sexta-feira, agosto 31, 2007

CONFESSO...



Confesso;
Confesso um amor profundo e calado,

em mim preso e dolorosamente acorrentado.

Confesso;
Confesso os sonhos, os desejos, as dores,

confesso a minha tela de mil cores,

que pinto a cada hora, cada dia.

Confesso;
Confesso que apenas queria

ser mulher, ser criança, ser a flor

que se prende no cabelo da amada,

olhando-lhe o rosto com o amor

de sabe-la sua, rendida, desejada.

Confesso;
Confesso um amor que não grito,

que amordaço, e em mim cresce.

Confesso as horas em que me agito

numa ansia que não sossega nem fenece.

Confesso....
Apenas confesso.....Que sou mulher.


domingo, agosto 26, 2007

PÓ. SEMENTE...NADA

Somos pó, somos semente,

somos bichos, somos gente

somos o bem e o mal,

a raiva, o ódio e o amor,

somos o mel, somos o sal,

o frio, a neve e o calor.

Somos o tudo e o nada,

somos o ocaso, somos a alvorada.

Somos o que nos deixam ser;

Anjos, demónios, apenas somos

homens e mulheres a viver

e sempre que nos dispomos

a lutar, perseverar e vencer,

acabamos por morrer

um pouco em cada batalha.

reduzidos ao pó da mortalha!

sábado, agosto 25, 2007

CHUVA DE VERÃO

Gotas de chuva cálida

caem como lágrimas de verão,

Na aurora ainda pálida

adivinha-se o perdão.


Perdão por um amor inconfesso,

perdão por uma espera magoada,

perdão por um beijo que professo,

que desejo em agonia prolongada.

Gotas de orvalho odoroso

perdido na ténue nebelina,

sol que força teimoso

a espessa bruma matutina.


Perdão pelo amor calado,

amordaçado em meu peito,

perdão pelo doce pecado

dos corpos unidos no leito.


Gotas de cálida paixão,

febre de entrega e partilha,

olhar perdido na imensidão

da ausencia que magoa e fervilha.


Perdão pela boca calada

pelo beijo por trocar,

perdão pela palavra encerrada

no coração por se dar.


Gotas de chuva cálida

como tormenta de verão,

descendo pela face pálida

anunciando a paixão.


quarta-feira, agosto 22, 2007

SOL E LUA


O sol disse à lua;

Adormeçe nos meus braços,

deixa-te acariciar assim, nua,

e dos nosso enlaços

nascerão filhos da madrugada,

perfeitos hinos de luz dourada,

que no mundo se perderão!

A lua respondeu ao sol:

A tua luz me penetra a alma,

resplandece e cresce, qual mole

de energia e vigor, invadindo-me calma.

Sim, meu corpo nu em tuas mãos deposito

e lanço-te um repto, um requesito;

Que juntos sejamos um imenso clarão,

que rasga as trevas, e inunda o mundo

envolvido em silencio profundo!


sábado, agosto 18, 2007

MÁGICA NOITE


Mágica a noite escura de segredos,

envolvente e bela, negra, silenciosa.

Carrega todos os meus degredos

na sua calma pura e majestosa.

Mágica a noite prenhe de docura,

onde o desejo e sonho se tocam,

se arrepiam na mais envolvente ternura,

se desfazem em ondas que evocam

espasmos de terra fecunda,

partos de natureza eterna.

Da mão que procura e se afunda

noutra mão aberta em espera terna.

Mágica a noite de lua cheia,

mágica a noite de luar profundo,

chama que pervalece e se ateia

na calada da noite do mundo.


sexta-feira, agosto 17, 2007

LAGRIMAS DE LUA


De doces lágrimas de lua
perdidas na noite imensa,

ao grito calado, amordaçado,

acorrentado no coração.

Da alma branca, louca e nua,

sufocada na mudez intensa

do desejo ávidamente calado

que povoa a alma em ebulição.

Do fundo do ser amargurado,

do alto da alma em espera

solta-se o beijo ansiado

e a entrega desespera.

Das doces lágrimas de lua....




quinta-feira, agosto 16, 2007

O PIANO

A noite era de segredos e escuridão, o vento fresco do mar fazia-se sentir na escarpa calcária abruptamente aberta sobre o mar que sussurrava lá no fundo da garganta apertada. O pequeno abrigo de madeira encarrapitado bem lá no topo da mole deserta parecia uma redonda abelha poisada delicadamente sobre uma qualquer flor árida. Pelas janelas abertas o som de um piano habilmente dedilhado fazia ouvir-se em consonância com o vento de norte que vinha chegando do alto mar. Só uma luz tremeluzia timidamente pela janela aberta de par em par, e ao piano, uma peça que ninguém acharia normal encontrar naquele fim de mundo, uma figura feminina de acobreados cabelos deliciosamente entrançados numa fita de veludo azul escuro, percorria meigamente, quase que afagando, o marfim e o ébano das teclas. De olhos semicerrados, de quando em vez o seu corpo delicado era percorrido por um estremeção, como que um arrepio, e tombava-o mais sobre o enorme piano de cauda.
A seus pés a cabeça negra e peluda do castro Laboreiro, emprestava ao quadro a poesia de uma pintura romântica, não fora o rito que nos lábios carnudos se desenhava, uma dor imensa marcava com duros traços o rosto, a boca, os olhos daquela alma que à musica assim se entregava como quem se dá ao amante apaixonado e sedento de amor. Que pensamentos corriam naquela cabeça, perfeito perfil de deusa? Que negras dores assolavam aquele coração que sobre as teclas aos pouco morria? Das suas mãos finas e brancas, de unhas quase infantilmente nacaradas, desprendiam-se os segredos e os sofrimentos dos “Nocturnos” que em catadupa enchiam o ar, as paredes, as divisões e se elevavam em todo o seu esplendor no frio da noite, para morrerem na parede calcaria que os acolhia e desfazia em ecos mil.
A noite foi-se adensando, as horas passando, e os dedos parecia já terem vida própria, dançavam, rodopiavam, volteavam, iam e vinham em escaladas loucas, arrancavam à madeira nobre toda a alma, todo o amor, toda a dor, e o piano vibrava, contorcia-se, ganhava vida, à medida que a rapariga a ele se entregava num frenesim alucinado de uma alma em chaga. Agora já não era a mulher e o piano, eram um só, como dois ébrios apaixonados, que nada detêm, nada segura. Apenas vivem de e por amor, apenas se entregam aos braços do outro para darem e sugarem a vida.
O mar rugia já no estreito canal e as ondas não eram mais beijos meigos no cascalho da Prainha, eram duras cascatas de espuma que se elevavam no vento de tempestade. Lá no alto, crescia igualmente de tom o martelado do piano, como que a acompanhar a revolta da natureza, como que a querer medir forças com ela. A trança dera lugar ao cabelo solto e revolto pelas rajadas que as janelas deixavam entrar, o rosto era agora uma máscara dura onde o ódio e a dor se misturavam dando-lhe um ar alucinado e louco. Os olhos cor de mel tinham os laivos da demência, e o corpo eram uma tábua hirta de nervos tensos e indomados. Os dedos quase feriam sem piedade as teclas, que sob o seu impulso cediam e gemiam, gritavam e se agitavam fazendo em som belíssimo o grito mudo que aquela garganta não soltava.
Do meio da noite e dos seus segredos um trovão eleva a sua voz, e o raio risca o breu do aveludado manto. Ao rebentar a trovoada sobre aquela casinha de madeira rebentam também em pranto incontido os olhos que há muito calavam as lágrimas, rebenta o coração que há muito trancava a solidão e o medo, a dor e a angustia. E do peito eleva-se um grito angustiado e dorido que se fundiu no som dos trovões e nas águas acoitadas pelo vento. O corpo descai sobre o piano, a cabeça pende sem vida sobre as mãos que se abandonam sem forças, e os soluços feridos e duros vão repercutir-se nas esquálidas penedias calcárias.
Calou-se o mar, e o trovão foi abafado, apenas o gemido e o soluçar magoado povoam agora a noite, já que o piano se calou também acompanhando mudo aquela dor.

DUVIDAS

Quando a vida nos arrasta sem ter dó,

nos fere, nos arrasa, nos magoa,

nos atola e nos esmaga no pó,

quando tudo se quer e nada se perdoa,

como se volta a dizer ; Amo-te?

Quando vemos o dia novo nascer

nos braços do ser amado,

e sentimo-nos crescer

num sentimento enorme, desmesurado,

como se evita dizer de novo; Amo-te?




Quando o soluço morre na garganta,

e no peito se guarda a dor,

quando o sentimento se agiganta

e nos invade de novo o calor,

como se cala a palavra; Amo-te?

Cala-se num beijo trocado,

no abraço partilhado,

nas mãos unidas,

nas vidas divididas.


quarta-feira, agosto 15, 2007

TÚNEL



Há um caminho triste e escuro a percorrer,

passos solitários, arrastados a morrer,

pelo longo túnel sem luz, sem alma,

uma sombra vagueia tristemente com calma.

No fundo, bem lá no infinito, brilha uma luz,

ténue, pequenina, parecendo uma cruz

como que a assinar o caminho da dor

do coração martirizado e sem cor.

Há um caminho com estrelas a brilhar

há um porto de abrigo para encontrar,

há um amor à espera por descobrir

e passos apressados por cumprir.

E o túnel já nada é que um largo mar,

um rio que flui com vontade de se dar,

um sol que quer romper e brilhar

bem alto no ceu e gritar;

Estou vivo, aindo pulso, ainda danço,

ainda aqueço, ainda estou e assim de manso

o escuro túnel virou manhã,

foi pôr do sol e madrugada louçã,

foi um amor que se deu,

se entregou e recebeu.

Há um caminho alegre e vivo a percorrer

porque o AMOR jamais pode morrer!




sábado, agosto 11, 2007

EXIGENCIA - URGENCIA - SOLIDÃO

No rumor leve da brisa matinal

acordam os sentidos,

todos os passos perdidos,

acossados como um animal.

Acorda o medo, a solidão está presente,

a dor, o desespero, a infelicidade,

e é apenas por maldade

que a brisa me beija docemente.





Há no ar um cheiro doloroso,

feito bagas de insegurança,

feito desejos, e perseverança

feito panico pavoroso.

Na breve aragem fria,

cortante, dolorosa, e exigente

palpita um coração paciente

numa alma em agonia.


O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...