terça-feira, abril 23, 2019

PÁSSARO NEGRO


Abre as asas, pássaro negro, ensina-me o teu voo.
Acolhe-me, pássaro negro, no calor do teu ninho.
Desdobra o negro do teu voo em raios de luz e caminho,
em rotas de descoberta, em coragem e denodo.
Voa, pássaro negro, nas auroras de róseos ventos,
nas brumas de espuma ardente, adentrando-se no peito.
Paira, pássaro negro, sobre as sombras de amor feito,
derretendo na lonjura, de silenciados fragmentos,
de adormecidas palavras e gritados silêncios.
Abre as asas, pássaro negro, leva-me na tua viagem,
não temas ventos nem marés, ou a força da solidão,
Voa, pássaro negro, na tua ilha, tua rota de ilusão.
Lança-te no espaço sem retorno, faz-te ao sol e à aragem.
Olha, pássaro negro, à tua volta tudo é noite sem luar,
respira, pássaro negro, a singeleza da tua cor e leva-me no teu voar.

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Lágrimas de lua


segunda-feira, abril 15, 2019

MUNDO AO CONTRÁRIO



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O mundo ao contrário, do avesso, do outro lado,
rasguei um lenho no mundo para descobrir o infinito,
espreitei: criança curiosa, o desconhecido encantado,
para além do sonhado, imaginado, para além do que foi dito.

Vi aves rastejando no deserto, baleias rindo no céu,
vi vulcões de mansas águas e lagos de eriçadas lavas.
Vi dias nascendo como noites de agoirento breu,
e luas de brilhantes auras envoltas em chuvas alvas.

Vi sonhos, como espantalhos, em maduros trigais,
vi lágrimas, como orvalhos de impenetrável aridez,
vi crianças calejadas de desalentados brandais,
e amantes esquecidos em destroçada lucidez.

Vi navios de chegada acenado em dura partida,
num cais de brilhante e mágica neblina.
Vi os teus olhos magoando a distancia incontida,
e os beijos, como nuvens, pairando em surdina.

Mudei o rumo dos mares, empoei as madrugadas,
e, de cartolas vazias, fiz nascer um novo dia.
Neste mundo do avesso, as palavras enrugadas
rasgam como lancetas, espreitam em agonia,
por este lenho aberto, bem no coração do mundo, à porfia.

Lágrimas de lua



O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...