Na penumbra do quarto, de olhar perdido pela janela entreaberta, a cabeça repousando na almofada alva e macia, os cabelos anelados e revoltos espalhados em todas as direcções, os lábios num breve sorriso amargo e as mãos, esguias e brancas, cruzadas sobre o peito que docemente oscila a cada inspiração. Do exterior, o som quente das cigarras e dos trinados alegres da passarada em redor lembram uma primavera alta e já bem quente, as cortinas diáfanas ondulam à aragem morna, mas nada perturba aquele corpo, inerte sobre o leito. Dir-se-ia morta, ou agonizante, tal era a quietude, só os olhos, os olhos aveludados, escuros e doces vibravam num turbilhão de sentimentos.
Havia poucas horas a sua vida fora destruída por uma avalanche devastadora;
O único amor que alguma vez tivera, acabava de sair da sua vida.
Suportara heroicamente a notícia, nem uma só lágrima aflorara aos seus olhos, mas no seu peito, o coração cessara de bater, um buraco imenso e negro abrira-se e engolira-a, inteira, de uma só vez. Foi como se uma lâmpada de 100w tivesse rebentado provocando um clarão e, subitamente, o negrume hiante e louco da solidão, foi como se tivesse levado um soco forte no estômago e sobre si mesma se dobrasse sem ver nada com a intensidade da dor, foi como se um oceano de mágoa sobre ela se abatesse impedindo-a de respirar. Caminhara até casa sem saber por onde fora, que ruas tomara apenas sabia que tinha que encontrar algo seu, algo onde se pudesse esconder, afastar-se do mundo e dar largas à dor insuportável que a arrasava. E ali estava agora, deitada, incapaz de pensar, incapaz de sentir, amorfa, sem rumo, sem vida, sem nada. Vazia!
O que buscara no sossego do lar não encontrara, somente o vazio e o silêncio, a paz não a tocara, e o vazio, esse imenso e doloroso vazio a preenchiam, a quebravam e venciam, lhe tolhiam os pensamentos, amordaçavam a alma e esgotavam as forças. Pelo olhar passava o fogo de um amor trocado sem restrições, de uma partilha integral, de uma comunhão sem limites, passava a sombra da dúvida, do desalento, do desespero, do abandono, passava o ódio e o amor, amalgamados num só, indistintos; Tão depressa se sentia traída e usada, como querida e amada ao extremo, tão depressa se sentia desejada, possuída, conquistada e rendida, como despojada, esgotada, sem valor, sem préstimo. A sua alma oscilava perigosamente à beira do abismo da loucura e do desespero; Porquê? Porquê depois de tanta luta, tanto esgrimir com a vida, tanto batalhar, porquê agora? E a resposta era uma só; Porque assim tinha que acontecer, tudo nesta vida tem princípio, meio e fim e a sua relação atingira o último estádio – O fim. Até à tão pouco tempo as doces palavras sussurradas ao ouvido, as carícias trocadas na mesma penumbra que agora a envolvia, o som calmo da música preferida, o riso cristalino dos corpos arrepiados de prazer, e a voz branda e calma, envolvente e doce a seu lado. Agora só a sua voz interior se fazia ouvir, perdida, esgotada, lutando contra a escuridão que a envolvia cada vez mais densa, mais forte, mais dura, mais aguerrida.
Numa explosão de dor, o seu corpo cede; As lágrimas finalmente soltas e loucas, caem dos olhos como rios a que a invernia fez aumentar o volume, os soluços sacodem-na desesperadamente, e no ar morno o som de uma voz dorida e só faz-se ouvir, como o lamento de um animal em agonia, toda a dor, toda a amargura rebentam incontidas devastando tudo à sua passagem.
A noite caiu, o silêncio lá fora contrasta com o som magoado do soluçar no quarto, onde a janela permanece entreaberta deixando que o fresco da noite entre e tente abrandar o braseiro de tristeza que sobre a cama jaz em espasmos incontidos daquele corpo tão abandonado. Um raio de luar prateado entra e pousa de manso no rosto orvalhado de lágrimas, como que a beija-lo e a acaricia-lo.
O telefone toca estridente e agudo na solidão das quatro paredes, mas a sua mão não se estende, como outrora, rápida e feliz para o atender, o toque esmorece e acaba numa mensagem do gravador de chamadas;
“ Amor, se ainda te posso chamar assim, peço-te perdão, não consigo viver sem ti”.
Havia poucas horas a sua vida fora destruída por uma avalanche devastadora;
O único amor que alguma vez tivera, acabava de sair da sua vida.
Suportara heroicamente a notícia, nem uma só lágrima aflorara aos seus olhos, mas no seu peito, o coração cessara de bater, um buraco imenso e negro abrira-se e engolira-a, inteira, de uma só vez. Foi como se uma lâmpada de 100w tivesse rebentado provocando um clarão e, subitamente, o negrume hiante e louco da solidão, foi como se tivesse levado um soco forte no estômago e sobre si mesma se dobrasse sem ver nada com a intensidade da dor, foi como se um oceano de mágoa sobre ela se abatesse impedindo-a de respirar. Caminhara até casa sem saber por onde fora, que ruas tomara apenas sabia que tinha que encontrar algo seu, algo onde se pudesse esconder, afastar-se do mundo e dar largas à dor insuportável que a arrasava. E ali estava agora, deitada, incapaz de pensar, incapaz de sentir, amorfa, sem rumo, sem vida, sem nada. Vazia!
O que buscara no sossego do lar não encontrara, somente o vazio e o silêncio, a paz não a tocara, e o vazio, esse imenso e doloroso vazio a preenchiam, a quebravam e venciam, lhe tolhiam os pensamentos, amordaçavam a alma e esgotavam as forças. Pelo olhar passava o fogo de um amor trocado sem restrições, de uma partilha integral, de uma comunhão sem limites, passava a sombra da dúvida, do desalento, do desespero, do abandono, passava o ódio e o amor, amalgamados num só, indistintos; Tão depressa se sentia traída e usada, como querida e amada ao extremo, tão depressa se sentia desejada, possuída, conquistada e rendida, como despojada, esgotada, sem valor, sem préstimo. A sua alma oscilava perigosamente à beira do abismo da loucura e do desespero; Porquê? Porquê depois de tanta luta, tanto esgrimir com a vida, tanto batalhar, porquê agora? E a resposta era uma só; Porque assim tinha que acontecer, tudo nesta vida tem princípio, meio e fim e a sua relação atingira o último estádio – O fim. Até à tão pouco tempo as doces palavras sussurradas ao ouvido, as carícias trocadas na mesma penumbra que agora a envolvia, o som calmo da música preferida, o riso cristalino dos corpos arrepiados de prazer, e a voz branda e calma, envolvente e doce a seu lado. Agora só a sua voz interior se fazia ouvir, perdida, esgotada, lutando contra a escuridão que a envolvia cada vez mais densa, mais forte, mais dura, mais aguerrida.
Numa explosão de dor, o seu corpo cede; As lágrimas finalmente soltas e loucas, caem dos olhos como rios a que a invernia fez aumentar o volume, os soluços sacodem-na desesperadamente, e no ar morno o som de uma voz dorida e só faz-se ouvir, como o lamento de um animal em agonia, toda a dor, toda a amargura rebentam incontidas devastando tudo à sua passagem.
A noite caiu, o silêncio lá fora contrasta com o som magoado do soluçar no quarto, onde a janela permanece entreaberta deixando que o fresco da noite entre e tente abrandar o braseiro de tristeza que sobre a cama jaz em espasmos incontidos daquele corpo tão abandonado. Um raio de luar prateado entra e pousa de manso no rosto orvalhado de lágrimas, como que a beija-lo e a acaricia-lo.
O telefone toca estridente e agudo na solidão das quatro paredes, mas a sua mão não se estende, como outrora, rápida e feliz para o atender, o toque esmorece e acaba numa mensagem do gravador de chamadas;
“ Amor, se ainda te posso chamar assim, peço-te perdão, não consigo viver sem ti”.