terça-feira, março 01, 2016

UMA MENTIRA











Tirei o vestido de seda, descalcei os sapatos de baile,
deixei os cabelos soltos nos ombros, lavei o rosto.
Vesti-me de nuvens e sombras, embrulhei-me no xaile
de negra noite. Tomei de um trago o vinho e o mosto
de uma vida de mentira.

Encetei nova caminhada na encruzilhada da tristeza.
Levo os pés nus de sonhos e as mãos abertas, vazias.
Cravado em mim levo o punhal da cobardia e a certeza
de nada valer, nada mais ser que imagens sombrias
numa vida de mentira.

Não me importa o sol, o vento e a chuva, ou mais um temporal!
Não me importa o que encontre porque a noite me acompanha,
é o meu vestido de luto e o meu véu intemporal.
É só mais uma estrada, um caminho que sigo como uma estranha
depois de uma vida de mentira.

Deixei o meu vestido de seda perdido no tempo passado,
vestindo-me de desilusão. Deixei os sapatos de baile abandonados
num salão frio de crueldade. Sigo de pés nus e rosto calado.
Sigo de olhos velados de lilás e negro e lábios secos, descorados
dos beijos trocados numa vida de mentira.

3 comentários:

Unknown disse...

Amiga querida, relendo alguns dos teus poemas fiquei a procurar algum que me falasse de sonhos realizados, de amores construídos, de uma vida plena de alegria, alguma coisa que me dissesse que um dia os teus dedos já haviam tecido palavras para compor versos onde sobressaísse somente as coisas boas e realizadas de uma vida.
Deparei-me com um poema cheio de indagações, tais como:
“Onde ficam a verdade e a mentira?
Onde ficam o amor e o ódio?
Onde ficam os sonhos e os desejos?
Onde ficam as angustias e as certezas?
Onde fica a alegria do amor?
Onde fica a dor de um adeus?
Onde fica o esquecimento?”
E tu mesma continuou nestas procuras e mesmo dando algumas respostas ao longo dos outros poemas que escreveste, havia sempre um toque de tristeza, de dor, nas suas próprias respostas que faziam nascer mais indagações.
Entristeci-me ao constatar que não havia nenhum poema teu, pelo menos dos muitos que pude ler quando o tempo se me apresentou com uma extensão maior, que me trouxesse a tua esperança, a tua alegria, ou um modo mais otimista que pudesses ter feito de uma leitura da vida.
Parece que criaste o blog simplesmente com a intenção de fazer uma catarse dos males que te afligiram, e ao longo do tempo vens desfiando um rosário de mágoas tantas que mesmo quando começas um poema de versos tão poéticos e tão bonitos como estes: “Tirei o vestido de seda, descalcei os sapatos de baile, deixei os cabelos soltos nos ombros, lavei o rosto. Vesti-me de nuvens...” logo a seguir vem um desfile de desilusão, desalento, e quando penso que vais nos trazer imagens belas de um final de noite que te deu prazer, que te trouxe esperança, encontro-me novamente frente a versos desesperançados espalhando dissabores e ressentimentos. E se tornam mais tristes ainda quando escreves: “ a certeza de nada valer, nada mais ser que imagens sombrias numa vida de mentir”, o que nos dá a idéia de que a falta de novas perspectivas em sua vida estão te corroendo as forças. E dói mais ainda quando lemos estes versos: “Não me importa o sol, o vento e a chuva, ou mais um temporal!” e misturas a beleza de um sol (que poderia ser aquecedor) o vento e a chuva (que ensejam um renascer) com um temporal que sabemos trazer somente coisas nefastas.
Dói muito te ouvir dizer que não importa o que vais encontrar porque a noite é tua companheira e o teu vestido de luto e o véu intemporal.
E finalizas dizendo que é apenas mais uma estrada, um caminho que segues com uma estranha depois de uma vida de mentiras.
Continua...

Unknown disse...

Ah, menina linda, por que não vejo por aqui um poema de versos a enaltecer o amor, a vida, e prodigalizar esperanças, multiplicar sonhos e vivências?
Fiquei a imaginar se toda esta desesperança de vida, se toda a tristeza com que vestes a tua poesia, seria apenas fruto da tua criação poética ou uma experiência que tanto te afetou que ainda hoje, tempos depois, te faz camuflar nos versos uma dor que não acaba, uma tristeza que não finda.
Desculpa, meu anjo, ter feito um passeio por postagens anteriores e ter feito um pré-julgamento baseada apenas na amargura da tua poesia. Leva em conta da amizade que de mim conquistaste e da admiração que tenho por teus poemas tão vigorosos, fortes, porém muito doídos, carregados de uma dor que por vezes ultrapassa a leitura e vem se alojar em mim, muitos deles como se eu mesma tivesse escrito...
Houve um tempo, minha amiga, em que só sabia expor no meu blog coisas tristes, arrasada que eu estava com tudo de ruim que havia me acontecido. Fiz do meu espaço um lugar de desabafo, um lugar onde a catarse se fazia em forma de poesia, como se, ao colocar em versos a dor sentida, ela pudesse de alguma forma ir embora. O pior, meu anjo, é que a gente sabe que não vai, pois existem dores que se alojam de tal forma dentro da gente que o melhor que temos a fazer, para não ficar sofrendo indefinidamente, é colocar um objetivo maior à frente das desilusões. Também comecei a valorizar aquilo que tinha e a camuflar o sofrimento do que acabara de perder. Não sei qual a dor que te aflige, o que causou em ti tanta desesperança de viver, mas seja o que for, minha amiga, deve existir alguma coisa que te dê prazer em realizar... Não tens?
Mas se todo este meu discurso for desnecessário, se estiveres apenas trazendo para o teu espaço uma criação literária, apenas cenas da vida criadas por tua fértil imaginação, eu ficarei feliz e te darei os parabéns por tua verve poética ser tão fecunda.
Se puder... diga apenas um sim ou um não para as minhas indagações, ok? E passarei a ver a tua poesia com outros olhos.
Meu carinho num punhado de sorrisos que deixei aqui, atados no brilho de mimosas estrelas,
Helena

lua prateada disse...

Quão triste uma vida de mentira onde tudo nada é....
Adorei voltar a ler.te a visitar-te...e...
com meus pés nus também caminho pelo caminho frio da vida...
Abracito lá da minha lua...
Cidália

O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...