Adormeço nos braços
do mar, cobrem-me o corpo as gaivotas
com penas de
duro penar. Nos cabelos, verdes algas, escondem-se ilhas ignotas.
A lua veio
embalar um sono de sonhos profundos,
e espalha
docemente no ar, pó de estrelas, visões de novos mundos.
Adormeço nos
lençóis da fantasia, como se menina ainda fosse,
como se a vida
não houvesse traído os sonhos, amordaçado o coração,
quebrado as
asas de uma andorinha perdida da Primavera precoce.
Embalado o coração
dorido e a alma exangue, sigo no silêncio de uma oração
que da voz do
mar se eleva. Sigo na concha de um nautilus aventureiro,
vou á deriva da
maré. Vou á bolina do poema, vou como arrojado arpoeiro
que na proa se
ergue sem medo. Vou como anjo ou demónio, pétala lançada ao vento.
Adormeço nos
braços do mar, esqueço a vida, a dor, o pranto. Esqueço o desalento.
Apenas vou rumo
ao infinito; borboleta de mil cores que das mãos do sonho se eleva.