Há uma ventania que enfuna a vela solta
da pequena barca perdida e já sem rumo,
singra a custo contra a maré revolta
tentando manter a rota, manter o prumo.
Mas o mar teimoso, encapelado e duro
açoitando os flancos desagastados
corrói a madeira, destrói esse muro
que separa as almas dos desgraçados.
E o vento enchendo a vela bamba
empurra, torce, geme grita e rodopia,
sob a sua gritaria a barquinha camba
arrastando as vidas em agonia.
A ventania cresce enrugando as águas,
tragando as almas frágeis num turbilhão,
entrechocam-se as ondas de encontro às fraguas
e as lágrimas descem mansas na solidão.