De pés nus e alma errante
abandonei-me ao destino,
perdi-me nas ondas do levante
transformei-me em orvalho fino.
Caí do céu, molhei a terra,
lavei as mágoas, enchi ribeiros,
afundei-me nas entranhas da serra,
escorri distante pelos carreiros.
Fui lama, fui cinza, fui sal,
fui vento agreste ao por do dia,
fui todo o bem e todo o mal,
fui o carrasco e quem sofria.
Parti num dia de nevoeiro
sem deixar rasto ou sombra,
apenas um leve cheiro
de musgo, Outono e poesia.