Num mar sem rumo ou maré,
águas vivas imprecisas e soltas,
ora se caminha ora se perde o pé,
ora são mansas ora revoltas.
Silencioso barco de névoa solitária
e brumas por velas cinzentas,
onde o timoneiro é uma alma pária
de mágoas duras e pardacentas
que navega sem destino ou rumo.
Olhos glaucos, ou nuvens de fumo,
mãos crispadas no leme inerte,
vazio, eterno, à espera que desperte
ao som estrepitoso de uma vaga,
ao pio estridente da gaivota solitária,
tão solitária como a negra fraga
que no horizonte se ergue. Calcária
de tão fria, basáltica de tão negra.
Num mar sem rumo, calenda grega,
que de eterna tem a condenação
escrita e assinada a esmerilado carvão.
E de olhos perdidos na liquida imensidão
vai o timoneiro louco, alma desnuda
num grito calado de dor e solidão,
que o coração cala e o mar não muda.