A natureza recolheu-se nas profundezas
de cada ser, fechou os olhos cansados,
poisou as mãos tristes e guardou as asprezas
dos dias vãos, desiludidos e esgotados,
num rito de agonia silenciosa e fria.
O céu encobriu-se, como que por magia,
e a chuva ondulante, crepitante e pura
caiu...Caiu...Caiu...Noite e dia, noite e dia.
A natureza chora na melancolia dura
de um rosto sem tempo de cor sombria
e olhos cegos de solidão.
Onde está a tua mão?
Onde está o teu olhar, o teu rosto?
Onde estás para que a natureza viva?
quando voltas a acender o teu gosto,
a deixar que a esperança reviva?
A natureza permanece muda, calada
sem cor e sem animo. Resguardada
numa redoma de vidro fosco, encerrada
em cada ser distante e alheado.
A natureza está tolhida e amarrada
a um cais velho e amargurado.
Quando voltas para soltar amarras?