No veludo negro do celestial manto
escuto as notas de um piano sofrido,
percorro as memórias dedilhando, em pranto,
esta inquinada melodia de um coração partido.
Visto-me de brumas e sonhos – parto sem rumo –
pelas pedras de uma calçada que desconheço,
perdendo-me numa noite em que me esfumo
como suspiro de borboleta breve, e amanheço
num barco sem leme, ancorado em cais de partida
á espera de uma maré; á espera de uma vida.
E o piano toca, chora e geme em louco pranto,
e a noite cala-se para lhe ouvir a dor.
Palmilhando a calçada vai a alma num quebranto,
vai a vida deslizando, vai serena e já sem cor.
No cais das vidas perdidas uma sereia soluça,
traz nas mãos salgadas pérolas, rosário de muitas lutas.
E o barco faz-se ao mar, onde se agita e embuça,
rangendo as madeiras doridas, gastas de tantas escutas.
Toca o piano pela noite, em tom plangente,
e a alma cala-se, recolhida e dormente.
No veludo negro do celestial manto… ainda oiço as notas do
piano
lágrimas de lua
2 comentários:
Até ouvi o piano tocando
E a maré, a maré, a maré...
Bommmm
abraço
Lola
Olá, minha querida amiga!
Embora a poesia, que costuma escrever não seja muito risonha, feliz, esta está ainda mais pesarosa, dolorida, pungente e até o veludo é negro. talvez, isto se deva à partida de uma "rosa branca num dia negro", sim, talvez!
O mar, os barcos, os elementos marítimos, quase sempre, preenchem as suas palavras e dão dimensão ao que tão bem escreve.
Ah, essa alma, esse eu-lírico tão sofrido e recolhido! Um dia, a bonança chegará.
Beijos e um mega abraço. Boa semana.
Enviar um comentário