Sou a sombra que permanece na estrada
alongada de passos feitos, e por cumprir.
Sou a poeira que encobre a vida passada,
e a brisa que escreve o futuro sentir.
Sou a sombra que passa e a sombra que fica,
moldura intemporal de um único caminho,
e sou pergaminho que o tempo certifica,
anciã memória em partilhado escaninho.
Sou a sombra da sombra que o tempo arrasta,
e a poalha fina que o orvalho empoa.
Fantasma efémero, que o sol engasta
em anel de fogo. Ou em afoita proa
de encanecida caravela cortando o mar,
rasgando o caminho, trilhando história.
Sou a sombra que resta d’uma canção de embalar,
sou a sombra esfumada de uma ave migratória.
Lágrimas de lua