sábado, junho 28, 2008

PENSAMENTO....


"A capacidade humana para se adaptar às mais variadas circunstancias é espantosa! Somos tão perfeitos que nos tornamos naquilo que faz falta ser de momento, temos força onde parece que tudo falha e já nada resulta, encontramos animo para seguir em frente quando parece que não há mais caminho possível, acreditamos naquilo que é quase impensável acreditar, lutamos mesmo quando nada faz sentido, somos perfeitos e não nos damos conta dessa perfeição.
Aceitamos por amor, tudo, desde que tenhamos um raiozinho de esperança, e ele pode ser tão pequeno e ténue como um teia de aranha, uma gota de orvalho, uma simples lágrima perdida. Agarramos todas as hipóteses, seguramos cada momento, inventamos, desdobramo-nos, trocamos os tempos ao tempo, fazemos de tudo quando amamos a sério, quando alguém entrou profundamente na nossa vida e nos moldou, aninhou, acarinhou, nos deu e recebeu.
A capacidade humana de sobreviver é imensa!
Quem experimentou a dor profunda e marcante sabe que é verdade, que fosse lá pelo que fosse, acreditando, sonhando, arrastando-se inclusive, mas sobreviveu, encontrou um equilíbrio para prosseguir. Pode ser fraco, e até nem sequer ser equilíbrio e sim um refugio, um sonho, uma pequena luz ao fundo de um túnel, comprido e escuro, povoado de medos, de incertezas, de «ses e porquês», mas por essa pequena luz, por esse foco minúsculo, caminha e luta, não abre mão, não desiste. Pode seguir calado, chorando, rezando, pedindo e quantas vezes soçobrando para depois de mais uma queda se levantar e de joelhos esfolados e rasgados, sangrando e de lágrimas a escorrerem pelas faces prosseguir. Mas….Aquela força que temos e que não sabemos de onde nos vêm caminha connosco, silenciosa e amiga. Dá-nos a mão, faz-nos acreditar que os impossíveis por vezes são possíveis, lembra-nos que a esperança é a ultima a morrer e que não devemos abrir mão daquilo que na realidade queremos. Por vezes calamos e empurramos para o fundo de nós mesmos, para fazer de conta que não existe, que não pode ser, mas um dia esquecemo-nos das trancas e esse querer profundo vem ao de cima lembrar que temos um propósito na vida, que temos um sonho por cumprir e pelo qual vale a pena pegar em armas e lutar, enfrentar o mundo, carregar a adversidade e aceitar o que vier pelo caminho tudo por amor. Ele é o motor da vida e sem ele nada vale a pena.
A capacidade humana de lutar pelo que quer e acredita não tem limites!
Perfeitos, complexos e ao mesmo tempo tão simples, mas com tantos entraves que impomos a nós mesmo e que nos impõe. Barreiras, normas, sociedade, tradição, nome, posição…Tantas coisas com que nos ataviamos e para quê? Porquê?
Só temos uma vida, aqui e agora, de quem é o próximo segundo? Onde estaremos daqui a um segundo? Nos braços do Pai? No fundo de uma ravina?... Valerá a pena sacrificar o amor, a felicidade, a comunhão, a presença de alguém, o conforto da compreensão, da ajuda, por normas e barreiras? Temos de concreto o aqui e agora nada mais, temos esta vida para viver, porque a outra vida será de outra forma, sem as dores e as mágoas do humano, teremos, creio eu, só o divino como coração a bater, seremos de uma outra dimensão, de uma forma que não tem nada de humano, mas …. Até que esse dia chegue, o que temos mesmo é a vida nesta terra, as lutas, os bons e maus momentos, e a FELICIDADE ao alcance da mão."

sexta-feira, junho 27, 2008

VAZIO IMENSO

Hoje o dia esvaiu-se pela brecha do vazio,

e...Como fazia frio!

Perdeu-se na imensidão das horas vãs

olhando o vazio, qual rainha em barbacans

abandonada ao destino.

Rainha de um reino sem tino,

sem rei, sem valete e sem cor,

rainha de um vazio que a dor

habita no mais fundo da alma,

lavrando em chamas esta calma

onde apodreçe e vegeta.

É tão, mas tão Asceta!

Hoje o dia rasgou-se em Nada,

entranhou-se em cada espaço,

fez sua casa e morada

numa vida de cansaço.

quinta-feira, junho 19, 2008

ABISMO

Entre exames e muito trabalho venho de fugida, para que não pensem que me "esqueci" das lides.Beijo imenso a todos vós. Obrigada pela presença.


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A tarde caía rapidamente e o sol já quente da Primavera, nos tons laranjas vivo, punha tons de cobre nos cabelos anelados e fartos da figura algo cheia mas ainda com um toque de elegância que sobre a beira do penhasco se sentara. A breve e suave brisa do mar trazia às narinas as fragrâncias próprias das algas, e da praia, das águas salgadas e batidas que lá em baixo se agitavam. Ao seu lado a caneta e o bloco repousavam e as mãos abraçando os joelhos flectidos exibiam um pequeno anel de brilhantes no anelar esquerdo. O queixo apoiado sobre os joelhos e o olhar perdido no horizonte emprestavam um ar de doce sedução à mulher perdida em pensamentos e memórias. Parecia que queria abandonar tudo naquele fio de névoa que se elevava da linha do horizonte, desfiava um rosário de paixões e mágoas, de desejos e sonhos perdidos.
Como passara o tempo! Que fizera de si? O que tinhas agora nas mãos? Um cofre de memórias gratas mas magoadas, um vazio imenso sem sentido em que se arrastava havia anos, um trabalho que gostava de desenvolver e que a absorvia por completo, mas também aquela sensação colada à pele e à alma de deserto, a aridez de percorrer só, o caminho que deveria ter sido a dois. Tantos anos já haviam decorrido desde que a cisão se dera, desde que decidiram que cada um seguia por si o seu caminho e mesmo assim doía horrores! Não havia sido capaz de superar e o amor que entregara mantinha-se inalterado e calado bem fundo no seu coração. Os anos começavam a pesar e o encanto dos vinte passara havia muito, naquele momento, de olhos fechados, revia o rosto amado com uma nitidez que doía, quase lhe podia sentir o cheiro da pele, sentir o hálito morno, tocar…. Abriu os olhos marejados de lágrimas e deixou que um profundo soluço há muito trancado no peito subisse à garganta e tivesse voz. Aos poucos o pranto tomou conta dela, abandonou-se à vastidão da mágoa que a feria impiedosamente e sacudia como uma verde vara em dia de temporal. Todas as lágrimas acumuladas de anos caíam agora como cascata solta e revolta dos olhos castanhos profundamente tristes. Tanto tempo trancara em si, não permitira soltar aquele enorme peso de solidão e desespero! E para quê? Porquê? Ele seguira sem se virar uma única vez o caminho que traçara e ela ficara a olha-lo na distancia e acabara por virar-se também e trilhar um novo rumo. Como gostaria de o ver uma última vez!
O dia caíra completamente sem que se tivesse apercebido disso e a noite envolvia-a com o seu bafo frio e salgado. Acordou do transe em que permanecia após a descarga de choro e deu-se conta que só o céu estrelado velava lá bem em cima. Não lhe apetecia sair dali, a pele reclamava agasalho e o estômago comida, mas tinha a sensação que ganhara raízes, que se tornara pedra dura como o penedo em que se sentara, tudo em si estava embotado, desde os sentidos à capacidade mental, passando pelo físico, os seus músculos eram rocha, não mexiam. De repente o som cantante do telemóvel dentro da mala arrancou-a do ponto para onde se deixava cair, e provocou-lhe um arrepio geral. Quem se atrevia a quebrar-lhe a imobilidade? Quase podia ouvir os seus tendões e articulações a ranger, a torcer, como se um processo de fossilização iniciado houvesse sido quebrado naquele instante para voltar a perceber que o sangue girava no corpo. De má vontade esticou a mão e atendeu o intruso. Uma voz que julgou reconhecer falou do outro lado do éter. Levantou-se de um salto, impulsionada por mola invisível e agarrou com toda a alma o pequeno aparelho, bebia as palavras, sorvia a distancia, negava a dor e permitia-se sentir de novo. Aquela voz, aquele timbre que jamais esquecera, ali…Ao seu ouvido, perto? Longe? Que importava, se ao menos o ouvia de novo?!
Um passo atrás na embriagues do momento, de costas para a falésia, a agilidade já não é a mesma, e o corpo resvala para o vazio….
No ar fica um grito na noite estrelada e quente; AAAAMMMMMOOOOO-TTTTTEEEEE.

O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...