Quero ver o
avesso de mim. Aquela face com bolor e pó,
aquele “in”
que não se vê, mas está cá – sou EU.
Quero virar
a pele, a carne e os ossos, virar-me: só.
E abraçar,
com braços de alma, o que vejo e vida me deu.
Quero limpar
este “sótão” de alma sofrida: deixar o sol entrar,
permitir-me
seguir, ir, absorver, acordar, viver o hoje – apenas estar.
Quero ver o
avesso da alma. Da minha, desta etérea senhora que me habita,
desta desajeitada
sombra que me segue os passos, me segue a vida.
Virar do
avesso e sacudir a dor, o vazio, o abandono, este estar proscrita
de sentimentos,
condenada pelo coração amante: viver assim, banida.
Quero deixar
entrar o sol, o vento, a Primavera – em pleno –, em cheio,
redonda,
vibrante, quero apenas, e só, vogar em suave devaneio.
Quero ver o
avesso de mim, da minha alma empoeirada,
do meu
coração engelhado, dos meus passos encolhidos,
pobres e ensombrados.
Quero abrir a janela emperrada
e deixar
entrar a vida: é hora de liberar todos os “proibidos”
e “sentidos
únicos”, “estradas sem saída”; é hora de serenidade,
aceitação,
de olhar erguido, alma renovada; de enterrar a saudade.
A vida não
espera,
a morte não
tarda,
as horas não
param: avessar a alma é urgente.
lágrimas de lua
1 comentário:
Uma espécie de procura da pureza e, por via disso, da liberdade.
Porque nem sempre somos o que queremos ser, já que quase tudo à nossa volta nos contamina.
Um poema excelente, como é teu hábito. Gostei imenso.
Bom fim de semana, minha amiga.
Beijo.
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