sábado, dezembro 30, 2017

TRANSIÇÃO





Escoam-se as horas numa brecha de olhar,
para além do sonho, para além do mar.
Partilha-se o pão de suado amargor,
e ama-se um sonho em desdobrado amor.

Escoam-se os anos, pelas mãos de menino,
agrilhoam-se os passos a um talhado destino,
espera-se a vinda, a partida, o adeus, espera-se tudo...
e nada. Desenha-se um sonho num grito mudo.

Escoam-se as mágoas, enlaçam-se esperanças,
soltam-se os risos, bordam-se doces lembranças,
enfeitam-se os cabelos com grinaldas de luz,
e amortalha-se ao peito o sinal da Cruz.

Escoou-se um ano, castelo de brincar,
nas mãos de um menino de perdido olhar.
Gritou-se: "Amo-te", nas palavras por dizer,
e dissesse tanto no que ficou por escrever.

Partilhou-se o pão, o vinho e a dor,
partilhou-se o sonho, o sorriso e o amor.
E o tempo, escoando, passou a correr,
nesta cacafonia chama da viver.

Lágrimas de lua


2018, sejas bem vindo.

quinta-feira, dezembro 21, 2017

CORES DE VIAGEM

Vou pintar um arco-íris num céu por mim inventado,
onde as espumas dos dias se desfazem em silêncio.
Vou lançar bolas de sabão ao mundo angustiado
com raios de prateado luar nelas entrelaçado.

E vou plantar beijos, como sementes douradas,
como luas, como sois, como "mares nunca dantes navegados".
Desenhar o impossível, inventar as alvoradas,
e das ondas verde-esp'rança tecer as minhas madrugadas.

Vou vestir-me de estrelas, companheiras de viagem,
vou calçar-me de brumas breves, enfeitar-me de novos sonhos,
vou abandonar-me na suave aragem,
ser gaivota, andorinha, vou ser somente  miragem.

Empunho as telas e as tintas, misturo-as com a esperança.
Crio um novo amanhecer, onde impere o sol nascente.
Escrevo uma tela colorida de sonhos e de bonança.
Entrego ao vento o que sou; corpo e alma de criança.

Vim pintar um arco-íris neste amanhecer de segredos,
neste silêncio de alma, nestes olhos de ver por dentro,
neste mar que me separa de mim, entre escolhos e rochedos.
Vim pintar um arco-íris para colorir a dor e apagar os degredos.

Vim pintar um arco-íris em cada vida, em cada sonho, em cada lágrima de alma....




NATAL DE PAZ E HARMONIA, SAÚDE, AMOR E COMUNHÃO

imagem retirada da net



Lágrimas de lua


terça-feira, dezembro 12, 2017

SEM DESTINATÁRIO



Olá!


Esta é mais uma carta que não tem destinatário, porque não será enviada.

Sim, é para ti, que estás num mundo à parte do meu, vogas numa "bolha" que vejo passar da minha "bolha". Ah, pois! Não estranhes, para mim todos vivemos em bolhas: as nossas vidinhas, de onde não queremos sair. Pedimos a todos os santinhos que não sejamos obrigados a romper as paredes das nossas bolhinhas de conforto. Mas sim, dizia eu, são para ti estas palavras.  Um dia a curiosidade foi mais forte: cedi. Quis entrar num mundo que, sabendo não me pertencer, pensei poder franquear. Que me fosse permitido visitar, desfrutar, quem sabe; habitar. E entrei! Abriste, rectificação: entreabriste a porta e eu, sem hesitações, entrei.

Mas essa porta deu acesso a um mundo de magia, de encanto, de descoberta que me foi, seguidamente, negado. Uma espécie de “toca e foge” dos meus anos de menina. E deixou um gosto de incumprimento de uma promessa, de uma fraude da vida, de uma expectativa gorada. A culpa? Pois, essa, não há. E se houver, será, indubitavelmente, minha. Sempre minha, porque ainda espero. Sempre minha, porque ainda acredito. Sou assim, serei assim até ao meu fim.- Até prova em contrário, tudo (e todos) são verdadeiros e sãos. - Crédula? Ingénua? Talvez… sim … serei.

E hoje vejo-te, levando a tua bolha, vogando nas ondas da vida, nos ventos dos acontecimentos e nas marés das sementes que vais semeando, e nas ceifas do que já frutificou. E eu vejo-te, de longe, quando achei poder estar perto. E eu vejo-te, com um peso no coração, e uma lágrima na alma. Mas, apenas e só, porque me iludo, porque espero, porque creio ser possível não viver somente na minha bolha. A vida faz sentido se as nossas paredes não forem estanques, se soubermos rasga-las e deixar que “outras bolhas” toquem, penetrem, se fundam nas nossas. Depois, quando a vida me confronta com a realidade; dura, crua e desapiedada, dói. Uma dor de desalento e de sementes que não vingaram. De esperança pequenina defraudada. Uma dor estranha pela estranheza do que não foi vivido, apenas idealizado, sonhado, esperado.

Mente humana de tamanhos mistérios.
Ainda bem que esta carta não tem destinatário! Irias dizer que sou louca. Mas, sabes? Não sou. Sou apenas uma alma aberta, uma alma que acredita no Bem, que mantém aquela candura de menina, ainda que a vida tenha sovado, bem sovada, a massa de que sou feita. Não, não sou louca. Apenas um coração que bate e que, por muito que seja maltratado, continua a bater. A bombear esperança e sonho nos passos deste caminho.

Sigo, com esta estranheza na alma, esta sensação de ficar à porta, mas sigo. Sabes? Tenho uma “bolha” para levar por diante. Desejo que sejas feliz na tua pequena-grande bolha, que a vida te sorria e dê tudo o que desejas e anseias.  Desejo que os teus sonhos se concretizem, os teu projectos avancem. Mas, acima de tudo, desejo-te o “suficiente de tudo”.

Não entendes?  Pois… acredito. Mas desejo-te o melhor.



Até sempre


Lágrimas de lua

sexta-feira, dezembro 08, 2017

HÁ PEDAÇOS DE MIM...


Há pedaços de mim no infinito,
no mais longe, no mais além.
Há quereres mudos que permito
invadam o silêncio, que mantém
este equilíbrio de folhas secas,
de olhares glaucos perdidos nas brumas .

Há pedaços de mim na areia deserta,
onde um dia fui ninfa e olhei o sol.
Há uma nova maré que me liberta
dos grilhões da saudade, em prol
de um amanhecer em airosas charnecas
plenas de vida, coroadas de espumas...

Há pedaços de mim dentro de mim,
onde nada habita, onde o sonho adormece.
Onde a vida passa e corre e se esvai, por fim.
Há pedaços de mim onde o horizonte se desvanece,
se restringe, em mascarada cerca,
que contém a alma em cortantes plumas.

Há pedaços de mim.... há pedaços de mim...



lágrimas de lua

O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...