sábado, julho 05, 2014

CARREGO UM CÉU DE INFERNO


Carrego o céu sobre os ombros e as ondas nos meus braços.
Recolho da vida os pequenos pedaços,
e a ela devolvo o que tenho e como tenho.
Por ela passo, passo-a-passo, e não me atenho.
Apenas deslizo como imponderável nuvem em céu de inverno.

É nesta vida, é nesta hora, é neste instante e neste inferno,
que finco os pés no meu inóspito rochedo,
que me penetra o frio agreste do medo,
que me assola a vastidão do desolado deserto
no aperto da ausência sem razão que ao peito aperto.

Passam os céus, os mares, passam as horas e os dias,
renascem luas, acordam sois, repicam sinos as ave-marias.
Crescem poemas, nascem canções, gritam-se hinos de emoções.
Juram-se amores, rasgam-se almas, vertem-se lágrimas nos corações,
correm os rios para um estranho mar.

Já não se sabe o verbo amar.


2 comentários:

Flor de Jasmim disse...

Profundo!
Um sentir tão triste.

Beijinho e uma flor

Nilson Barcelli disse...

O verbo amar é dos mais difíceis de conjugar...
O teu poema é excelente, querida amiga. Por variadíssimos motivos. Destaco apenas o cuidado das palavras (nenhuma aparece por acaso), numa escrita inteligente e de grande qualidade literária.
Tem um bom fim de semana.
Beijo.

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