sexta-feira, abril 20, 2018

PAREDES ESBURACADAS

Apesar das paredes, o frio arreganha-se no corpo,
apesar das janelas, a noite embrenha-se nos olhos,
apesar do querer, o vazio instala-se sem escolhos,
como caminho de verdes silêncios e ocres madrugadas.
Apesar dos botões, as flores mantêm-se enrugadas
no limbo da vida, que se encontra suspensa, em espera.
Apesar do nascente sol, a lua renasce, como rainha: impera.
Apesar dos passos, das mãos, do desejo, a vida corre,
respira suavemente, como quem sonha, como quem morre,
como quem passa, como quem fica, como quem parte
deixando um rasto de estrelares memórias. Meu baluarte
de guerreiras sombras, onde me entrincheiro; guerreira-amante,
mendiga, descalça nas pedras de um cais obsidiante,
de onde partem navios sem mastro. Botes sem leme,
sonhos sem fundo, onde o salgueiro treme
nas vagas de vento, soltas em brados, em euforia.
Apesar das paredes, o frio entranha-se em correria.
Amortalha o corpo, enfeitiça a alma, veste o coração.
Apesar das paredes: a "casa" permanece em esburacada desilusão.



Lágrimas de lua

Imagem da net

5 comentários:

Luna disse...

tudo tem o seu tempo, e um dia as ilusões vão novamente chegar, os sonhos se apoderarem da mente e com espírito de renascimento os buracos serão tapados, a cor brilhará nas paredes da alma, pois nada acaba tudo se transmuta.
beijinhos

Kasioles disse...

¡Bello poema te han inspirado las paredes resquebrajadas de esa casa!
Los recuerdos fluyen y las letras surgen tomando forma de bonitos versos.
Ha sido un placer leerte.
Cariños.
kasioles

LuísM Castanheira disse...

por um estranho acaso, ou talvez não, cliquei no seu link, exposto numa sua última visita, e fui parar à página última, ou seja, a primeira publicada em 30.dez.2006.
pus-me a ler, ou que ainda nem sequer adivinhava ser um "trás p'ra frente", tudo seguido, sem fim à vista, nas páginas abertas.

eis que deparo com um estilo que lhe desconhecia, amiga: a prosa.

li os post's Ecos do Passado, Viagem de Cheiros e, em especial, Crisálida.

fiquei muito impressionado e agradavelmente surpreendido com a qualidade aí vertida.

dos Ecos do Passado retenho a "lição de vida" inerente.

isto para dizer que a vida vale a pena ser vivida, seja qual for o caminho que ela nos traça.

bom fim-de-semana, amiga
e um beijo.

© Fanny Costa disse...

A vida é feita de (des)ilusões, por vezes sorrimos, outras vezes as lágrimas caem e deixam-nos feridas na alma... é assim que é a vida: um eterno recomeço e tantas lições aprendidas!

Aproveito para divulgar o meu novo blogue que vesti de verde, a cor das florestas por onde gosto de me "perder e encantar".

https://sentidosdealquimia.blogspot.pt/

Um beijinho

Fanny Costa

Jaime Portela disse...

Não há paredes que tapem certas coisas da vida...
Excelente poema, parabéns pelo talento.
Continuação de boa semana, querida amiga.
Beijo.

O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...