imagem tirada da net |
Alma dobrada em dois, coração partido em quatro,
boneca de porcelana mas mãos de uma criança
e janelas abertas ao sol poente mordendo de esperança.
Um mar que se quebra ao longe na penedia rude,
arrastando as lembranças de uma vida passada,
de sonhos ardentemente sonhados. Folha amassada
perdida num canto escuro da mente, para não doer,
para não ferir; apenas esquecida de tempos sem tempo.
Melodia furiosamente martelada a meio-tempo,
semi-breves e colcheias bailando em louca alucinação,
acordes de outras vidas que flutuam num limbo sem cor,
que se acomodam em leito de folhas secas de dor.
Alma dobrada em dois, coração partido em quatro,
andorinha sem Primavera olhando o mar sem fim,
esperando que passe o infinito com asas de alvo marfim,
tolhendo o voo e a partida. Andorinha solitária
em cais de ansiadas chegadas e dolorosas idas.
Lenços brancos de acenadas despedidas,
olhos cansados de lágrimas frias de solidão.
Como é frio este ar de salgado azul e duro bem-querer!
Como pesam os grilhões de uma alma a morrer!
Ecoam melodias gastas de tanto correr o piano,
e as memórias fluem como pássaros sem céu nem terra,
sem ninho nem descendência. O sol, a seara e a serra
passam, com o rodopiar dos dias, na sua muda harmonia,
nas sua radiosa cantata; ópera de mil cantores,
mil palcos, mil cenários e mil cores.
Alma dobrada em dois, coração partido em quatro,
pés descalços em pesado chão de chumbo,
mãos vazias onde me esqueço e sucumbo,
olhar sem pleno nem vago; apenas um só olhar.
Apenas um bálsamo, apenas uma fonte de saudade,
apenas um só vislumbre, uma tosca oportunidade.
Menina que vês o mar de barcos sem velas nem mastro;
olhas, olhando sem ver, choras chorando sem chorar,
cala as lágrimas, o soluço; levanta-te... Tens um mundo por caminhar
lágrimas de lua