, mas que o deixavam cada vez mais ansioso e desperto, de sentidos aguçados e em guarda.A noite ia agreste e o vento tinha dobrado a intensidade, os sons da noite eram fortes e as copas das árvores agitavam-se em constante agonia. Os seus ouvidos, como homem habituado à vida ao ar livre, descortinavam e identificavam as mais pequenas variantes sonoras, e assim, apercebeu-se de um som rápido e desconcertado que ia crescendo, e sobre a sua cabeça se fazia sentir. Animal? Pessoa? Mas quem se afoitaria numa noite daquelas cá fora, e a correr de tal forma? Animal não lhe parecia muito, mas pelo sim pelo não, melhor era ter a carabina à mão…
E de repente à sua frente abriu-se a porta libertadora e sem pensar ou hesitar lança o corpo magro e ferido para o espaço aveludado do vazio lá em baixo um baque surdo fere os sentidos dele que se volta atónito para o rio, vendo ainda o corpo mole entrar de chapão nas águas geladas e rápidas. O seu instinto de sobrevivência lança-o à água, e com braçadas rápidas e vigorosas alcança o lugar onde o corpo se afundou. Mergulha uma e outra vez, lutando contra a corrente forte e o frio. Acaba por embater nela, cujo corpo vai à deriva, desmaiada, seguindo a carreira do rio. Enlaça-a e puxa-a para terra, extenuado e enregelado, tremendo dos pés à cabeça. Chegados à margem pega-lhe ao colo e leva-a para perto do lume, deitando-a sobre o seu saco cama, enquanto tira as roupas molhadas e as põe a secar perto das chamas.Quem é aquela mulher, de cabelos encharcados, rosto vincado pela amargura, olhos fechados e boca contrita? Que lhe aconteceu? Escorregou? Lançou-se? Quem é?Embrulha-se num cobertor e vai para perto dela sem saber muito bem como lidar com aquele corpo meio despido, com golpes profundos escorrendo sangue e ainda meio inanimado. Ela vai aumentar-lhe o embaraço, ao despertar totalmente e olhando ao seu redor com uma tristeza imensa, desalentada e desesperada. Afinal está viva! Quem o mandou socorre-la? Que faz aquele homem ali? Só para lhe tolher os passos, mas que pretende, quem é?
E num repente salta de novo para tentar alcançar o gelo cantante que perto a aguarda. Rápido e certeiro, ele prende-a nos braços fortes e musculados, impedindo o acto tresloucado, e segurando-a com força enquanto ela se contorce louca naquele plexo que não quer. Debate-se até à exaustão e acaba vencida, cansada e num pranto incontrolado, abandonando-se no abraço que a não largou e agora ampara deitando-a suavemente de novo, sem se soltar do contacto do seu corpo.Um choro convulsivo e aflitivo ecoa sobre a ventania, aquele ser desprotegido e perdido soluça de rosto por terra, parece que mundo vem ás suas costas. Devagar, uma mão passa ao de leve sobre os cabelos molhados, desce pelo pescoço e contorna-o, percorrendo as costas que aos poucos se vão aquietando. O contacto quente da mão, o calor que das chamas se desprende, acaba por acalma-la um pouco. Um golo de café forte vai restaurar-lhe as forças de modo que as primeiras palavras se ouvem; São de uma revolta sem tamanho de um desespero profundo, e só com muita paciência, calma e interesse, ele consegue ouvir a história da sua vida. A noite vai longa, e o lume crepita ainda, o peixe já foi partilhado, as vidas começam agora o seu ciclo de troca e confidências. O rosto fechado dela já ensaiou um sorriso, e as mãos tocaram-se vezes sem conta, os olhos, dois lagos fundos de mistérios e dor, olham-no cada vez com mais doçura e menos medo. O lume aproxima-os, aconchega-os e aninha-os no seu calor ameno e confortante. A noite avança agitada no vendaval, mas naquela gruta um milagre aconteceu; A vida voltou a ter significado, voltou a ter sentido para dois seres perdidos do mundo.

segunda-feira, novembro 13, 2006

CALANDO LÁGRIMAS


Calando as lágrimas bem fundo,
acolho o destino traçado
na vida deste meu mundo.
Como um sonho destroçado
ou petalas caídas sem rumo,
calo a tristeza esvaída em fumo.
Calando o grito distorcido e rouco
que na garganta se forma aflito,
procuro forças para caminhar mais um pouco,
e com o coração contrito
calo as lágrimas doridas,
em mil horas perdidas.
Calando as lágrimas bem fundo...

domingo, novembro 12, 2006

Acordei num lugar estranho
onde a quietude me invade,
esqueci-me da cidade, do ruido,
deixei que o silencio me possuisse,
invadisse e tomasse nos braços.
Acordei num lugar mágico
onde a geada molha os pastos,
o chocalho do gado tilinta manso
e o galo cantas as matinas.
Acordei num lugar puro
onde o mundo parece parar
esquecido do seu eterno girar
para dar tempo ao tempo,
sem presas.
Acordei num mundo de paz
onde o sol entra pela janela
e me beija o rosto ensonado,
as ovelhas, as vacas e os burricos,
os cães e gatos, os galos e os pardais
desafiam as humanas vozes
com seus sons de natureza...
Acordei numa aldeia Portuguesa
onde o tempo se esquece de passar
e fica na quietude de uma manhã Outonal.

(festa da Castanha - Marvão)

segunda-feira, novembro 06, 2006

MANHA


Na quietude da manhã
os sons do dia a acordar:
Ladra o cão e o pardal com afã
entoa hinos de encantar.
A fresca brisa agita o cortinado,
e do meu leito de tortura
sinto o beijo do novo dia apaixonado.
É assim, com toda a loucura
que cada dia se entrega
nas nossas mãos, de mansinho,
depois transporta-nos, agita-nos e pega
em nós, pela mão, devagarinho,
e faz ver o sol, as flores o mundo,
e mesmo deitada sinto o vigor
dete dia, forte, doce e profundo,
que me veio dizer; "Bom dia amor!
Voltei para mais um dia!"

sábado, novembro 04, 2006


Se o sonho morresse hoje, inconformado e rouco,
se a vida se transformasse em pétalas sem cor,
se os teus dedos não aflorasem os meus cabelos molhados,
se os teus lábios se perdessem por entre as dobras da vida
e deles apenas sobrassem os beijos que já trocamos.
Se o meu cristal se quebrasse em mil pedaços sem jeito,
se o meu pé deslizasse e para o abismo me arrastasse
sem ter como voltar à vida.
Se eu perdesse esse teu olhar que de manso me acarinha,
se o teu corpo se afastasse sem retorno do meu espaço,
meu amor eu morreria.
Sem pena me tornaria apenas uma gota de orvalho.

quarta-feira, novembro 01, 2006

AS 5 MANIAS



Ora vamos cá tentar retratar-me em 5 maniazitas conforme o desafio lançado pelo nosso querido Tulipa Negra....Xiiiii, no que eu me vou meter...Então cá vai:

1ª Mesmo que esteja a cair de sono, e mal abra os olhos, não dispenso ler na cama, ainda que isso signifique só abrir o livro e passar o "meio" olho que mantenho aberto pela primeira linha.

2ª Encafuar na minha mala as coisas que não passam pela cabeça de ninguém, mas que já deram bastante jeito em várias ocasiões, e fazer questão de não as retirar de lá por muito que comentem ou critiquem.

3ª Sou sempre a ultima a deitar-me, e não o faço sem passar a casa em revista, e se apanho a minha gente em pé, sento-me e aguardo calmamente que se decidam a recolher.

4ª Loucura!!! Não uso botas a não ser se quando saio de casa está a chover a potes, e mal chego ao emprego as botas voam. Odeio botas!

5ª Tenho uma predilecção MUITO GRANDE por pregadeiras, e...tenho uma vasta colecção, que uso com imensa frequencia.

Agora não me peçam mais, não?!!!

O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...