domingo, fevereiro 28, 2010

NATUREZA


A natureza recolheu-se nas profundezas

de cada ser, fechou os olhos cansados,

poisou as mãos tristes e guardou as asprezas

dos dias vãos, desiludidos e esgotados,

num rito de agonia silenciosa e fria.

O céu encobriu-se, como que por magia,

e a chuva ondulante, crepitante e pura

caiu...Caiu...Caiu...Noite e dia, noite e dia.

A natureza chora na melancolia dura

de um rosto sem tempo de cor sombria

e olhos cegos de solidão.

Onde está a tua mão?

Onde está o teu olhar, o teu rosto?

Onde estás para que a natureza viva?

quando voltas a acender o teu gosto,

a deixar que a esperança reviva?

A natureza permanece muda, calada

sem cor e sem animo. Resguardada

numa redoma de vidro fosco, encerrada

em cada ser distante e alheado.

A natureza está tolhida e amarrada

a um cais velho e amargurado.

Quando voltas para soltar amarras?

sábado, fevereiro 20, 2010

RASGANDO A ARIDEZ


Mãos abertas, mãos estendidas,

mãos indefesas e desertas

como o olhar perdido na imensidão

do mar em ondas rendidas,

em luas rasgadas e incertas.

Mãos desejosas sofrendo na solidão

do abraço que tarda, do beijo sonhado,

eternamente adiado.

Mãos que se fecham, mãos que choram

como órfãos no desconsolo da noite,

no desvario do escuro e duro vazio.

Mãos que se abrem e imploram

o toque breve, afago que se afoite

a quebrar as amarras e este frio

que se instala de manso e tudo consome;

O calor, o amor, a vida...tudo se some

nas mãos vazias, duras e frias,

somente abertas.

sábado, fevereiro 06, 2010

UMA FORMA...SOMENTE

Não ter peso, não ter limites,

não ter fronteiras nem barreiras,

ser uma forma, somente uma forma,

vogar no espaço amplo e aberto.

Esquecer o "posso?" e o "permites?"

Ser como as nuvens passageiras,

ser só uma forma, sem que a norma

seja a humana, seja este imenso deserto

em que enterro os pés doridos.

Os sentimentos calados, sofridos.

Não ter peso, não ter fronteiras,

não ser um Ser pensante e vivente,

apenas forma ao sabor do vento,

farrapos de chuvas tão ligeiras,

farrapos de um sonho ainda punjente

ecoando manso como um lamento.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

ETERNIDADE NUM MOMENTO...


A eternidade num momento,

um momento de eternidade.

Dar importância a como se vive

e não ao que se vive.

Saber guardar o triste lamento

num breve olhar de claridade,

sabendo que o que já tive

só porque quero, sobrevive.

Saber olhar a vida nos olhos

e os olhos da vida saber olhar,

perceber que apesar dos escolhos

talvez ainda valha a pena lutar.

Erguer de novo o cansaço

de inglórios passos vividos,

esquecer este oco espaço

e todos os momentos sofridos.

A eternidade num momento,

ou um momento de eternidade?

O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...