imagem retirada da net |
Toca um piano na brevidade esparsa da lua,
numa noite de ventos do mar.
A cada nota, uma criança de alma nua
volteia, cega e muda, errando o verbo amar.
Melopeia de embalar os sonhos jamais sonhados,
os desejos presos, toscos e inconfessados.
Toca um piano, notas soltas, na noite de espanto,
de solidão e de perdidos passos sem destino.
A música eleva-se: breve pomba de arrolhar de encanto,
ecoa, distende-se, contrai-se: negro peregrino
de passos torpes e mãos de gélidas madrugadas,
de olhos glaucos e preces breves, dilaceradas.
Toca um piano as dores de um parto ardente
e a suavidade de um amor por fazer, por crescer,
e as teclas vibram sob a pressão crescente
das mãos que acariciam as notas a nascer.
Melodia de menino de olhar triste e perdido,
que o cais vê e o mar abraça, um horizonte sem sentido.
Toca um piano pela noite de esperas, longas, frias,
e a alma embranquece, e o coração morre um pouco mais.
E a melódica harmonia eleva-se, estonteada de fantasias,
ataviada de plumas e rendas: tão oca, vazia, ébria demais.
Escondeu-se a lua, envergonhada de nudez breve,
o mar calou-se e o vento adoçou-se numa aragem leve,
e o piano chorou, o homem, sobre ele, os sonhos derramou,
entregou a alma e despiu o medo. Agarrou farrapos de vida,
fez deles um manto de negra esperança e dançou,
com asas de gaivota curiosa e pés de bailarina esquecida,
e o piano, pela noite fora, apenas soluçou as notas de um enigma.
2 comentários:
Já toquei um piano em noites de “de esperas, longas, frias” enquanto a alma embranquecia e o coração morria um pouco mais em “notas soltas, na noite de espanto,
de solidão e de perdidos passos sem destino”. E ouvi o piano chorar, e derramei sobre ele os meus sonhos, entreguei a alma, mas não consegui despir-me do medo, mas agarrei os “farrapos de vida” e fiz deles “um manto de negra esperança” e tentei dançar “com asas de gaivota curiosa e pés de bailarina esquecida”, mas não consegui “e o piano, pela noite fora, apenas soluçou as notas de um enigma”.
Minha doce amiga Luar, vir ao teu cantinho é certeza de que o olhar sairá encantado, o coração perfumado e a alma iluminada com essa poesia tão terna quanto poderosa, que a tua sensibilidade sempre vem nos ofertar.
Um piano sempre há de tocar, em algum lugar, quando num tempo certo as mudanças se fizerem acontecer. Porque há música em tudo, na vida, no mundo, nas coisas... Mas nem sempre temos o olhar atento para estas notas musicais alcançar...
Um dos teus poemas que mais me tocou!
Minha linda, este período que antecede o Natal traz para a minha vida tantas atividades que somente nelas estou encontrando o ânimo necessário para prosseguir. Esta época sempre me foi favorecida com a presença do meu amado, que em tudo me ajudava, e que na compra dos brinquedos para a criançada da creche, pode acreditar, se divertia mais na escolha de cada brinquedo que era difícil tirá-lo da loja para que continuássemos as compras, rs. Era ele quem pacientemente sentava com todos os pequerruchos para escrever as cartas com os pedidos ao Papai Noel. Era ele quem mais se entusiasmava na decoração da árvore e fazia questão de que toda a meninada colocasse um enfeitezinho com as próprias mãos. Levantava nos braços os pequeninos para que também partilhassem este momento mágico de deixar alguma coisa na árvore, e depois se divertia rodopiandO com cada um deles pelo salão. Era um momento mágico e tão esperado pelos pequeninos que dava gosto vê-los se divertirem.
Mas agora, somente a lembrança daqueles momentos me acompanha. E podes imaginar o quanto me é sofrido ter que fazer todas estas coisas e ainda tentar manter um sorriso no rosto para que as crianças (muitas já tão castigadas pela vida), não sintam tanto a ausência do “tio” brincalhão. Acho que era isto que o meu Guy queria que eu continuasse a fazer. E sempre tem um dentre eles que me corrige e ainda fala: ô tia Leninha, o tio Guy fazia era desse jeito...
E a ternura se mistura com a saudade... E a saudade faz doer o peito... E o coração procura segurar as lágrimas...
Porque neste instante, minha amiga,
“a cada nota, uma criança de alma” iluminada, volteia pela vida, e a tudo enxerga, e de tudo fala, nunca errando “o verbo amar”.
Meu anjo, já não mais peço desculpas por “passear” nos teus versos, pois bem sabes que esta é uma das formas que encontro para deixar registrado o meu carinho, minha admiração, e meu louvor pela pessoa linda que tu és.
Lá no meu espaço foi ínfima a homenagem que fiz aos amigos blogueiros, porque a consideração e apreço que tenho por cada um é de tal enormidade que ultrapassa a composição de um mosaico e vai se aninhar no coração do mundo onde “toca um piano as dores de um parto ardente” trazendo “a suavidade de um amor por fazer, por crescer”, enquanto “as teclas vibram sob a pressão crescente das mãos que acariciam as notas a nascer” - (na lembrança de um bebê lindo e saudável que hoje eu ajudei a chegar ao mundo).
Há tanta coisa para te desejar, minha linda, tanta coisa! Mas eu desejo apenas que tu continues a nos encantar com a doçura do teu coração e a beleza da tua alma em poemas e textos que nos chegam para engrandecer também o nosso olhar para o mundo, para a vida, para nós mesmos. E um dia, quem sabe, teremos a ventura de te ver anunciando o lançamento de um livro... E seja em qualquer época que for, se fará Natal dentro de mim!
Um beijo e um abraço bem aconchegado, para que possas sentir todo o imenso carinho que tenho por ti.
Leninha
[após o comentário da Helena, não há palavras mais...fica só o sentimento
e o som do piano, no silêncio obrigatório.]
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