Meu amor….
Há quanto tempo te ausentaste? Uma hora, um dia, um mês….Não sei dizer-te porque me parece que partiste há uma eternidade.
A casa esta vazia, as tuas coisas permanecem silenciosamente arrumadas, o teu perfume paira ainda tenuemente no ar e o quarto parece um poço sem fundo. A cama desajeitadamente vaga de um lado, a almofada, que não arranjei, tem ainda a forma da tua cabeça amada e tão desejada.
Quantas noites já passaram? Não me perguntes. Eu não sei dizer, perdi-me no arrastar dos dias cinzentos, embora o sol brilhe intenso, eu tenho uma nuvem de frio intenso em mim. Vagueio sonâmbula pela casa, compondo sem graça um quadro, endireitando um dos bibelots que olham para mim sem cor.
Sentei-me para te escrever, para te dizer que embora longe o meu coração se desfaz de dor, que jamais esquecerei um amor que acalentamos no fundo dos nossos corações amantes e docemente fizemos crescer, florimos nas mãos do outro, demos fruto na vida do outro, e na alma do outro comungamos o sonho, o desejo, a paixão, o AMOR.
Sentei-me para te dizer amor, que não há distância, nem silencio que mate um amor assim. Não há palavras para descrever tanta coisa que por mim passa nesta hora, lembras-te amor, a nossa hora? Aquela em que costumavas chegar de sorriso nos lábios, e braços carentes, corpo ansioso e beijos quentes, mãos vivas e apressadas. Aquela nossa hora em que o mundo morria lentamente lá fora e nós nos dávamos em união sem barreiras, sem preconceitos, apenas fazíamos do amor, o nosso amor, éramos apenas duas pétalas da mesma rosa a desabrochar.
Há quanto tempo estás ausente amor? Não sei, esqueci-me das horas, dos dias, porque aqui neste canto estás sempre, presente nos pequenos nadas que me rodeiam, e que me lembram de ti, que me trazem as mais doces lembranças à memória.
Quase posso ouvir a porta abrir-se devagar e os teus passos leves caminhando pelo corredor em direcção à sala, onde por norma te sentavas e me prendias no teu colo, como criança que se embala, onde fazias de mim mulher, a tua mulher, como dizias num sussurro embevecido de cada vez que me tinhas nos braços, rendida, perdida de um amor que deixávamos fluir e inundar o espaço.
Escrevo-te nesta hora amor, em que te espero desnudada e de pele fresca e perfumada, nesta hora em que sol já entra ao rubro pelas vidraças do quarto e lembra o fogo do amor trocado nos lençóis imaculadamente alvos, onde de manso deitavas o meu corpo para o cobrires com o teu num enlace dulcíssimo.
Quanto tempo passou, amor? Não sei…Acho que só me deixei embalar um pouco, porque estás aqui, o teu braço me enlaça, sobre a minha cabeça, no teu peito descaída, está a tua, como sempre, e o teu respirar calmo adoça o ambiente, aninha a minha ânsia de nunca te perder. Amor! Sempre estiveste aqui! …Foi apenas um desvario da minha cabeça.