terça-feira, agosto 19, 2014

MUSGOS DO TEMPO




Há sombras roxas no olhar de quem espera,
e há cordas que amarram o coração dorido.
Há memórias contidas que o tempo desespera,
e vazios loucos nos sentimentos feridos.

Há estrelas que se apagam no céu nocturno
vestido de negro e macio veludo.
Há sonhos que fenecem neste tom taciturno
que nada altera, apenas se mantém mudo.

Há uma estátua de sal crestada pela ausência
que nada mais faz que estimular a dormência
dos dias que passam sem tom nem vida.
Há uma luz ténue que já não é dividida,
e que teima em agitar as dobras do esquecimento,
como se fosse um sussurrado lamento.

Há muros cobertos de musgo verde,
que rego com lágrimas de salgada dor.
Há névoas esvoaçantes onde o olhar se perde
como se quisesse recobrar a cor.

Há lamentos suspensos, calados,
nos lábios secos de beijos por trocar.
Há passos morrendo em caminhos cansados
de todas as dores, de todas as mágoas a torturar.

3 comentários:

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Um poema cheio de dor, mas muito belo e que tocou a minha alma...Tanto.
Obrigada pela visita carinhosa, tinha saudades.

Um beijinho com carinho
Sonhadora

Unknown disse...

Todos estes "haveres" denunciando passagens no tempo, formando ciclos numa realidade que marca a ausência de uma forma doída, e presentificando dores e saudades quase sem nelas tocar... Belos versos num delicado poema!
Nos sorrisos e estrelas, meu carinho.
Helena
(http://helena.blogs.sapo.pt)

Zélia Chamusca disse...

Não me lembro de ter lido um poema, como "Musgos do Tempo" em que a sensibilidade e arte poéticas sobressaem de forma invulgar, tão pouco comum nos poetas de hoje. Minhas felicitações a Luar Perdido, que tive a felicidade de encontrar!
ZCH

O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...