Sou o que as tintas do pintor pintaram
numa tela inacabada de tempo sem tempo.
Pintura que amarelece no pó intemporal
de um imponderável caminho sem volta.
Sou o que os olhos das crianças sonharam,
pelo caminho de pedras negras, em contratempo.
Sou o milhafre que no céu paira, imperial,
e sou o que não sou, sem mágoa nem revolta.
Vogo numa brisa suave de Verão serôdio e manso
onde habitam borboletas e risos distantes,
maçãs rubras e algodão doce puxado do céu.
Vogo nas asas de um golfinho pigarço de amor.
Olho o mundo do alto de uma fraga e danço
no fio de uma navalha, romba, de esperas agonizantes.
Escrevo nas involuções de um virginal véu,
que mãos calosas bordaram com ardor.
Sou o que não sei e o que sei. Sou, apenas sendo,
e vou onde não sei ir, nem de onde sei voltar,
porque o caminho perde a estrada, perde o norte
e perde o esteio.
Pé ante pé, vou; andando sempre e nada tendo,
e dou o que sou e não sou, porque dando, sei estar.
Amalgama de retortas linhas, de vazios plenos, sem sorte,
sem coragem nem receio.
Apenas sou… o que as tintas de um pintor esboçaram
Lágrimas de lua
2 comentários:
Apenas somos um esboço incompleto..... Lindíssimo... Palavras que nos fazem pensar...
Beijo de...
Saudade.
Mas o esboço mostra-nos a obra prima... que és...
Li e reli o teu poema. E não tenho dúvidas que é mesmo um excelente poema.
Parabéns pelo talento que tens para as letras.
Continuação de boa semana, minha amiga.
Beijo.
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