Vi nascer o sol por entre as nuvens,
levantei-me com as madrugadas de vento
e sacudi a poeira de tempo.
Escancarei as janelas do lamento
deixei voar as tempestades.
Ouvi a aurora que se levanta
e vi o despertar de novos sentidos,
espreitei um ninho onde a vida canta,
tomei nas mãos o renascer.
Traguei o dia num cálice de barro,
comi o pão que mãos saudosas cozeram.
Atei os sonhos na asa de um cagarro;
larguei-o ao vento - voa! Voa bem alto.
Fechei os olhos e senti o mar,
toquei as algas, beijei os nautilus,
trotei em cavalos marinhos de encantar.
Abri as asas, de gaivota anquilosada; e voei!
Voei com um hino na voz e vida no olhar.
O mundo é um lugar estranho onde habito
e desabito. Onde me perco e volta a encontrar,
onde a maresia traz poemas para além do mar.
E o nascer deste sol encasulou a força de querer,
vestiu de arco-íris a dança das palavras: deu-lhes cor,
pintou uma tela de sonhos a crescer.
Hoje o sol nasceu verde; nasceu rosado e azul,
nasceu de um paleta de pintor louco, poeta maior,
e elevou-se- enorme - rubro, do tamanho da eternidade,
ajoelhada e rezada, em silencio, no altar-mor
da orada da vida.
Vi nascer o sol por entre as nuvens,
e o dia, simplesmente: aconteceu.
lágrimas de lua