sexta-feira, maio 04, 2018

MAREANDO TODAS AS MARÉS


Pisa o chão aguado como quem beija as nuvens,
nos olhos leva agulhas de esperança calada
presas nos cílios, vibrantes como borboletas.
Percorre as ruas, como mensageira alada
de “boas novas” obsoletas.
Serena, como anjo sem sexo nem idade,
leva no coração um navio, na alma o sonho,
nas mãos leva a Cruz de Cristo; farol na escuridão.
Vestida de espumas e algas, no tempo enfadonho
de quem não tem tempo, nem rumo, apenas a imensidão
de um caminho a percorrer, de um prazo a cumprir.

Pisa o chão como quem ama por dentro,
como quem doa tudo o que tem, tudo o que é.
Olha a vida como se dela fosse o húmus, o centro.
E caminha no caos com carta de marear toda a maré.
É um ser sem rei nem roque, sem norte nem sul,
é mulher, criança, amante?
É o que começa e termina, dia e noite, ir e vir,
estar e partir. Maga? Bruxa? Cartomante?
Ou apenas nebulosa perdida em tormenta de sentir?
Pisa o chão como quem beija a vida,
Vive a vida como quem beija o chão que a acolhe,
Segue, glauca, sem casa de partida,
Sem meta, sem tempo, sem bote e sem molhe.

Pisa o chão como que pisa a vida… de partida.

Lágrimas de lua


Imagem da net

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