Chegaste devagar como quem semeia a Primavera,
entornaste as tintas de um arco-íris de recomeço
com sabor a vida passada e cheiro de desconhecido.
Chegaste como quem nem tinha partido, nem se desvanecera
no grito de um silencio rouco, que rasga o peito que ofereço
à dor da mágoa: ao medo da perda e do caminho esquecido.
Chegaste: como se o mundo não houvesse, e a vida se apagasse,
como vela soprada por infantil alegria, ou por senil
desapego.
Chegaste: nada mudou, tudo se perpetua como parafuso sem
fim.
Mas eu quero-te! Com a alma e com a razão de quem guardasse
o maior tesouro na sombra do olhar, amante, amado. Eterno
desassossego.
Chegaste sem chegar, porque não estás. Porque partes e te afastas de mim.
Chegaste devagar como quem semeia o Inverno,
escreveste a letra de um hino fúnebre, nos muros de um
coração magoado,
chegaste pintando um prometido inferno.
Parte sem demora: sem olhares para trás, eu vou vestir-me de sonho esfarrapado.
Chegaste - devagar - a semear utopia. Vai - rápido - para
esquecer a cobardia.
lágrimas de lua