Acordei em ilha de sonho;
de brumas e sabor a
sal,
de verdes e azuis enfeitada,
a lava e solidão pespontada.
Entreguei alma e coração
em acordes de estranha melodia;
fundi-me com a terra e o mar,
dedilhei o verbo amar,
ganhei asas de borboleta
e corpo de água sem fundo.
Fui orvalho odoroso,
e fui sonho fervoroso.
Fui pomba de paz e perdão;
alma de gaivota sem rumo,
sem pátria, sem asas, sem lar.
Abri portas de par em par,
e deambulei em estranha ilha
onde o sol brilha de
noite,
a lua sorri de dia:
estrelas vagueiam à porfia.
Vesti-me de lendas e sonhos,
premonições e segredos,
entrancei os cabelos com brumas,
com algas e medos, com plumas,
e flores de perfumado Folhado.
Um deus de sacrílego feitiço
aprisionou a minh’alma,
povoou-a de hortências; com calma
enleou-a em estrofes e heras.
Calcei sapatinhos de musgo,
perdi-me em cais de adeus magoado.
Rezei um Pai-Nosso, desesperado
de saudades e de esperas.
Acordei em cama de rosmaninho,
com sonhos de alfazema e infinito,
brandi o punhal de sagrado rito,
bebi o cálice do fel da terra:
afoguei o coração desfeito
numa lagoa sem memória.
Dos fracos, dizem, não reza a História.
Acordei em ilha de sonho,
de brumosa maresia,
que me veste o corpo e alma
com pomos de poesia….
lágrimas de lua