terça-feira, dezembro 12, 2017

SEM DESTINATÁRIO



Olá!


Esta é mais uma carta que não tem destinatário, porque não será enviada.

Sim, é para ti, que estás num mundo à parte do meu, vogas numa "bolha" que vejo passar da minha "bolha". Ah, pois! Não estranhes, para mim todos vivemos em bolhas: as nossas vidinhas, de onde não queremos sair. Pedimos a todos os santinhos que não sejamos obrigados a romper as paredes das nossas bolhinhas de conforto. Mas sim, dizia eu, são para ti estas palavras.  Um dia a curiosidade foi mais forte: cedi. Quis entrar num mundo que, sabendo não me pertencer, pensei poder franquear. Que me fosse permitido visitar, desfrutar, quem sabe; habitar. E entrei! Abriste, rectificação: entreabriste a porta e eu, sem hesitações, entrei.

Mas essa porta deu acesso a um mundo de magia, de encanto, de descoberta que me foi, seguidamente, negado. Uma espécie de “toca e foge” dos meus anos de menina. E deixou um gosto de incumprimento de uma promessa, de uma fraude da vida, de uma expectativa gorada. A culpa? Pois, essa, não há. E se houver, será, indubitavelmente, minha. Sempre minha, porque ainda espero. Sempre minha, porque ainda acredito. Sou assim, serei assim até ao meu fim.- Até prova em contrário, tudo (e todos) são verdadeiros e sãos. - Crédula? Ingénua? Talvez… sim … serei.

E hoje vejo-te, levando a tua bolha, vogando nas ondas da vida, nos ventos dos acontecimentos e nas marés das sementes que vais semeando, e nas ceifas do que já frutificou. E eu vejo-te, de longe, quando achei poder estar perto. E eu vejo-te, com um peso no coração, e uma lágrima na alma. Mas, apenas e só, porque me iludo, porque espero, porque creio ser possível não viver somente na minha bolha. A vida faz sentido se as nossas paredes não forem estanques, se soubermos rasga-las e deixar que “outras bolhas” toquem, penetrem, se fundam nas nossas. Depois, quando a vida me confronta com a realidade; dura, crua e desapiedada, dói. Uma dor de desalento e de sementes que não vingaram. De esperança pequenina defraudada. Uma dor estranha pela estranheza do que não foi vivido, apenas idealizado, sonhado, esperado.

Mente humana de tamanhos mistérios.
Ainda bem que esta carta não tem destinatário! Irias dizer que sou louca. Mas, sabes? Não sou. Sou apenas uma alma aberta, uma alma que acredita no Bem, que mantém aquela candura de menina, ainda que a vida tenha sovado, bem sovada, a massa de que sou feita. Não, não sou louca. Apenas um coração que bate e que, por muito que seja maltratado, continua a bater. A bombear esperança e sonho nos passos deste caminho.

Sigo, com esta estranheza na alma, esta sensação de ficar à porta, mas sigo. Sabes? Tenho uma “bolha” para levar por diante. Desejo que sejas feliz na tua pequena-grande bolha, que a vida te sorria e dê tudo o que desejas e anseias.  Desejo que os teus sonhos se concretizem, os teu projectos avancem. Mas, acima de tudo, desejo-te o “suficiente de tudo”.

Não entendes?  Pois… acredito. Mas desejo-te o melhor.



Até sempre


Lágrimas de lua

4 comentários:

LuísM Castanheira disse...

O que eu penso, minha cara Amiga:

Ninguém é uma ilha, muito menos uma "bolha". Estamos todos interligados uns aos outros.
E quando "a borboleta bate as asas, nos antípodas", algo mexe do outro lado do mundo.
Acredito nas energias que emitimos e recebemos.
Daí, a sua carta, sentida mas "sem destinatário", mesmo "não sendo enviada", deve chegar a alguém.
Esse alguém há-de sentir... nem que seja, um suave bem-estar, numa aragem, ou num raio de sol (ou numa gota de chuva - tão desejada por todos nós).
Gostei muito deste "desabafo/desejo.
E, "cuidado" como que se deseja...rsss.
Uma boa semana, ("com um brilhozinho nos olhos", como diz o Sérgio Godinho.)

PS. Sonhar é um dom que não se deve desperdiçar.

" R y k @ r d o " disse...

Desabafo/mensagem silenciosa, grito de dor...quiçá desgosto de amor. Qual o adulto que nunca se desiludiu com alguém quando se fala em Amor? Haverá alguém?
.
Escrevendo versos ( Poema Livre)
O GRITO DO SILÊNCIO DOS AFLITOS.
.
Que a luz da Paz, ilumine o seu coração
Bom dia/Boa tarde/boa noite.
.

saudade disse...

Quando damos o melhor de nós e ficamos desiludidos...
quantas cartas sem destino passam pela nossa cabeça...
Beijo de...
Saudade

Jaime Portela disse...

Há coisas que nunca dependem apenas de nós...
O texto é belíssimo. E acho que vai ser copiado e usado por muita gente que se revê nas tuas palavras.
Continuação de boa semana, querida amiga.
Beijo.

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