Chegaste devagar como quem semeia a Primavera,
entornaste as tintas de um arco-íris de recomeço
com sabor a vida passada e cheiro de desconhecido.
Chegaste como quem nem tinha partido, nem se desvanecera
no grito de um silencio rouco, que rasga o peito que ofereço
à dor da mágoa: ao medo da perda e do caminho esquecido.
Chegaste: como se o mundo não houvesse, e a vida se apagasse,
como vela soprada por infantil alegria, ou por senil
desapego.
Chegaste: nada mudou, tudo se perpetua como parafuso sem
fim.
Mas eu quero-te! Com a alma e com a razão de quem guardasse
o maior tesouro na sombra do olhar, amante, amado. Eterno
desassossego.
Chegaste sem chegar, porque não estás. Porque partes e te afastas de mim.
Chegaste devagar como quem semeia o Inverno,
escreveste a letra de um hino fúnebre, nos muros de um
coração magoado,
chegaste pintando um prometido inferno.
Parte sem demora: sem olhares para trás, eu vou vestir-me de sonho esfarrapado.
Chegaste - devagar - a semear utopia. Vai - rápido - para
esquecer a cobardia.
lágrimas de lua
5 comentários:
Um poema de amor/desamor
Belo, mas com dor
Amarras que a vida cria
Ou sentimentos que não se queria.
Dividi o seu poema, Amiga, em três partes.
Penso ter incorporado o seu pensamento nesta pequena quadra.
Um beijo, lágrimasdeluar.
Um poema onde o desassossego parece ser a nota dominante, mas onde a inquietação e a contradição do amor assumem um papel relevante na narrativa poética tão bem delineada.
Excelente, querida amiga, gostei imenso.
Tem um bom fim de semana.
Beijo.
A vida é cheia de chegadas e partidas, mas existem as partidas mesmo ante de chegar, e o coração que sangra sem sangras
bjs
Bom fim de semana, querida amiga.
Beijo.
Há quem parte sem se importar se o mundo permaneceu no lugar, se a vida não se apagou, e retorna enfeitado de Primavera, banhado nas cores do arco-íris, e se acomoda no lugar de antes, como se uma partida não tivesse acontecido trazendo o “grito de um silencio rouco” que rasgou o peito na dor profunda de uma mágoa...
Há quem parte assim, desprovido de sensibilidade e volta “devagar como quem semeia o Inverno”, sem ao menos trazer vestes novas para um sonho...
Minha linda amiga Luar, um poema forte, impactante, como são todos aqueles em que o olhar se veste de tristeza e fica a contemplar uma estação onde um comboio aceita levar e trazer quem chega sem bagagem definida... Um poema com a marca da tua sensibilidade!
Meu anjo, estou pensando em encerrar meu espaço, pois o tempo tem sido ingrato em não me permitir visitar com assiduidade os amigos blogueiros. Estou em falta com muitos deles, pois uma nova atribuição veio juntar-se às minhas atividades, uma nova casa de recuperação de jovens dependentes químicos. As casas de assistência das crianças e dos idosos, apesar de serem bem olhadas por funcionários competentes, treinados e dedicados, merecem de mim visitas constantes, não apenas para providencias que só a mim estão afetas, como também por ser um lugar onde me refugio, buscando nas crianças um lenitivo onde a alegria de vida delas contagie a minha criança interior, por vezes tão carente quanto o adulto que em mim habita. Dos meus idosos vem aquele olhar resignado que por vezes tanto preciso para olhar o passado e não me deixar sugar por ele. E dos meus bebês, tu sabes, nascem aqueles momentos transcendentais quando os recebo entre as mãos e os vejo sadios, lindos, no seu primeiro choro a mostrar ao mundo que estão chegando para enfeitá-lo de fraternidade, amor e bondade. E agora, com esta casa de recuperação de jovens, vem a esperança de tentar resgatá-los para uma nova vida.
Enfim, minha amiga, é desta forma que estou superando as perdas, preenchendo o tempo para que os momentos sofridos se afastem aos poucos e deixem o lugar apenas para as lembranças bonitas.
De qualquer forma, ainda estou pensando em como agir, mas procurarei estar sempre por aqui, apreciando as tuas postagens e trazendo meu carinho para ti.
Um beijo aconchegado entre as pétalas de lindas rosas coloridas, enfeitadas de sorrisos e estrelas, em todas as horas e todos os dias da tua vida.
Leninha
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