Quando há um mar que é maior que a vida, e a vida é um grão de areia:
perdido na bruma de um querer não querendo.
Quando um navio abandona um cais de partida,
sem rumo, sem leme, sem sonhos – apenas morrendo.
Apenas partindo na despedida.
Quando os olhos se perdem no
horizonte sem fim: acreditando que
não há impossíveis, lutando contra a névoa salgada da dura verdade. Quando as mãos se abrem vazias de mim: querendo um rumo, que nunca o foi, e só impera a saudade – áspero espadachim.
Quando, na tormenta dos dias, as
noites são clarões de memórias, e o
coração arde, doendo, magoando, batendo em desordem.
E o corpo cede em preces laudatórias.
E a vida segue – correndo, girando – e os dias passam, e os anos mordem. As lutas por paz ainda são inglórias.
Quando um mar é maior que a vida, e as ondas – noutro mar – recordam
uma partida. Os olhos perdem-se em
adensado azul, bravio, doloroso; A um
tempo amado e saudoso. E quando um
mar é maior que o mundo inteiro, morto na despedida.
De nada valem nem o mar, nem as ondas, nem a vida – que sigo de fugida.
Quando um mar tiver o dom da vida: quando o céu tiver o dom do oblívio, quando o sonho tiver o poder do
querer…Então o meu vestido será de
névoa sentida. A minha grinalda de dourado
alívio, o meu sorriso de um novo amanhecer.
Há um mar, de profundo azul, onde habita o sonho,
onde se esconde o medo, e troa o vazio.Há um mar que leva as memórias, que na areia deponho,
são pedaços de vida que um dia ruiu.
Há um mar, de vestido verde, que me embala a alma,
que me acolhe a dor, que aceita as lágrimas, salgadas de amor.
Há um mar, de cinzentas vestes, que me embala na calma
de cada onda mansa: de cada requebro da sua própria dor.
Há um mar, eterno e profundo mar, onde se esconde o querer,
onde permanece o sonho, onde a esperança habita.
Haverá, sempre, um mar para me lembrar que viver
é também sorrir, é também sonhar; Alma que ressuscita.
lágrimas de lua