Descobri que me acorrentei ao que inventei, de pés nus e
alma em fogo, de coração puro e crédulo.
Descobri que, cada nota desta música, que me compõe os passos,
é uma estagnada melodia. Mar incrédulo.
Descobri que amo sem saber porquê, nem a quem. Que me embalo
numa teia de palavras e água.
Descobri que quero sem saber o quê, ou sabendo; sem poder
saber. Ou querendo, apenas mergulho na mágoa.
Descobri que os meus olhos vêem além do mar, o coração sente
além do sentimento; e acreditei.
E esperei de alma sem barreiras, e deixei todas as defesas
no chão, permiti que entrasses; e aguardei.
E acalentei, de novo, a esperança, enamorei-me de uma
utopia, de um som de mar sobre o rochedo.
E olhei, com olhos de gaivota fugidia, de garça esguia, de
andorinha benfazeja, arrostei-me a novo degredo.
E forcei-me pelo vendaval, abri os braços à tormenta,
rasguei a carne, abri a garganta, cortei as mãos no fio de todas as navalhas.
E deitei-me na lava de um vulcão, mergulhei em tenebrosa
lagoa, dancei com as sereias e emergi de negras muralhas.
Descobri que sou de lugar nenhum, que trago farrapos de alma,
sem cor, presos nos cabelos de uma vida.
Descobri que o mundo é uma toalha alva ao sol estival, e um
segredo em noite escura. É refeição dividida.
Descobri que o mundo gira ao contrário e que habito do outro
lado do espelho. Que acreditar é para crianças.
Descobri que amar é para os anjos, e sou apenas mulher.
Descobri que apago a porta, lentamente, às esperanças.
Descobri que o mar é só sal. Que o rio corre sem sentido.
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Lágrimas de lua