O dia amanheceu entre o cinzento e o rosado, a noite foi de chuva forte e o ar, ainda escuro, tinha um cheiro a lavado que dava gosto inspirar profundamente. Saí bastante cedo de casa, por ter um compromisso em Lisboa, pelas 8h e pouco e a viagem de transportes publico sempre demora algum tempo. Convém aqui explicar que levar carro para Lisboa, só mesmo em ultimo caso, sou apologista dos transportes, e se for o comboio então melhor ainda.
A manhã estava fresca mas tão pura, tão “desencardida” que retardei o passo para melhor saborear o prazer do olfacto que a primeira brisa me despertou. Cheirava a terra molhada, e a húmus, aquele cheiro tão característico, para quem conhece, do solo pronto a dar os primeiros cogumelos. Um leve odor a pinheiro e a eucalipto davam-se as mãos e o adocicado perfume das madressilvas misturava-se com as roseiras que tardiamente ainda abrem os seus botões. Ao passar por uma corda de roupa acabada de estender chegou ao meu nariz o cheirinho da minha infância das roupas molhadas e lavadas com sabão, e em mim ficaram a ecoar as memórias de menina e dos estendais de minha casa, onde, para desespero da avó, eu me embrulhava nas peças estendidas acabando por suja-las ou deixa-las encardidas.
Continuei o meu caminho para a estação da CP, e novos perfumes me espicaçaram o olfacto, identifiquei a grande magnólia que ainda abre alguns dos seus enormes botões deixando o doce aroma tão próprio desta flor, e o das folhas caídas e amarelecidas, molhadas e sujas de terra, o cheiro do musgo nas paredes velhas com tantas histórias para contar, onde não resisto a passar a mão ao de leve, e sentir a humidade verde que dele se desprende; Lembrei-me do Natal, que já não tarda, e de como forrava o tampo da grande mesa de mogno com musgo e me entretinha a colocar as figuras fazendo-as seguir um imaginário caminho de Belém…Era tão pequena então!
A manhã estava fresca mas tão pura, tão “desencardida” que retardei o passo para melhor saborear o prazer do olfacto que a primeira brisa me despertou. Cheirava a terra molhada, e a húmus, aquele cheiro tão característico, para quem conhece, do solo pronto a dar os primeiros cogumelos. Um leve odor a pinheiro e a eucalipto davam-se as mãos e o adocicado perfume das madressilvas misturava-se com as roseiras que tardiamente ainda abrem os seus botões. Ao passar por uma corda de roupa acabada de estender chegou ao meu nariz o cheirinho da minha infância das roupas molhadas e lavadas com sabão, e em mim ficaram a ecoar as memórias de menina e dos estendais de minha casa, onde, para desespero da avó, eu me embrulhava nas peças estendidas acabando por suja-las ou deixa-las encardidas.
Continuei o meu caminho para a estação da CP, e novos perfumes me espicaçaram o olfacto, identifiquei a grande magnólia que ainda abre alguns dos seus enormes botões deixando o doce aroma tão próprio desta flor, e o das folhas caídas e amarelecidas, molhadas e sujas de terra, o cheiro do musgo nas paredes velhas com tantas histórias para contar, onde não resisto a passar a mão ao de leve, e sentir a humidade verde que dele se desprende; Lembrei-me do Natal, que já não tarda, e de como forrava o tampo da grande mesa de mogno com musgo e me entretinha a colocar as figuras fazendo-as seguir um imaginário caminho de Belém…Era tão pequena então!
De repente quase sem dar muito por isso, encontrei-me na estação, e os odores mudaram, tornaram-se mais “urbanos”, mais intensos e também menos agradáveis diga-se, o cheiro do comboio acabado de entrar na estação e ainda quente, o ferodo do sistema de travagem, o da lixívia que alguém passava na calçada à entrada do café e claro, lá me arrancou um espirro de alergia. Entrei no comboio e sentei-me mas o meu nariz parecia bem desperto esta manhã, e o lugar que escolhi perto de uma janela, tinha um cheiro horrível a comida estragada, mudei rapidamente e o cheiro abrandou, na estação seguinte começou o verdadeiro festival de perfumes!
Ao meu lado sentou-se primeiro uma senhora com um intenso perfume daqueles que nos fazem dores de cabeça e também de algibeira, muito bem arranjada e senhora de si, saiu três estações adiante para dar lugar a um jovem de after shave fresco e verde de phones nos ouvidos e alheado do mundo. Neste meio termo sucediam-se em catadupa os odores, o suor que não se explica, as roupas usadas e não lavadas que me abstenho de comentar, os perfumes caros, mas nem sempre agradáveis, as águas de colónia juvenis ou mais pesadas, o delicioso perfume dos bebés que seria uma bênção podermos manter ad eternum, e o, perdoem-me, odioso cheiro de tabaco retardado que se desprende de tantos cabelos e bocas, essas que foram feitas para beijar e serem beijadas.
Num caleidoscópio imenso de aromas decorreu a viagem e mal dei pelas estações que se sucediam ao ritmo normalmente lento e algo enfadonho para quem as conhece de trás para a frente, guardado na mala ficou o livro que nem teve direito a ver a luz do dia, já que espicaçado que foi o nariz, dei primazia a este orgãozinho apurado, deliciando-me com a nova experiência de uma simples e corriqueira viagem de comboio.
É bem verdade que há sempre um mundo novo e desconhecido que nos aguarda
Ao meu lado sentou-se primeiro uma senhora com um intenso perfume daqueles que nos fazem dores de cabeça e também de algibeira, muito bem arranjada e senhora de si, saiu três estações adiante para dar lugar a um jovem de after shave fresco e verde de phones nos ouvidos e alheado do mundo. Neste meio termo sucediam-se em catadupa os odores, o suor que não se explica, as roupas usadas e não lavadas que me abstenho de comentar, os perfumes caros, mas nem sempre agradáveis, as águas de colónia juvenis ou mais pesadas, o delicioso perfume dos bebés que seria uma bênção podermos manter ad eternum, e o, perdoem-me, odioso cheiro de tabaco retardado que se desprende de tantos cabelos e bocas, essas que foram feitas para beijar e serem beijadas.
Num caleidoscópio imenso de aromas decorreu a viagem e mal dei pelas estações que se sucediam ao ritmo normalmente lento e algo enfadonho para quem as conhece de trás para a frente, guardado na mala ficou o livro que nem teve direito a ver a luz do dia, já que espicaçado que foi o nariz, dei primazia a este orgãozinho apurado, deliciando-me com a nova experiência de uma simples e corriqueira viagem de comboio.
É bem verdade que há sempre um mundo novo e desconhecido que nos aguarda
4 comentários:
Um texto muito bonito e muito bem escrito. Fizeste-me recuar no tempo e recordar as minhas viagens de comboio que durante anos fiz diáriamente, a partir dos 11 anos.
A monotonia dessas viagens pode perfeitamente ser quebrada se estivermos atentos ao que nos rodeia. Se soubermos obeservar com atenção essas viagens podem ser divertidas e interessantes e podem dar o rigem a textos excelentes como este. Obrigado também pela espectacular "paleta" de cheiros e de cores que nos descreveste. Um beijinho
Luar...foi muito bom vir ler-te hoje! Adorei os teus odores e a mistura de sentires, e o retorno à infância. Por vezes há dias assim. Dias em que nos apetece apenas ficar dispertos, e onde os sentidos, tomam toda a prioridade na forma como olhamos o nosso Mundo. Hoje, com tempo...tinha que te vir ler, porque a tua escrita, me apraz muito!
Beijos mansinhos, e abracinhos apertadinhos! :)
Vim desejar-te um bom dia, e uma boa semana. Um beijinho
Linda esta tua forma de tornar uma viagem chata em algo apetecivel... concoro que se olharmos atentamente para tuo o que nos rodeia tiraremos muito mais proveito de certas viagens que se fazem... e eu sou mais aepta do carro... massssss sempre atenta ao que me rodeia.... sou muito curiosa.
beijos doces meu luarzito perdido.
Enviar um comentário