Um local tranquilo onde os raios de lua, feitos palavras, lançam feitiços e enxugam lágrimas
quarta-feira, maio 21, 2014
CONTAGEM DECRESCENTE
Tens nos olhos o clarão de uma noite de tempestade,
e nas mãos a raiva incontida do mar revolto.
Tens na alma o rugido de uma guerra sem razão,
que te rasga sem dó nem piedade.
Tens o presente perdido no passado ignoto,
e os dias passam por ti apenas de raspão.
Tens no rosto os traços ternamente amados,
onde a razão se perde e se esconde,
onde a luz da consciência ora brilha ora se apaga,
deixando tudo e todos desarmados.
Tens ainda o riso, mas mesmo que o sonde
apenas encontro uma sombra amarga.
Tens na vida os dias que arrastas sem saber,
e deixas fundos sulcos de tristeza magoada e surda.
A impotência de quem sabe vai perder,
mais esta batalha por mais que seja absurda,
por mais desesperada que seja.
Que o céu te proteja...Eu...Não posso.
(para ti)
terça-feira, maio 13, 2014
SILENCIOSA TEMPESTADE
Ruge o céu plúmbeo
de desespero. Ruge calado, sem som!
Grossas bátegas
caem dos seus mil olhos de sombrio tom.
Na terra tudo
é silencio e expectativa ao cair da chuva pesada,
e as nuvens
rolam sobre a minha cabeça sem rumo, desnorteada.
As estrelas,
envergonhadas, espreitam pelas nuvens negras,
mas não se vê
a sua luz, o seu brilho não pontilha o céu desta noite,
só esta
tempestade calada, dura, ribomba em clarões sem regras,
sem normas,
sem pejo, sem medo, sem nada. Sem espaço que me acoite.
Olho o céu
acobreado e cinza, como pássaro de morte de asas vazias,
de garras
afiadas e dilacerantes, abatendo-se sobre mim sem dó.
Enterra as
lancetas nas memórias, deixando-as esvaídas e frias,
brancas,
soltas, esquecidas transformando-se somente me pó.
Ruge o plúmbeo
céu sobre os meus passos tristes e tementes,
evolui a
tempestade entre o silêncio das minhas dúvidas fermentes.
Da angústia
sufocante como corda de enforcado apertando mais o nó.
Ruge em surda
raiva de ironia, em baixo de olhos posto no céu, eu…Só!
domingo, janeiro 05, 2014
QUEM ÉS TU QUE ME OLHA?
Quem me olha do outro lado do espelho?
Que rosto é este onde não me reconheço?
Que traços o tempo estiolou no seu destrambelho…
Quantos sulcos e marcas que desconheço.
Quem és tu desse lado que me olhas?
Mortiça a expressão perdendo o vigor,
boca vincada, olhos sem rumo nem escolhas,
vazio o meio sorriso sem frescor. Onde fiquei no passar dos anos?
Onde está o meu rosto de menina?
Quem és tu reflectida sem enganos,
que a imagem real é viperina!
Desconheço-me no espelho reflectida,
aquela mulher já não sou eu!
O tempo marcou a imagem invertida
e aquele rosto não é o meu.
Quem me olha do outro lado do espelho?
Olho, miro, busco um sinal em vão…
Aquele rosto é um vislumbre, um esgar velho
e uma vida esquecida na palma da mão.
sexta-feira, dezembro 13, 2013
SEM RAZÃO...
Há uma espécie de angústia, de tristeza que me invade
sem perceber porquê nem de onde vem.
Há uma dor sem rosto que me povoa sem alarde
e deixa este espinho que nada detém.
Não sei porque estou triste, não sei o que dói,
só sei que uma mágoa infinita me arrasta
para um abismo sem regresso, como ácido que corrói,
como punhal que dilacera, como caminho que se afasta.
Pesa a alma sem razão, chora o coração destroçado,
e este negrume que impera veste-me o corpo amordaçado.
A noite invadiu a minh’alma, vestiu-a de solidão,
de uma paz insólita e triste, vazia, oca, plácida e sem
razão.
Há uma espécie de angústia que me povoa e invade...
quarta-feira, dezembro 04, 2013
MELODIA DE INVERNO
A musica toca baixinho, como quem trina uma guitarra, como quem chora em surdina, como quem reza sussurrando. Nas vidraças a chuva cai de mansinho plena de mistérios, plena de aromas, aos meus ouvidos murmurando palavras que não entendo, sonhos que descartei, risos que já esqueci na voragem da rotina. E a musica toca embalando o espaço, este espaço que criei por entre destroços e vazios por preencher. Por entre vigorosas construções e tímidos esboços de um sonho irreal e utópico onde a ausência se escoa e há tanto para viver.
A musica escorre devagar como águas suaves de um rio, como balsamo de mágoas, como porto de abrigo. Em cada nota um novo sentido, em cada compasso uma nova espera. Fazendo esquecer todo o perigo, toda a dor que desespera. E o meu gesto repetido já gasto de tanto andar ainda encontra coragem, força e animo para não parar. A musica envolve o dia, aninha-me na solidão da sala, empresta-me a melodia, liberta um coração que não se cala, que grita no silencio voraz sem contudo soltar um som. A musica apenas me traz este etéreo e estranho dom de ser somente mulher...
sábado, novembro 16, 2013
CINDERELA

Meia-noite! As badaladas ressoam duras pela noite!
Cinderela...Foge Cinderela...O teu tempo acabou!
Corre como louca para que o tempo não açoite
a tua doce ilusão de eternidade. Corre...O espaço terminou!
Meia-noite deserta de ilusão, como é dura a realidade!
Como magoam os passos apressados pela vida,
porque o tempo se escoou pela brecha da eternidade,
sucumbiu ao poder supremo de uma quimera dividida.
Foge Cinderela, corre! Deixa o sapatinho no chão,
ele será a memória, será a marca de um sonho partilhado,
será a lembrança ternamente guardada na solidão
do dia-a-dia. Corre Cinderela que o tempo é apertado!
Larga as vestes de magia, deixa a máscara de comunhão,
veste as roupas da monotonia, calça os sapatos de solidão.
Guarda o riso e a gargalhada, mostra apenas um sorriso,
caminha pela encruzilhada, decidida como é preciso!
quarta-feira, novembro 06, 2013
NA MARGEM... À MARGEM
Na margem olhando a imensidão das águas lívidas, desertas,
como deserto e lívido está o coração estremecendo no peito,
asa perdida em céu negro de nuvens carregadas e inquietas.
Como barco encalhado no lodo de um cais abandonado sem jeito.
Somente na margem olhando o espelho gélido beijado pela lua
fria e distante, branca e arrogante, branca e sobranceira espreitando nua.
Na margem despida de mim, despida de fogo e de neve, de amor e ódio,
despida da vida e da morte. Apenas na margem perdida sem rumo,
a meus pés as águas paradas e brilhantes são o silencio feito nó górdio,
são o caminho dos caminhos, são o equilíbrio num fio de prumo.
Na margem da vida, na margem do amor, na margem do sonho... Só,
Inteiramente só, lividamente só, perdidamente só, com asas feitas de pó,
de um pó luminoso e efémero onde apenas habita o vazio descolorado
E infinito. E na margem as águas mansas repousam embalando a vida,
embalando a morte, embalando o sonho perdido e desagregado.
Sobre as prateadas águas vogam memórias, desejos e uma alma dividida.
Na margem, apenas na margem da vida...
como deserto e lívido está o coração estremecendo no peito,
asa perdida em céu negro de nuvens carregadas e inquietas.
Como barco encalhado no lodo de um cais abandonado sem jeito.
Somente na margem olhando o espelho gélido beijado pela lua
fria e distante, branca e arrogante, branca e sobranceira espreitando nua.
Na margem despida de mim, despida de fogo e de neve, de amor e ódio,
despida da vida e da morte. Apenas na margem perdida sem rumo,
a meus pés as águas paradas e brilhantes são o silencio feito nó górdio,
são o caminho dos caminhos, são o equilíbrio num fio de prumo.
Na margem da vida, na margem do amor, na margem do sonho... Só,
Inteiramente só, lividamente só, perdidamente só, com asas feitas de pó,
de um pó luminoso e efémero onde apenas habita o vazio descolorado
E infinito. E na margem as águas mansas repousam embalando a vida,
embalando a morte, embalando o sonho perdido e desagregado.
Sobre as prateadas águas vogam memórias, desejos e uma alma dividida.
Na margem, apenas na margem da vida...
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