Apetece-me andar devagar,
sem pressa, sem meta, somente andar
ao ritmo do calor que impera,
que amolece e desespera.
Apetece-me andar devagar
ao ondular lento das searas,
ao ritmo dolente das cigarras
e tão somente vaguear,
entre as espigas prenhes e claras
que me prendem como amarras,
sem contudo me embaraçar.
Apetece-me andar devagar,
sem pensar na vida e na dor,
como a borboleta poisar
em cada pequena flor,
sorver o néctar e voar
lentamente sem prisões,
sem memórias, sem sentidos.
Apetece-me andar devagar,
esquecer as desilusões
das promessas e desmentidos,
ser folha perdida no vento
somente deixar-me vogar
nas ondas do pensamento
longe deste lugar.
Apetece-me andar devagar....