Entre exames e muito trabalho venho de fugida, para que não pensem que me "esqueci" das lides.Beijo imenso a todos vós. Obrigada pela presença.
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A tarde caía rapidamente e o sol já quente da Primavera, nos tons laranjas vivo, punha tons de cobre nos cabelos anelados e fartos da figura algo cheia mas ainda com um toque de elegância que sobre a beira do penhasco se sentara. A breve e suave brisa do mar trazia às narinas as fragrâncias próprias das algas, e da praia, das águas salgadas e batidas que lá em baixo se agitavam. Ao seu lado a caneta e o bloco repousavam e as mãos abraçando os joelhos flectidos exibiam um pequeno anel de brilhantes no anelar esquerdo. O queixo apoiado sobre os joelhos e o olhar perdido no horizonte emprestavam um ar de doce sedução à mulher perdida em pensamentos e memórias. Parecia que queria abandonar tudo naquele fio de névoa que se elevava da linha do horizonte, desfiava um rosário de paixões e mágoas, de desejos e sonhos perdidos.
Como passara o tempo! Que fizera de si? O que tinhas agora nas mãos? Um cofre de memórias gratas mas magoadas, um vazio imenso sem sentido em que se arrastava havia anos, um trabalho que gostava de desenvolver e que a absorvia por completo, mas também aquela sensação colada à pele e à alma de deserto, a aridez de percorrer só, o caminho que deveria ter sido a dois. Tantos anos já haviam decorrido desde que a cisão se dera, desde que decidiram que cada um seguia por si o seu caminho e mesmo assim doía horrores! Não havia sido capaz de superar e o amor que entregara mantinha-se inalterado e calado bem fundo no seu coração. Os anos começavam a pesar e o encanto dos vinte passara havia muito, naquele momento, de olhos fechados, revia o rosto amado com uma nitidez que doía, quase lhe podia sentir o cheiro da pele, sentir o hálito morno, tocar…. Abriu os olhos marejados de lágrimas e deixou que um profundo soluço há muito trancado no peito subisse à garganta e tivesse voz. Aos poucos o pranto tomou conta dela, abandonou-se à vastidão da mágoa que a feria impiedosamente e sacudia como uma verde vara em dia de temporal. Todas as lágrimas acumuladas de anos caíam agora como cascata solta e revolta dos olhos castanhos profundamente tristes. Tanto tempo trancara em si, não permitira soltar aquele enorme peso de solidão e desespero! E para quê? Porquê? Ele seguira sem se virar uma única vez o caminho que traçara e ela ficara a olha-lo na distancia e acabara por virar-se também e trilhar um novo rumo. Como gostaria de o ver uma última vez!
O dia caíra completamente sem que se tivesse apercebido disso e a noite envolvia-a com o seu bafo frio e salgado. Acordou do transe em que permanecia após a descarga de choro e deu-se conta que só o céu estrelado velava lá bem em cima. Não lhe apetecia sair dali, a pele reclamava agasalho e o estômago comida, mas tinha a sensação que ganhara raízes, que se tornara pedra dura como o penedo em que se sentara, tudo em si estava embotado, desde os sentidos à capacidade mental, passando pelo físico, os seus músculos eram rocha, não mexiam. De repente o som cantante do telemóvel dentro da mala arrancou-a do ponto para onde se deixava cair, e provocou-lhe um arrepio geral. Quem se atrevia a quebrar-lhe a imobilidade? Quase podia ouvir os seus tendões e articulações a ranger, a torcer, como se um processo de fossilização iniciado houvesse sido quebrado naquele instante para voltar a perceber que o sangue girava no corpo. De má vontade esticou a mão e atendeu o intruso. Uma voz que julgou reconhecer falou do outro lado do éter. Levantou-se de um salto, impulsionada por mola invisível e agarrou com toda a alma o pequeno aparelho, bebia as palavras, sorvia a distancia, negava a dor e permitia-se sentir de novo. Aquela voz, aquele timbre que jamais esquecera, ali…Ao seu ouvido, perto? Longe? Que importava, se ao menos o ouvia de novo?!
Um passo atrás na embriagues do momento, de costas para a falésia, a agilidade já não é a mesma, e o corpo resvala para o vazio….
No ar fica um grito na noite estrelada e quente; AAAAMMMMMOOOOO-TTTTTEEEEE.
Como passara o tempo! Que fizera de si? O que tinhas agora nas mãos? Um cofre de memórias gratas mas magoadas, um vazio imenso sem sentido em que se arrastava havia anos, um trabalho que gostava de desenvolver e que a absorvia por completo, mas também aquela sensação colada à pele e à alma de deserto, a aridez de percorrer só, o caminho que deveria ter sido a dois. Tantos anos já haviam decorrido desde que a cisão se dera, desde que decidiram que cada um seguia por si o seu caminho e mesmo assim doía horrores! Não havia sido capaz de superar e o amor que entregara mantinha-se inalterado e calado bem fundo no seu coração. Os anos começavam a pesar e o encanto dos vinte passara havia muito, naquele momento, de olhos fechados, revia o rosto amado com uma nitidez que doía, quase lhe podia sentir o cheiro da pele, sentir o hálito morno, tocar…. Abriu os olhos marejados de lágrimas e deixou que um profundo soluço há muito trancado no peito subisse à garganta e tivesse voz. Aos poucos o pranto tomou conta dela, abandonou-se à vastidão da mágoa que a feria impiedosamente e sacudia como uma verde vara em dia de temporal. Todas as lágrimas acumuladas de anos caíam agora como cascata solta e revolta dos olhos castanhos profundamente tristes. Tanto tempo trancara em si, não permitira soltar aquele enorme peso de solidão e desespero! E para quê? Porquê? Ele seguira sem se virar uma única vez o caminho que traçara e ela ficara a olha-lo na distancia e acabara por virar-se também e trilhar um novo rumo. Como gostaria de o ver uma última vez!
O dia caíra completamente sem que se tivesse apercebido disso e a noite envolvia-a com o seu bafo frio e salgado. Acordou do transe em que permanecia após a descarga de choro e deu-se conta que só o céu estrelado velava lá bem em cima. Não lhe apetecia sair dali, a pele reclamava agasalho e o estômago comida, mas tinha a sensação que ganhara raízes, que se tornara pedra dura como o penedo em que se sentara, tudo em si estava embotado, desde os sentidos à capacidade mental, passando pelo físico, os seus músculos eram rocha, não mexiam. De repente o som cantante do telemóvel dentro da mala arrancou-a do ponto para onde se deixava cair, e provocou-lhe um arrepio geral. Quem se atrevia a quebrar-lhe a imobilidade? Quase podia ouvir os seus tendões e articulações a ranger, a torcer, como se um processo de fossilização iniciado houvesse sido quebrado naquele instante para voltar a perceber que o sangue girava no corpo. De má vontade esticou a mão e atendeu o intruso. Uma voz que julgou reconhecer falou do outro lado do éter. Levantou-se de um salto, impulsionada por mola invisível e agarrou com toda a alma o pequeno aparelho, bebia as palavras, sorvia a distancia, negava a dor e permitia-se sentir de novo. Aquela voz, aquele timbre que jamais esquecera, ali…Ao seu ouvido, perto? Longe? Que importava, se ao menos o ouvia de novo?!
Um passo atrás na embriagues do momento, de costas para a falésia, a agilidade já não é a mesma, e o corpo resvala para o vazio….
No ar fica um grito na noite estrelada e quente; AAAAMMMMMOOOOO-TTTTTEEEEE.
5 comentários:
Há certos momentos da vida, em que nós nos interrogamos bastante.Neste teu lindo texto, está representado uma bela reflexão, que muitos seres humanos já experimentaram, e é de louvar quando termina tudo bem, como demonstras nesta passagem pelo grito final.
É doloroso quando alguém pensa "abandonar o barco"e remete para outros a dificuldade de chegar a bom porto. Contudo no seio de todas as dificuldades tem-se o céu e todos o que a ele pertence, que nos valha, para nos servir.
Parabéns
Beijinho
Força para todo esse trabalho e sucesso nos exames
Olá
Lamento ter perdido o dia mais longo do ano, aqui enfiada em casa, a trabalhar...
sem companhia, para onde eu iria?
É triste.
O que eu tenho para oferecer é uma visita virtual aos glaciares, se estiveres interessada, vem comigo.
Ou então, uma sugestão bem mais perto: que tal uma visita à Rota das Tabernas?
Huuummmmm, que cheirinho a jaquinzinhos fritos.
Bom domingo.
Abracinhos.
Lindo, e com sentimento que baste, amiguinha. Adorei.
"Amizade verdadeira é
difícil de encontrar,
díficil de largar e,
impossível de esquecer"
Uma otima semana
Bjinho amigo
Mario Rodrigues
Em espaço de partilha:
http://toquedeestrela.blogspot.com
http://sensualidadeemletras.blogspot.com
Vim deixar-te um beijinho. Mas como vim de fugida, voltarei para ler a tua história. Um beijo
Depois de um período de colocação de ideias e palavras em dia, estou de volta às visitas regulares. Ficam aqui palavras e um convite. Voltarei.
Beijos e abraços para passarem um fim-de-semana na companhia da família ou da sua própria.
***
Quem passa por mim
não vê
que homem aqui chegou,
só viu matéria por fora
por dentro nem se lembrou.
Só quero ser, por ora,
um homem que sabe amar,
solitário na solidão
sem inspirar comiseração.
Não me afundarei
em qualquer rio revoltoso.
Nenhuma onda ou túnel
escurecerão a minha vontade.
Sou eu, inteiro e sem ódios
que o meu coração não guarda.
Serei amanhã o que for
com os amigos em meu redor.
**
Se quiser passar um fim-de-semana com letras, leia a:
H¡S†Ö®¡Ä ÐÄ MËN¡NÄ †®¡S†Ë
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