Olho a bruma que da noite se desprende
como esfumado sonho, sem tempo nem hora,
deixo perder o olhar na sonata que acende
as memórias de saudoso futuro, que demora.
Mergulho na sustenida neblina odorosa,
permito que os seus dedos me devassem a alma,
me percorram o corpo em viagem silenciosa.
Entrego a vida na sua inebriante e fosca calma.
E, de olhos vendados, caminho segurando o Nada,
carregando o Tudo, como se o mundo tombasse,
como se tivesse asas, dotes de adivinhação traçada
na palma da minha mão. Como se enfeitiçasse
esta eterna vida de árida e nua caminhada.
Entro, bruma a dentro, para um mundo só meu,
onde desabrocha uma nova alma desnudada,
onde enfrento o meu primordial EU.
Lágrimas de lua