Aproximava-se a
passos largos o dia do seu aniversário. Todos os que sabiam a data estavam
entusiasmados e a querer celebrar com ela de uma forma ou de outra. A todos
respondia o que sentia bem lá no fundo de si - É um dia como outro qualquer,
não há nada que festejar! Ou então por essa ordem de ideias todos os dias
deveriam ser de celebração porque estamos vivos.
Sabia que com os
seus mais chegados tinha que ceder e estar com eles e fazer alguma coisa de diferente
para marcar o dia, mas o que mais lhe apetecia era desaparecer por 24h que
fosse, mas desaparecer! Não queria ver nem estar com ninguém. Ou que a
deixassem viver o dia como normalmente, sem mais nada. O que tinha de tão
especial o dia do aniversário? Não era um dia normal de trabalho? Não tinha que
se levantar, vestir, comer, andar…Fazer tudo o que era normal?! Então para que
tanto barulho com o dia? Ela até gostava de fazer festa para as outras pessoas,
que ligavam e davam importância ao dia de anos. Mas por favor, com ela não!
Ah se lhe fosse
possível com um estalar de dedos ficar invisível durante aquele dia! Ou se não
acordasse durante esse dia e não tivesse que agradecer os telefonemas e os
votos de muitos parabéns, muitas felicidades e anos de vida, e blablabla, bla
bla bla, blablabla! Porque não a deixavam viver o seu dia como ela queria
intimamente? Já que era o seu dia…Então não a forçassem a nada. Deixassem-na
quieta e calada no seu canto. Era só mais dia, que podia passar a arrastar sem
mais compromissos, sem ter que ser outra que não ela. Ao menos que naquele dia
não tivesse que mascarar o seu sentir!
E o dia chegou.
Acordou cedo depois de uma noite pouco dormida e mal descansada. Havia muitos
anos atrás por aquelas horas a sua mãe contava as horas para que ela viesse ao
mundo. Para a mãe acreditava era um dia de felicidade imensa – fora mãe, tinha
nos braços o fruto de um amor que duraria a vida inteira. Mas para ela … Era
mesmo um dia mais que ontem e outro menos que amanhã. Suspirando levantou-se e
foi arranjar-se para dar início ao “seu dia de anos”. Interiormente ia
martelando os neurónios com a frase – É só um dia, são só uns telefonemas, são
só provas de amizade. Agradece teres amigos e quem goste de ti e vive o mais
calma e tranquilamente estas 24h. Daqui a nada é noite, e já está!
Arranjada e
pronta olhou para o ecrã do telemóvel sobre a mesa-de-cabeceira e estranhou não
ver os flashes de entrada de mensagens e mails como era hábito. Mas não deu importância
e preparou-se para sair de casa. Uma vez na rua o ar matinal pareceu-lhe
diferente, mais perfumado, mais vibrante e com cores mais vivas. Olhou em volta
para tentar perceber o motivo da diferença. Não tinha chovido, o asfalto estava
seco, as árvores sacudiam meigamente os seus cabelos verdes e amarelados
balançando devagar e sussurrando uma melodia adocicada que a envolvia. Que
manhã linda! E como se sentia calma e quase feliz! Algo a forçou olhar para o
alto, para um céu azul sem mácula onde o sol já ia pondo tons avermelhados e
dourados. Parecia o tecto de uma catedral pintado por mãos hábeis e sábias. Era
uma aurora como havia muito tempo não presenciava. As vozes das pessoas que com
ela se cruzavam soavam amortecidas, veladas por uma campânula que não via, mas
de certa forma, sentia. Encaminhou-se para o carro com um sentimento novo a
preenche-la; Continuava a não querer celebrar este dia como sendo o do seu
aniversário! Isso não mudara! Mas pelo menos estava calma e serena, pronta a,
como sempre, aceitar e responder com a mansidão de que era feita aos votos que
em breve iam começar a chover no seu telemóvel.
1 comentário:
Eu também não gosto de festejar os meus aniversários.
Mas suporto...
Minha querida amiga, tenha um bom resto de semana.
Abraço.
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