sexta-feira, dezembro 13, 2013

SEM RAZÃO...


Há uma espécie de angústia, de tristeza que me invade
sem perceber porquê nem de onde vem.
Há uma dor sem rosto que me povoa sem alarde
e deixa este espinho que nada detém.
 
Não sei porque estou triste, não sei o que dói,
 
só sei que uma mágoa infinita me arrasta
 
para um abismo sem regresso, como ácido que corrói,
 
como punhal que dilacera, como caminho que se afasta.
 
Pesa a alma sem razão, chora o coração destroçado,
 
e este negrume que impera veste-me o corpo amordaçado.
 
A noite invadiu a minh’alma, vestiu-a de solidão,
 
de uma paz insólita e triste, vazia, oca, plácida e sem razão.
 
Há uma espécie de angústia que me povoa e invade...
 
 
 

quarta-feira, dezembro 04, 2013

MELODIA DE INVERNO

 
 
 
 
 
A musica toca baixinho, como quem trina uma guitarra, como quem chora em surdina, como quem reza sussurrando. Nas vidraças a chuva cai de mansinho plena de mistérios, plena de aromas, aos meus ouvidos murmurando palavras que não entendo, sonhos que descartei, risos que já esqueci na voragem da rotina. E a musica toca embalando o espaço, este espaço que criei por entre destroços e vazios por preencher. Por entre vigorosas construções e tímidos esboços de um sonho irreal e utópico onde a ausência se escoa e há tanto para viver.
A musica escorre devagar como águas suaves de um rio, como balsamo de mágoas, como porto de abrigo. Em cada nota um novo sentido, em cada compasso uma nova espera. Fazendo esquecer todo o perigo, toda a dor que desespera. E o meu gesto repetido gasto de tanto andar ainda encontra coragem, força e animo para não parar. A musica envolve o dia, aninha-me na solidão da sala, empresta-me a melodia, liberta um coração que não se cala, que grita no silencio voraz sem contudo soltar um som. A musica apenas me traz este etéreo e estranho dom de ser somente mulher...

sábado, novembro 16, 2013

CINDERELA











Meia-noite! As badaladas ressoam duras pela noite!
Cinderela...Foge Cinderela...O teu tempo acabou!
Corre como louca para que o tempo não açoite
a tua doce ilusão de eternidade. Corre...O espaço terminou!

Meia-noite deserta de ilusão, como é dura a realidade!
Como magoam os passos apressados pela vida,
porque o tempo se escoou pela brecha da eternidade,
sucumbiu ao poder supremo de uma quimera dividida.

Foge Cinderela, corre! Deixa o sapatinho no chão,
ele será a memória, será a marca de um sonho partilhado,
será a lembrança ternamente guardada na solidão
do dia-a-dia. Corre Cinderela que o tempo é apertado!

Larga as vestes de magia, deixa a máscara de comunhão,
veste as roupas da monotonia, calça os sapatos de solidão.

Guarda o riso e a gargalhada, mostra apenas um sorriso,
caminha pela encruzilhada, decidida como é preciso!


quarta-feira, novembro 06, 2013

NA MARGEM... À MARGEM

Na margem olhando a imensidão das águas lívidas, desertas,
como deserto e lívido está o coração estremecendo no peito,
asa perdida em céu negro de nuvens carregadas e inquietas.
Como barco encalhado no lodo de um cais abandonado sem jeito.
Somente na margem olhando o espelho gélido beijado pela lua
fria e distante, branca e arrogante, branca e sobranceira espreitando nua.
Na margem despida de mim, despida de fogo e de neve, de amor e ódio,
despida da vida e da morte. Apenas na margem perdida sem rumo,
a meus pés as águas paradas e brilhantes são o silencio feito nó górdio,
são o caminho dos caminhos, são o equilíbrio num fio de prumo.
Na margem da vida, na margem do amor, na margem do sonho... ,
Inteiramente só, lividamente só, perdidamente só, com asas feitas de ,
de um pó luminoso e efémero onde apenas habita o vazio descolorado
E infinito. E na margem as águas mansas repousam embalando a vida,
embalando a morte, embalando o sonho perdido e desagregado.
Sobre as prateadas águas vogam memórias, desejos e uma alma dividida.
Na margem, apenas na margem da vida...

domingo, outubro 13, 2013

CASTELOS DE SOLIDÃO



Somos um feixe de pontas soltas...Umas tocam-se, outras não.
Somos um punhado de risos e lágrimas que atravessam a vida,
umas vezes pelo deserto, outras pelo mar sem fim outras pela multidão.
Somos o que somos, dando, recebendo, tirando...Somos um junco de partida.

Hoje somos o calor do verão, amanhã a neve da invernia,
hoje sabemos o caminho que queremos, amanhã tropeçamos sem rumo.
Hoje temos a vida pulsante no coração em festa, em louca euforia,
amanhã somos o nada, somos o pó sem futuro, somos débeis sem aprumo.

Hoje rimos como crianças, despreocupados, insanos,
amanhã caem as lágrimas de tantos duros desenganos.
Hoje damos as mãos num amor intemporal e único,
amanhã cortamos amarras do cais podre e antagónico.

Somos cabeça e coração, lógica e sentimento, amor e ódio,
ressentimento e perdão.
Somos o "nós" e o "eu", somos tantas vezes o "tu, o ele, o ela",
no fundo somos apenas um castelo de solidão.


sábado, setembro 14, 2013

ADAGA





Há nesta noite um mar de silencio que se abate sobre a alma,
como ave de rapina sobre a indefesa presa que descuida de si.
Há um punhal de realidade absurda e de incongruente calma
enterrado no mais profundo do meu ser, abrindo mesmo ali
no coração um lenho dorido, uma ferida jamais sarada,
jamais consertada, remendada. Jamais calada ou reparada.
Há nesta noite um raio de luar prateado que me transporta
para bem longe daqui. Para um lugar mágico e encantado
onde tudo para e paira , tudo flutua. Um lugar que comporta
o sonho, o desejo, o riso e a lágrima, o segredo mais guardado.
E há esta adaga que me acorda, me desperta de devaneios,
não me permite perder-me em sonhos, e me acorda sem rodeios
para a dura realidade - Este silencio rapace que devora esta alma,
que consome o coração, que obriga ao grito magoado e mudo
que na garganta veio morrer, como um pranto que se acalma
em lágrimas de intensa dor. Como um sacrílego tributo
a um moribundo amor

quinta-feira, agosto 29, 2013

É A HORA!


É hora de recolher as velas e deixar o barqueiro descansar,
é hora de esquecer a maré deixando o barco bolinar.
É hora de fechar os olhos, negros gastos de tanto procurar.
É hora de permitir ao corpo simplesmente relaxar.
É hora de chamar os deuses que imperam no grande mar
e com eles orquestrar uma nova sinfonia.
É hora de calar fundo toda esta horrenda agonia
em que mergulho de cabeça, sem sequer poder pensar.
É hora de querer e não querer, hora do sim ou do não,
é hora de ser o que sou, apenas e só mulher.
É hora de arrancar esta pele, e esta máscara se puder,
é hora de arrumar todo o medo, de pedir e dar perdão.
É hora de beber o cálice, seja de fel ou de absinto,
seja do mais puro e doce néctar ou seja de suavíssimo mel.
É hora, minha vida, é hora! é hora de percorrer cada aurora,
alcançar cada poente, dançar louca pela estrada fora
despojada de preconceitos, de normas e leis de papel.
É hora de abrir todas as portas dar largas ao que sinto.
 
 
É hora de recolher as velas e deixar a noite flutuar…..

sábado, agosto 10, 2013

PASSOU O MEU TEMPO.....DESVAIRADO


Como a asa de uma gaivota que perdeu o rumo,
como o fumo de um navio que passou ao largo.

Passou o meu tempo….
Como a gaveta aberta onde alinho e arrumo
as memórias que vogam num mar triste e amargo.

Passou o meu tempo…
Como o beijo aflorado, o desejo ancorado na praia deserta,
como a água que por entre os dedos se esvai incerta.

Passou o meu tempo….
Do tempo que não para nem se acerta, do tempo que sobra
do tempo que chora, do tempo que ri e soçobra.

Passou o meu tempo…
E ficou o espaço oco e enevoado, como manhã de outono,
como barco fantasma, como lágrima cristalizada em puro abandono.

Passou o meu tempo…
Nas mãos abertas vazias, nos olhos fechados em sonhos perdidos,
no corpo usado e despido, em todos os despertos sentidos.

Passou o meu tempo….
Na espera de um novo tempo, sentado à beira do abismo,
oscilando entre o cá e o lá, entre a luz e a escuridão, perfeito antagonismo!

Passou o meu tempo…
Nas palavras murmuradas, nas juras apenas sonhadas e nas que foram juradas
entre o soluço e o grito de solidão. Nas frases de paixão apenas sussurradas.

Passou o meu tempo…
Na ilusão de um momento, efémero, precioso, vivido e ambicionado,
mas o tempo apenas passou sem se ater a nada. Passou desvairado!


 

quinta-feira, julho 04, 2013

LUA CHEIA



Uma lua prateada projecta-se na noite escura como breu
As sombras, são anjos negros alados de doirado sonho,
e as memórias flutuam soltas, libertas sem fronteira e sem margem.
A lua lança no meu leito vazio um poder inebriante que é seu,
tão seu! Tão único, tão dolorosamente belo e medonho.
E pela janela entreaberta o perfume da terra mistura-se na aragem.
Uma enorme lua prateada cobre o meu corpo de orvalho luminoso,
beija a minha alma com o ardor da solidão, num desejo majestoso
de ser fogo, e ar e água, de ser o tudo e o nada, o hoje e o amanhã.

 
Ah longínqua lua prateada cobre toda a mágoa gritante, esconde-me ate ser manhã.





segunda-feira, junho 17, 2013

O SOM DO SILENCIO

Acordei ao som do silencio, num quarto vazio de vida,
vazio de mim.
Acordei pela mão enganosamente doce da ausência dividida,
do caminho do fim.
Hoje a madrugada foi mais negra e a aurora mais dura.
Hoje acordei sem acordar.
A manhã entrou pelo quarto com um sopro de secura,
como um vento glaciar.
Acordei ao som do silencio, do vazio a ressoar
a escorrer pelas paredes de um quarto oco a vibrar.

Hoje vesti-me de esquecimento e elevei-me no ar,
e deixei que o mistral me levasse.
Hoje olhei sem ver esta vida, passando só por passar,
e deixei que o mar me molhasse.
Pedi ao tempo que abrandasse o seu eterno correr
para me deixar respirar.
Pedi à minh'alma forças para acreditar e querer
continuar a caminhar.
Mas apenas o silencio me responde, profundo a magoar.
Pesadamente marcando cada passo do meu andar.

quinta-feira, maio 30, 2013

SUPENSO SEGUNDO



Deixa-me apenas viver o segundo em que respiro,
nada mais que este suspenso segundo em que nada importa,
nem o riso, nem a lágrima, nem o sol nem a lua.
Deixa-me apenas absorver a vida neste suspiro,
neste brevíssima nota que nada mais comporta;
Nem sonhos, nem desejos, nem sensatez nem loucura.
Deixa-me apenas vogar, intemporal, neste segundo,
neste limbo perdido entre o cá e o lá,
entre o querer e o não querer, amar e desesperar.
Deixa  o meu arroxeado olhar desvanecer-se no mundo
que de braços abertos me aguarda em hora boa ou má.
Deixa-me apenas ser um suavíssimo respirar,
sem tempo, sem rumo, sem norma ou finalidade.
Deixa-me somente afundar na dura realidade
que é este breve segundo do meu respirar.....

sexta-feira, maio 17, 2013

VOGANDO




Vogo na fímbria sombria de um sonho acordado,
resvalando mansamente para um abismo que desconheço
e não temo.
Vogo como folha perdida em vendaval encarniçado,
como alva espuma em maré viva onde envelheço
mas não tremo.
Deslizo sem ruído pelas dobras desta vida,
ora vou, ora venho...Ora estou, ora fui,
olho sem ver, sonho se sonhar, quero sem querer.
Desejo sem desejar, acredito sem acreditar no amanhecer.
Empurrada, puxada, repartida e dividida,
passo a passo trilho o caminho que se dilui.
Deslizo na imensidão dos pálidos dias sem rumo,
como desfolhada margarida em agreste invernia,
como encanecido carvalho que perdeu o prumo
e se vergou silencioso à gelada ventania....

sábado, maio 04, 2013

CRISTALIZADO PRANTO


A ave branca e doce eleva-se breve na manhã de purpura e ouro.
O adejar suave das asas translucidas é uma promessa de amor,
um ardente desejo em coração inocente, puro e encantado.
Os matinais raios de luz são como espigas de trigo maduro e louro.
A brisa morna embala todos os corações em secretíssimo fulgor,
e o voar liberto da branca ave risca o azul do céu enamorado.

As areias quentes ondulam sob os dedos escaldantes do sol,
como pele desnudada sob mãos de amante.
Lá no alto, a breve ave lança uma doce aragem ao passar.
As agruras cá na terra quase que se tornam uma massa mole
que se molda e desmancha. Uma nuvem errante...
Um rio manso que cantando se precipita no imenso mar.

A doce ave branca desce mansa sobre a terra ressequida e dura,
trás no bico uma rubra rosa a sangrar, nas patas trás um punhal.
Dos seus olhos escorrem lágrimas de cristal e mágoa pura, 
da sua alva plumagem resta apenas um sonho intemporal...
Uma quimera na qual pôs toda a sua alma de pássaro branco.
A areia emudeceu,
o sol escureceu,
o amor morreu,
apenas a ave permanece alva em cristalizado pranto.


quinta-feira, abril 25, 2013

UM BEIJO


Como rosa por desabrochar,
como nuvem ténue no reverberante azul.
Como pássaro em inebriante voar,
como alva garça em escuro paul.
Um beijo, apenas um beijo.

Como risonha criança em berço dourado,
como cristalinas águas em frescos requebros.
Como o segredo ciosamente guardado,
como descoberta de iluminados cérebros.
Um beijo, somente um beijo.

Como o sol que não se toca,
como a lua que não se atinge,
como a vida que se escoa.
Como um fuso sem roca,
como um tecido que se tinge
com negra tinta que magoa.

Um beijo, apenas um beijo, tão somente...Um beijo que flutua

terça-feira, março 19, 2013

É TARDE....É TARDE!



É tarde!
É tarde porque me esqueci do amanhecer,
porque permiti que o meu olhar se perdesse.
É tarde!
E a vida resvala por mim a correr, 
a manhã definhou sem que me apercebesse.
É tarde, tão tarde!
O sol vai alto, o chão escureceu, um cão latiu
no fundo da sua tristeza
o mar em soluçado crescendo, rugiu,
espraiando toda a sua rude beleza.
Mas é tarde!
Eternamente tarde para ter pés de criança,

asas de pássaro e olhos de anjo.
É tarde!
É tarde para um sonho que não se alcança

sexta-feira, março 08, 2013

CAMINHO...SOMENTE

Virei o ano, virei a esquina, virei o porto de abrigo.
Caminhei descalça pelas pedras frias do caminho,
olhei o céu e vi-o abrir-se e fechar-se, rir e chorar,
desmanchar-se em lágrimas de anjo, e iluminar-se de sol.

Virei o silencio, virei o medo, virei o destino comigo.
Esfolei os joelhos, dilacerei os pés em duro espinho,
abri as mãos vazias e deixei-as somente tombar
frias, sombrias, arquejantes, perdidas sem farol.

Virei a página de mais um livro,
virei o sonho de mais um vazio,
virei a mordaça e o crivo
das minhas palavras no frio
de uma manhã sem rumo....


O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...