Nasceu o dia com negrume no céu azedo,
como se os anjos, revoltados, virassem costas,
arreganhassem as nuvens carregadas.
Nasceu o dia, com grilhetas de um degredo
que o coração quebrará, entregando as respostas
que a alma pede, em mansas suplicas caladas.
Olhando o dia que cresce, olhando a vida que se faz,
deixando que flua o AMOR, essência de fogo invisível,
aprenderei a dar passos de infinito.
E o dia regressa à beleza que cada aurora sempre traz.
E a paz inunda a caminhada como um toque sensível,
como beijo de flor, de ave, como a certeza que habito.
Inunda-me uma manhã de cinzas e luz, de serena aceitação,
de alma renascida, de casa recém-lavada.
Inunda-me uma manhã de paz sem tempo,
correndo suave como bruma numa qualquer viração,
fiz das feridas roupa nova, fiz da dor força renovada,
percorri a minha vereda sem horas nem contratempo.
Esta luz baça que escorre, ténue, pela vidraça
traz-me as estrelas que brilham no céu,
e as que habitam o mar; o meu céu, o meu mar,
onde ecoa uma melodia doce que perpassa
pelos côncavos do meu coração, qual balsamo ou véu,
qual afago de maternal mão, beijo de paternal amar.
hoje o dia acolheu-me na concha de um nautilus perdido,
vogando, tonto, pela corrente desta vida deslizante,
e o horizonte tornou-se palpável, tangível.
O que foi; passou, o que vem; virá renascido,
de novas cores enfeitado. Só o presente; vibrante,
é certeza de vida, é caminho perceptível.
Hoje, das nuvens carregadas, nasceu um sol inextinguível.
Lágrimas de lua