quinta-feira, janeiro 19, 2017

O FRIO DE UM INVERNO QUE PASSA




Invade-me uma ânsia desconhecida
que corrói até ao fundo da alma,
um querer não querendo, uma ferida,
que sangra  numa mágoa calma.
O chão perde-se em espinhos agudos
e o ar, rarefeito de desencanto, suspira
por paz e harmonia: meus escudos
contra a dor que a mim se atira.
Invade-me este sentir sem sentir,
um destino sem estrada, sem chão,
este limbo de ir e não partir;
Ficar. Oca, e vegetar em vão.
Invade-me o suceder dos dias,
 o perpassar das noites escuras.
Todas as imensas memórias frias
que foram vulcões de mil juras
e nada mais são que negra escória.
Voaram as borboletas de uma luz desconhecida,
partiram as gaivotas em memória
de um tempo passado; Vida vivida.
Invade-me um pomar de orvalhos,
que chove em brandos raios de luar,
vou jogando e misturando os baralhos
das cartas que ainda tenho para jogar.
Invade-me uma desinvasão de Ser,
um Eu que já não sou, nem tenho:
passa a vida por mim a acontecer,
e eu parto…  Não me detenho.
Invade-me este vazio de invernia,
 a alma recolhe-se em sintonia.



2 comentários:

LuísM Castanheira disse...

Espero que este frio de inverno passe rapidamente, minha Amiga.
Um coração 'gelado' não palpita esperança.
Amanhã já não sentiremos as dores de hoje... e menos as de ontém.
É isso que o tempo tem de bom, o tempo esquece o seu próprio tempo.
Bom fim-de-semana num beijo.

Jaime Portela disse...

Não há inverno que sempre dure...
Excelente poema, gostei imenso.
Minha amiga, continuação de boa semana.
Beijo.

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