segunda-feira, maio 29, 2017

BRUMAS E SABOR A SAL....


Acordei em ilha de sonho;
 de brumas e sabor a sal,
de verdes e azuis enfeitada,
a lava e solidão pespontada.
Entreguei alma e coração
em acordes de estranha melodia;
fundi-me com a terra e o mar,
dedilhei o verbo amar,
ganhei asas de borboleta
e corpo de água sem fundo.
Fui orvalho odoroso,
e fui sonho fervoroso.
Fui pomba de paz e perdão;
alma de gaivota sem rumo,
sem pátria, sem asas, sem lar.
Abri portas de par em par,
e deambulei em estranha ilha
 onde o sol brilha de noite,
a lua sorri de dia:
estrelas vagueiam à porfia.
Vesti-me de lendas e sonhos,
premonições e segredos,
entrancei os cabelos com brumas,
com algas e medos, com plumas,
e flores de perfumado Folhado.
Um deus de sacrílego feitiço
aprisionou a minh’alma,
povoou-a de hortências; com calma
enleou-a em estrofes e heras.
Calcei sapatinhos de musgo,
perdi-me em cais de adeus magoado.
Rezei um Pai-Nosso, desesperado
de saudades e de esperas.
Acordei em cama de rosmaninho,
com sonhos de alfazema e infinito,
brandi o punhal de sagrado rito,
bebi o cálice do fel da terra:
afoguei o coração desfeito
numa lagoa sem memória.
Dos fracos, dizem, não reza a História.
Acordei em ilha de sonho,
de brumosa maresia,
que me veste o corpo e alma

com pomos de poesia….




lágrimas de lua

ESFUMADO CORAÇÃO




Pedi as asas a um anjo: ele permitiu que as usasse.
Dei-as ao meu coração para que crescesse e voasse.
E ele, simplesmente, voou.

Pedi o olhar, puro, de uma criança: ela deu-mo com ternura.
Dei-o ao meu coração para que visse o mundo com candura,
e ele viu e se encantou.

Quis ter um coração de carne, amante, bom, sem mácula,
e dei-lhe o que de melhor havia em mim; dei-lhe forma e cor,
dei-lhe luz, dei-lhe o sentir, dei-lhe força e entrega sem limites.
Não esperava que o enchessem de dor, de cinzas e mágoa.
Acreditei que ele viveria, apenas e só, de e por amor.
Hoje, coração, ainda bates, ainda sonhas, mas mal existes.

Pedi as asas e os olhos: pedi uma utopia aos céus,
ingénua menina! Eterna sonhadora – pecados meus.
Crédulo um coração que não conhece a ira.

Para quê amar sem barreiras, sem limites: totalmente?
Por quê perder por amor quando se quer permanecer, somente?
Arde coração! Esfuma-te, dissolve-te nessa dura pira

da indiferença e do silêncio.

imagem retirada da net


lágrimas de lua

quinta-feira, maio 25, 2017

NOVA HORA, NOVA ESTRADA





É hora de virar a página, de escrever outras letras,
compor uma nova melodia. É hora de recomeço.
É hora de sacudir o pó dos pés, e o sonho que adormeço
embalado num coração desfeito.
É hora de olhar mais à frente, de querer o mais além,
de ter um novo sonho, talvez louco, talvez perfeito,
quem sabe apenas um sonho de ainda ser alguém.
É hora de virar a página, de escrever outras letras,
de ouvir uma nova canção, de dançar uma polca viva.




É hora de me enfeitar com asas de fada, e uma grinalda festiva,
de apagar os negros traços.
É hora de viver as novas horas, de inventar novos minutos
onde se perde o pé, e o coração, em amplos e brilhantes espaços.
Rasgar novos horizontes sem ter que pagar mais tributos.
É hora de virar a página, de escrever outras letras,
de mergulhar em novos mares, afoitar novas marés.
De limpar mágoas e dores, de esquecer cada revés.
É hora de virar a página… Não! É hora de fechar este livro,

e abrir uma janela de luz.


lágrimas de lua


sexta-feira, maio 19, 2017

UM ESPINHO CRAVADO




Porque são tão complicados os corações, pai?
Porque são tão duros os sentimentos mais doces?
Fazer o caminho com um espinho cravado que não sai,
é um travo amargo demais. Sem um gesto que esboce
a mais leve sensibilidade,
a mais simples humanidade.

Diz-me, pai, porque é tão dura a vida? Porquê?
Seguir em frente amordaçando o coração no peito,
calando, sufocando um mundo rico que não se vê.
Apenas para que se cumpra uma "ordem", um preceito.
Uma intransigência, 
uma incongruência.

Porque são tão complicados os corações, pai?
Não sei, minha filha, talvez por serem humanos - de carne.... 






lágrimas de lua

sexta-feira, maio 05, 2017

SE O AMOR NOS DEFINE....




É o amor que nos define, doendo e sofrido;
o amor dado e o amor recebido.
Não é a fama, não é o dinheiro, nem a posse;
é o amor que nos define, mesmo se for precoce,
mesmo se for serôdio, mesmo que por metade.
É o amor que nos define: um amor sem idade,
sem barreiras – amor por amor -, sem mais nada,
sem porquês e sem senãos. Amor na partida e na chegada.
É o amor que nos define, magoado e distorcido:
o amor dado e o amor recebido.
Porque não percebes que o amor comanda a vida?
Essa vida que um dia te vai cobrar a sua divida.

É o amor que nos define: o amor dado, o amor recebido.



(partindo de uma frase - é o amor que nos define)


lágrimas de lua

AVESSO DE ALMA



Quero ver o avesso de mim. Aquela face com bolor e pó,
aquele “in” que não se vê, mas está cá – sou EU.
Quero virar a pele, a carne e os ossos, virar-me: só.
E abraçar, com braços de alma, o que vejo e vida me deu.
Quero limpar este “sótão” de alma sofrida: deixar o sol entrar,
permitir-me seguir, ir, absorver, acordar, viver o hoje – apenas estar.

Quero ver o avesso da alma. Da minha, desta etérea senhora que me habita,
desta desajeitada sombra que me segue os passos, me segue a vida.
Virar do avesso e sacudir a dor, o vazio, o abandono, este estar proscrita
de sentimentos, condenada pelo coração amante: viver assim, banida.
Quero deixar entrar o sol, o vento, a Primavera – em pleno –, em cheio,
redonda, vibrante, quero apenas, e só, vogar em suave devaneio.

Quero ver o avesso de mim, da minha alma empoeirada,
do meu coração engelhado, dos meus passos encolhidos,
pobres e ensombrados. Quero abrir a janela emperrada
e deixar entrar a vida: é hora de liberar todos os “proibidos”
e “sentidos únicos”, “estradas sem saída”; é hora de serenidade,
aceitação, de olhar erguido, alma renovada; de enterrar a saudade.


A vida não espera,

a morte não tarda,

as horas não param: avessar a alma é urgente.

lágrimas de lua




O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...