Olá!
Esta é mais uma carta que não tem destinatário, porque não será enviada.
Sim,
é para ti, que estás num mundo à parte do meu, vogas numa "bolha" que vejo passar
da minha "bolha". Ah, pois! Não estranhes, para mim todos vivemos em bolhas: as
nossas vidinhas, de onde não queremos sair. Pedimos a todos os santinhos que não
sejamos obrigados a romper as paredes das nossas bolhinhas de conforto. Mas
sim, dizia eu, são para ti estas palavras.
Um dia a curiosidade foi mais forte: cedi. Quis entrar num mundo que,
sabendo não me pertencer, pensei poder franquear. Que me fosse permitido
visitar, desfrutar, quem sabe; habitar. E entrei! Abriste, rectificação:
entreabriste a porta e eu, sem hesitações, entrei.
Mas
essa porta deu acesso a um mundo de magia, de encanto, de descoberta que me
foi, seguidamente, negado. Uma espécie de “toca e foge” dos meus anos de
menina. E deixou um gosto de incumprimento de uma promessa, de uma fraude da
vida, de uma expectativa gorada. A culpa? Pois, essa, não há. E se houver,
será, indubitavelmente, minha. Sempre minha, porque ainda espero. Sempre minha,
porque ainda acredito. Sou assim, serei assim até ao meu fim.- Até prova em
contrário, tudo (e todos) são verdadeiros e sãos. - Crédula? Ingénua? Talvez… sim
… serei.
E
hoje vejo-te, levando a tua bolha, vogando nas ondas da vida, nos ventos dos
acontecimentos e nas marés das sementes que vais semeando, e nas ceifas do que
já frutificou. E eu vejo-te, de longe, quando achei poder estar perto. E eu
vejo-te, com um peso no coração, e uma lágrima na alma. Mas, apenas e só,
porque me iludo, porque espero, porque creio ser possível não viver somente na
minha bolha. A vida faz sentido se as nossas paredes não forem estanques, se
soubermos rasga-las e deixar que “outras bolhas” toquem, penetrem, se fundam
nas nossas. Depois, quando a vida me confronta com a realidade; dura, crua e
desapiedada, dói. Uma dor de desalento e de sementes que não vingaram. De esperança
pequenina defraudada. Uma dor estranha pela estranheza do que não foi vivido,
apenas idealizado, sonhado, esperado.
Mente
humana de tamanhos mistérios.
Ainda
bem que esta carta não tem destinatário! Irias dizer que sou louca. Mas, sabes?
Não sou. Sou apenas uma alma aberta, uma alma que acredita no Bem, que mantém
aquela candura de menina, ainda que a vida tenha sovado, bem sovada, a massa de
que sou feita. Não, não sou louca. Apenas um coração que bate e que, por muito
que seja maltratado, continua a bater. A bombear esperança e sonho nos passos
deste caminho.
Sigo,
com esta estranheza na alma, esta sensação de ficar à porta, mas sigo. Sabes? Tenho
uma “bolha” para levar por diante. Desejo que sejas feliz na tua pequena-grande
bolha, que a vida te sorria e dê tudo o que desejas e anseias. Desejo que os teus sonhos se concretizem, os
teu projectos avancem. Mas, acima de tudo, desejo-te o “suficiente de tudo”.
Não
entendes? Pois… acredito. Mas desejo-te
o melhor.
Até
sempre
Lágrimas de lua