Quem me olha do outro lado do espelho?
Que rosto é este onde não me reconheço?
Que traços o tempo estiolou no seu destrambelho…
Quantos sulcos e marcas que desconheço.
Quem és tu desse lado que me olhas?
Mortiça a expressão perdendo o vigor,
boca vincada, olhos sem rumo nem escolhas,
vazio o meio sorriso sem frescor. Onde fiquei no passar dos anos?
Onde está o meu rosto de menina?
Quem és tu reflectida sem enganos,
que a imagem real é viperina!
Desconheço-me no espelho reflectida,
aquela mulher já não sou eu!
O tempo marcou a imagem invertida
e aquele rosto não é o meu.
Quem me olha do outro lado do espelho?
Olho, miro, busco um sinal em vão…
Aquele rosto é um vislumbre, um esgar velho
e uma vida esquecida na palma da mão.