Olho o
céu nesta manhã de Outono para um nascer do sol rubro, vigoroso e fabulosamente
lindo, através das nuvens que a época vai trazendo. No horizonte, tingido de
vermelhos e laranjas de amarelos e alilasados, sinto a tua presença.
Espreitas-me do meio das nuvens. Desse teu novo lar onde a dor e a tristeza já
não existem. Onde a paz, a luz e a segurança são a realidade do teu dia-a-dia.
Onde vives um tempo já sem tempo, simplesmente porque atingiste a eternidade. Deixaste
na terra o teu involucro físico, como lagarta que se metamorfoseou em borboleta,
para te elevares transparente e sem peso a uma esfera silenciosa e calma. Uma esfera
que eu acredito existe e para onde vão todas as almas. Para nos verem e nos
sussurrarem as suas palavras inaudíveis, para não nos desempararem e velarem
sempre por nós que ainda caminhamos na terra. “Sinto-te” velado pela nuvem que
te esconde dos meus olhos, mas “sei” que estás do outro lado e sonho o teu
sorriso, meio tímido como sempre te conheci. Sei o frio das tuas mãos que tal
como as minhas, só aquecem se estamos doentes. Sei a tua presença que me dói
não ter deste lado da nuvem. Fazes-me falta, papá, sabes isso não sabes? Neste
capitulo eu ainda sou menina, sinto-me pequena e frágil sem o teu apoio e
presença. Tenho que decidir sem ouvir a tua opinião, sem saber o que pensas, o
que achas melhor. Mas “sinto-te” a olhar para mim desse teu lado, só não te
consigo ouvir e no entanto sei que falas comigo. Mas sabes… as nuvens são
paredes grossas, compactas, não deixam passar o som, nem a imagem. Gostava de
enterrar a cabeça na nuvem só para espreitar para o teu lado e ver que estás
bem. Que os teus achaques, dores que jamais disseste e dificuldades que eram visíveis
mas que calavas e desvalorizavas o mais que podias, agora não te martirizam e
estás de facto em paz e vives realmente na luz. Eu sei que sim, sinto que sim,
mas… O ver para crer como S. Tomé não me larga…
As
nuvens mudaram de cor porque o sol subiu no céu matinal e fresco deste Outono
em que já não estás comigo e quase diria que vislumbrei uma fugaz imagem do teu
rosto a espreitar. Sabes que eu não consigo atingir as nuvens, por isso
espreitaste tu!
Um beijo
deste lado da nuvem que é a barreira entre nós.
1 comentário:
Minha querida fico sem palavras perante tamanha tristeza.
Um abraço bem forte. sente-o.
Adélia
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