Um local tranquilo onde os raios de lua, feitos palavras, lançam feitiços e enxugam lágrimas
domingo, dezembro 28, 2008
AUSENCIA
terça-feira, novembro 25, 2008
INVERNIA
sábado, setembro 20, 2008
PARTI...
domingo, setembro 14, 2008
ALMA ERRANTE
domingo, setembro 07, 2008
PARAR O TEMPO
Ouvir o silêncio, beber a vida, perceber o simples pulsar da semente a crescer.
Senti-la pequena, dividida, subdividida, repartida, tripartida e por fim…Florescer! Se ao correr da mão o tempo se aquietasse, se ao correr das horas congelasse o momento preciso em que te toco… Se o tempo me desse tempo, se a vida me desse a VIDA, essa que eu não troco por nada que a vida tenha. Ah se o tempo se imobilizasse, e eu pudesse apenas ter-te!
quarta-feira, setembro 03, 2008
VENCER/PERDER
sábado, agosto 30, 2008
NÃO PENSES! NÃO SINTAS!
e tu coração não sintas.
Minh’alma olha que mentes
ao pintares com essas tintas
este quadro que é meu!
Vê bem que é escuro de breu
e não brilhante e colorido,
cabeça deixa de pensar
tira daí o sentido!
Coração, porque não parar?
Simplesmente deixares-te ficar
como que adormecido e calar
tudo o que dentro te vai.
Alma, cala-te, aquieta-te e esquece,
tudo o que entra, um dia … Sai!
Nada resta, fica ou permanece.
Por isso, tu cabeça, não penses!
E tu coração, não sintas!
Alma, cresce e luta que vences
esta batalha de fintas!
sexta-feira, agosto 29, 2008
CORAÇÕES DE PEDRA
De que serve à palamatória dar a mão,
quinta-feira, agosto 28, 2008
quarta-feira, agosto 13, 2008
AREIAS
PALAVRAS DE VENTO
E das escaldantes areias o silencio crestado se eleva, sussurrando palavras de miragem e sonhos, de desejos calados e lágrimas escondidas.
Que pés de fada ou querubim deixariam trilho de igual beleza?
Nenhum, porque escaldariam a delicada pele neste solo inóspito, só um sobrevivente consegue caminhar e deixar a sua marca, como estas.
Deixa-me ser sal. Branco, puro...Apenas sal; O teu.
sábado, junho 28, 2008
PENSAMENTO....
Aceitamos por amor, tudo, desde que tenhamos um raiozinho de esperança, e ele pode ser tão pequeno e ténue como um teia de aranha, uma gota de orvalho, uma simples lágrima perdida. Agarramos todas as hipóteses, seguramos cada momento, inventamos, desdobramo-nos, trocamos os tempos ao tempo, fazemos de tudo quando amamos a sério, quando alguém entrou profundamente na nossa vida e nos moldou, aninhou, acarinhou, nos deu e recebeu.
A capacidade humana de sobreviver é imensa!
Quem experimentou a dor profunda e marcante sabe que é verdade, que fosse lá pelo que fosse, acreditando, sonhando, arrastando-se inclusive, mas sobreviveu, encontrou um equilíbrio para prosseguir. Pode ser fraco, e até nem sequer ser equilíbrio e sim um refugio, um sonho, uma pequena luz ao fundo de um túnel, comprido e escuro, povoado de medos, de incertezas, de «ses e porquês», mas por essa pequena luz, por esse foco minúsculo, caminha e luta, não abre mão, não desiste. Pode seguir calado, chorando, rezando, pedindo e quantas vezes soçobrando para depois de mais uma queda se levantar e de joelhos esfolados e rasgados, sangrando e de lágrimas a escorrerem pelas faces prosseguir. Mas….Aquela força que temos e que não sabemos de onde nos vêm caminha connosco, silenciosa e amiga. Dá-nos a mão, faz-nos acreditar que os impossíveis por vezes são possíveis, lembra-nos que a esperança é a ultima a morrer e que não devemos abrir mão daquilo que na realidade queremos. Por vezes calamos e empurramos para o fundo de nós mesmos, para fazer de conta que não existe, que não pode ser, mas um dia esquecemo-nos das trancas e esse querer profundo vem ao de cima lembrar que temos um propósito na vida, que temos um sonho por cumprir e pelo qual vale a pena pegar em armas e lutar, enfrentar o mundo, carregar a adversidade e aceitar o que vier pelo caminho tudo por amor. Ele é o motor da vida e sem ele nada vale a pena.
A capacidade humana de lutar pelo que quer e acredita não tem limites!
Perfeitos, complexos e ao mesmo tempo tão simples, mas com tantos entraves que impomos a nós mesmo e que nos impõe. Barreiras, normas, sociedade, tradição, nome, posição…Tantas coisas com que nos ataviamos e para quê? Porquê?
Só temos uma vida, aqui e agora, de quem é o próximo segundo? Onde estaremos daqui a um segundo? Nos braços do Pai? No fundo de uma ravina?... Valerá a pena sacrificar o amor, a felicidade, a comunhão, a presença de alguém, o conforto da compreensão, da ajuda, por normas e barreiras? Temos de concreto o aqui e agora nada mais, temos esta vida para viver, porque a outra vida será de outra forma, sem as dores e as mágoas do humano, teremos, creio eu, só o divino como coração a bater, seremos de uma outra dimensão, de uma forma que não tem nada de humano, mas …. Até que esse dia chegue, o que temos mesmo é a vida nesta terra, as lutas, os bons e maus momentos, e a FELICIDADE ao alcance da mão."
sexta-feira, junho 27, 2008
VAZIO IMENSO
e...Como fazia frio!
Perdeu-se na imensidão das horas vãs
olhando o vazio, qual rainha em barbacans
abandonada ao destino.
Rainha de um reino sem tino,
sem rei, sem valete e sem cor,
rainha de um vazio que a dor
habita no mais fundo da alma,
lavrando em chamas esta calma
onde apodreçe e vegeta.
É tão, mas tão Asceta!
Hoje o dia rasgou-se em Nada,
entranhou-se em cada espaço,
fez sua casa e morada
numa vida de cansaço.
quinta-feira, junho 19, 2008
ABISMO
Como passara o tempo! Que fizera de si? O que tinhas agora nas mãos? Um cofre de memórias gratas mas magoadas, um vazio imenso sem sentido em que se arrastava havia anos, um trabalho que gostava de desenvolver e que a absorvia por completo, mas também aquela sensação colada à pele e à alma de deserto, a aridez de percorrer só, o caminho que deveria ter sido a dois. Tantos anos já haviam decorrido desde que a cisão se dera, desde que decidiram que cada um seguia por si o seu caminho e mesmo assim doía horrores! Não havia sido capaz de superar e o amor que entregara mantinha-se inalterado e calado bem fundo no seu coração. Os anos começavam a pesar e o encanto dos vinte passara havia muito, naquele momento, de olhos fechados, revia o rosto amado com uma nitidez que doía, quase lhe podia sentir o cheiro da pele, sentir o hálito morno, tocar…. Abriu os olhos marejados de lágrimas e deixou que um profundo soluço há muito trancado no peito subisse à garganta e tivesse voz. Aos poucos o pranto tomou conta dela, abandonou-se à vastidão da mágoa que a feria impiedosamente e sacudia como uma verde vara em dia de temporal. Todas as lágrimas acumuladas de anos caíam agora como cascata solta e revolta dos olhos castanhos profundamente tristes. Tanto tempo trancara em si, não permitira soltar aquele enorme peso de solidão e desespero! E para quê? Porquê? Ele seguira sem se virar uma única vez o caminho que traçara e ela ficara a olha-lo na distancia e acabara por virar-se também e trilhar um novo rumo. Como gostaria de o ver uma última vez!
O dia caíra completamente sem que se tivesse apercebido disso e a noite envolvia-a com o seu bafo frio e salgado. Acordou do transe em que permanecia após a descarga de choro e deu-se conta que só o céu estrelado velava lá bem em cima. Não lhe apetecia sair dali, a pele reclamava agasalho e o estômago comida, mas tinha a sensação que ganhara raízes, que se tornara pedra dura como o penedo em que se sentara, tudo em si estava embotado, desde os sentidos à capacidade mental, passando pelo físico, os seus músculos eram rocha, não mexiam. De repente o som cantante do telemóvel dentro da mala arrancou-a do ponto para onde se deixava cair, e provocou-lhe um arrepio geral. Quem se atrevia a quebrar-lhe a imobilidade? Quase podia ouvir os seus tendões e articulações a ranger, a torcer, como se um processo de fossilização iniciado houvesse sido quebrado naquele instante para voltar a perceber que o sangue girava no corpo. De má vontade esticou a mão e atendeu o intruso. Uma voz que julgou reconhecer falou do outro lado do éter. Levantou-se de um salto, impulsionada por mola invisível e agarrou com toda a alma o pequeno aparelho, bebia as palavras, sorvia a distancia, negava a dor e permitia-se sentir de novo. Aquela voz, aquele timbre que jamais esquecera, ali…Ao seu ouvido, perto? Longe? Que importava, se ao menos o ouvia de novo?!
Um passo atrás na embriagues do momento, de costas para a falésia, a agilidade já não é a mesma, e o corpo resvala para o vazio….
No ar fica um grito na noite estrelada e quente; AAAAMMMMMOOOOO-TTTTTEEEEE.
domingo, maio 25, 2008
Deitou-se de novo no calor aconchegante dos lençóis e ficou a olhar o tecto. Porque teria acordado com aquela angústia no peito? Que disparate! Como se o sol não nascesse a cada dia!!! Que parvoíce a sua, mas onde estava a sua inteligência? Mas algo lhe corroía a alma, não era o medo do sol não nascer, apenas se traduzia nessa frase, absurda, mas que lhe martelava o cérebro como um martelo pneumático a perfurar duramente o solo. Sabia intimamente que a partida no dia seguinte era a responsável pelo medo da “falha do acordar do sol”, mas não se concedia conscientemente essa certeza nem esse medo.
Tinha preparado tudo com antecedência, calma e ponderação. Arranjara quem a substituísse no escritório, vendera o apartamento e tratara de manter os devidos contactos no novo local de trabalho, arranjara um novo apartamento que já estava à sua espera havia quase um mês, o que tivera que dar à casa antes da saída, vendera o carro e empacotara as coisas para aos poucos irem sendo transferidas para a nova casa. Algumas despachara outras levara ela própria nas viagens que fizera antes de não ter transporte. O local agradara-lhe à primeira vista, era muito semelhante ao local onde habitava havia um ror de anos. Ali, na pequena praceta sossegada e calma, onde parecia que o tempo tinha mais tempo, as roupas esvoaçavam nos estendais, as crianças divertiam-se no parque infantil e os bancos convidavam a um breve pausa, as árvores murmuravam entre si as novidades do bairro e tudo parecia harmónico e em paz. Quase podia dizer estar em casa, apenas a língua não era a sua, mas era como se fosse porque a dominava na perfeição. Sabia que era esse o seu caminho, e no entanto…e se de facto “o sol não nascesse”? – Mas que estupidez, é claro que sol sempre nascia! Porquê aquele temor infantil, aquela ideia sem pés nem cabeça, e o que quereria dizer a frase que na sua cabeça martelava incessante?
Levantou-se decidida encaminhando-se para um belo duche perfumado que a deixaria fresca, bem disposta e com genica para tudo o que ainda tinha que fazer, afinal daí a vinte quatro horas estaria a km de distancia dali e muito havia para ultimar. Pronta e arranjada, pegou na mala e saiu.
Foi ao escritório onde os votos de sucesso se sucediam em catadupas, passou definitivamente o seu serviço, despediu-se do chefe, dos colegas e das recepcionistas, do segurança e fechou a porta de um mundo que a criara e fizera dela quem era hoje. E se “o sol não nascer”?
Foi ao stand automóvel para tratar da papelada da venda do carro e deixar a nova morada caso viesse a ser necessário, viu pela ultima vez o seu “bólide” e foi com um olhar de saudade que virou costas e saiu sem mais delongas para que as lágrimas que ameaçavam tombar se não manifestassem mais que uma breve névoa nos olhos escuros. Mas…E se “o sol não nascer?”
Eram horas de almoço e prometera aos pais que iria almoçar. Estava longe de casa deles e de tarde ainda tinha bastante que fazer, mas a cumplicidade do almoço em família fazia-lhe falta, apanhou um táxi e passados uns escassos quinze minutos estava no prédio dos pais que a receberam com o sorriso e o amor que conhecera desde menina. Mas naquela hora apertava o coração, o sorriso aberto do pai e o cuidado sempre latente e exagerado da mãe, tinham agora um gosto especial que não queira perder nem abrir mão, a separação era inevitável e isso deixava um amargo nos três que calavam mas nem por isso sentiam menos. O almoço decorreu calmo e com grandes recomendações e expectativas, com algum receio muito bem camuflado mas latente, e a promessa da visita regular que nem uns nem outra queriam quebrar nem abdicar. E, se “ o sol não nascer?”
Ultimou os afazeres todos e regressou a casa, cansada e pronta para umas horas bem merecidas de sono, no outro dia a alvorada seria bem cedo, tinha um avião para apanhar, e uma vida nova para viver. De novo na cama olhando o tecto a pergunta que a atormentara o dia inteiro veio à mente, incisiva e dura; E se o sol não nascer? – Mas a sua racionalidade só lhe respondia com um grito; Pára de ser idiota! O sol nasce sempre!
Olhando o rosto pequenino abandonado no seu colo, e o corpo quente e cheiroso do filho de novo a frase lhe veio à mente mas desta vez com a resposta às suas perguntas de cinco longos e duros anos; E se “o sol não nascer”?
Mas o “sol” havia nascido, como sempre, o sol se havia elevado no céu e mostrado todo o seu esplendor, calor e luz! Não o sol astro porque esse sempre apareceria enquanto o mundo fosse mundo, mas o “sol” que somos ou não capazes de por na vida. E sim esse “sol” havia nascido, tinha-o entre mãos. O seu sol nascera. Finalmente tinha a resposta.
segunda-feira, maio 12, 2008
OBRIGADA PAI!
quinta-feira, maio 01, 2008
ATRÁS DOS DUROS MONTES
(Fotos da minha Nizinha)
MATINAS
Dança no ar um aroma inebriante
na fresca neblina matinal,
escondido na penumbra vibrante
desta manhã doce e virginal.
Será o amor feito em leito ardente,
serão somente os corpos amantes,
será o beijo longo e fremente
ou as mãos loucas e errantes?
Será a vida que pulsa a cada amanhecer
e ao sol se dá por inteiro?
Será um coração que recusa fenecer
e à vida se agarra verdadeiro,
heroi de uma história banal?
E a dança permanece deste aroma divinal...
Será somente um beijo d'um anjo celestial?
segunda-feira, abril 21, 2008
FRAGMENTOS
segunda-feira, abril 14, 2008
ESTRADA VAZIA
sexta-feira, março 28, 2008
VINDIMAS
Beatriz havia anos (muitos anos), não pisava solo pátrio, por opção e revolta, deixara o pai e o irmão, após a morte da mãe, encarregues das encostas produtivas da quinta que a vira nascer e que amava com um amor entranhado e duro, como duras eram as rochas que davam paladar e corpo aos maduros cachos. Era alta e esguia, robusta e decidida não negando a sua ascendência celta por parte de mãe, mas de olhar meigo e doce que do pai herdara e da avó paterna, D. Tomásia Ferreira, a quem se devia o nome porque eram conhecidos os vinhos da quinta.
Saíra ainda muito jovem, orgulhosa e magoada, imputando silenciosamente a morte prematura da mãe ao pai, a quem tornara a vida muito difícil pelo mutismo obstinado e revolta constante e declarada. D. Tomásia entendia a neta e tentava por todos os meios faze-la ver os factos reais, José Alberto, seu pai, debatia-se com dois filhos menores em idades perigosas e a gerência da quinta que sempre partilhara com Aby, sua esposa. Sem grande tempo para dar atenção às crianças deixava-as muito aos cuidados e atenção da avó que fazia de tudo para substituir de alguma forma a nora. Mas enquanto Jaime era dócil e cordato, Bia era uma revoltada que fazia gala em mostrar quer em casa quer na escola, quer com os empregados. Inteligente e viva, adorava o campo e a vida da quinta, aprendera com o pai a amar aquelas pedras, as cepas, os rigores do inverno e os ardores do verão, corria como uma gazela as encostas, saltitando como uma cabrita de escalão em escalão, podando daqui, colhendo os abrolhos de acolá. Fora uma criança alegre e bem disposta, mas a adolescência tinha tido o travo amargo da perca, e, se bem que os pais se amassem, Bia sentia a infelicidade da mãe por estar por longos períodos afastada das suas brumas e castelos, dos seus bem amados campos da Escócia natal. Aby era feliz no Douro, amava a terra, o trabalho nas vinhas, no qual se empenhava ao lado de José Alberto, amava o rio a seus pés e os filhos que por amor e desejo tinha posto no mundo. Mas era na Escócia que se tornava ela, quase etérea mas de uma vivacidade imensa. Ensinara as crianças a amar também aquele pedaço de chão que era o seu e em Bia tinha a resposta aos seu mais recônditos anseios, tal como ela a pequenita crescia e tornava-se outra quando nas férias ia passar três meses com os avós maternos.
Quando Aby partira Bia tinha quinze anos e Jaime doze. Durante cinco longos e duros anos em que a revolta e a dor cresceram sem que houvesse tempo ou espaço para falar com o pai, ela foi traçando o seu rumo e no dia que completou os vinte anos, foi ao escritório e deixou sobre a secretária uma frase curta, friamente; - “Parto amanhã para a Escócia, esqueça-se que tem uma filha!”. E assim partiu, na madrugada seguinte sem que alguém da casa tivesse dado pela sua saída. Muitas foram as diligências do pai e da avó juntos dos avós maternos para que a demovessem das suas teimosias, José Alberto fora vezes sem conta à Escócia falar com ela, mas nada a vergou. Nem a morte de D. Tomásia a trouxe ao país natal, chorou de longe a morte da avó querida, remoeu mais uma morte em silêncio, mas não veio. Estudara, formara-se, estivera noiva e acabara o noivado, gerira os bens da mãe e dos avós e dera um rumo a si mesma em terras de Sua Majestade, mas o Douro que a vira nascer, ardia-lhe no peito.
Olhava agora os socalcos bem amanhados como sempre, as douradas folhas e a neblina odorosa que lhe trazia à memória os seus passos e brincadeiras de menina. As carrinhas com o pessoal passaram por ela sem parar direitas ao fundo dos terrenos, mais atrás o carro negro com um vulto mais velho ao volante, reconheceria aquele perfil de olhos fechados, José Alberto, tisnado e mais forte, um pouco mais curvado e com rugas no rosto, passou por ela também, ao lado a figura alta e delgada do irmão, voltou-se de costas, não queria que a vissem já.
Caminhou ao longo do trajecto que a levava de novo a casa, calma, devagar silenciosamente, bebendo o ar matinal e o encanto que só naquelas terras sentia. Avistou o velho palacete cor-de-rosa e apercebeu-se que embora com obras recentes, também ele acusava o passar dos anos. Entrou no portão e, como sempre fizera, foi sentar-se no alpendre nos degraus gastos e puídos pelo uso e pelos anos. Um riso infantil veio acorda-la do seu sonho, do êxtase em que se mantinha olhando a paisagem que nunca esquecera, à sua frente um pequenito dos seus sete anitos, estacou e perguntou sem cerimónia; _ “O que faz a senhora aqui? Isto é propriedade privada, sabe?!” –
Sorrindo Bia, disse; - “Sei sim. E diz-me lá, quem és tu?” – A resposta foi pronta e ela quase se reviu no garoto: - “Eu sou o João Maria, e a senhora quem é e o que faz nos degraus do meu avô?” –
- “Eu…Eu sou a tua tia Beatriz, sou a filha do teu avô, e irmã do teu pai” – Respondeu suavemente à criança. Para seu espanto uma voz atrás de si disse-lhe; - “Sejas bem vinda Bia! Há quanto tempo…”
Levantou-se como se um cento de abelhas a tivessem picado, e virando-se de repente ficou frente a frente com um homem alto e entroncado, no vigor dos seu quarenta anos bem conservados e elegantes que a olhava com uma expressão de ternura e zanga, emprestando aos olhos esverdeados um ar travesso e doce. Emudecida, engasgada e ruborescida, Beatriz aguentou o embate daquele olhar e respondendo ao apelo mudo da mão estendida para ela, subiu os degraus pela mão de Raul, capataz da fazenda e filho da velha governanta, com ele penetrou na penumbra da casa e à lembrança regressaram as horas passadas no lar, o cheiro do pão acabado de cozer, o leite morno, as natas batidas pelas mãos da velha Aurora, o odor adocicado das flores campestres que pelas jarras e jarrões ainda se espalhavam pelas salas. Como num sonho atravessou os corredores, os salões, e a saleta privada onde sobre a mesa permaneciam imutáveis o sorriso da mãe preso na sua moldura e a sua primeira vindima bem como a de Jaime. Duas lágrimas correram pelos olhos negros aveludando-lhes a expressão, e a mão de Raul apertou a sua com ternura como que a fazer-lhe sentir que, tal como outrora, ele ainda ali estava à sua espera, atento e pronto.
Sem saber como encontrava-se agora frente a uma senhora que o tempo vergara, embranquecera mas não alterara as feições nem a beleza, apenas os olhos azuis como o céu olhavam agora o infinito. Aurora, prendia-lhe as mãos e percorria-lhe o rosto, dizendo entre lágrimas e sorrisos; - “A minha menina voltou! A minha menina voltou!”. E como antes, Beatriz escondeu no regaço gasto pelos anos o rosto onde afogou as lágrimas, as dores e a revolta de mais de vinte anos chorando como criança abandonada.
Duas mãos calejadas prenderam-na pelos ombros sacudidos pelos soluços e a voz quente e ainda forte do pai murmuraram-lhe ao ouvido; - “Sejas bem vinda Beatriz à casa, ao amor, à família e à tua terra. As uvas, o xisto, o vento e o rio aguardam as tuas mãos para mais uma vindima. Vens?”
quarta-feira, março 26, 2008
NUVENS BAIXAS
quinta-feira, março 20, 2008
SANTA E FELIZ PÁSCOA
sábado, março 01, 2008
UMA LÁGRIMA
terça-feira, fevereiro 19, 2008
UMA MANHÃ
Abracei o ar fresco e o céu cinzento da manhã, encolhi-me nas profundezas do casaco quente, e deixei que a aragem me beijasse o rosto, permiti que os ouvidos ouvissem o canto das aves nas ramadas destas árvores despidas mas que são o seu lar e dei comigo a distinguir os cantos e a sorrir ante as árias que se digladiam de garganta em garganta em trinados mil.
A calma e o sossego da hora matutina invadem-me e dão uma sensação de paz de tranquilidade como se no mundo apenas eu pisasse o solo encharcado das chuvas.
Fechei os olhos e encostei-me a um velho muro onde a folhagem avermelhada e amarela ainda subsistem, teimosamente.
Quase podia tocar o intocável, alcançar o intangível, ver o invisível....É em momentos como este que Deus nos toca.
E assim comecei um novo dia.
sexta-feira, fevereiro 15, 2008
JOGUETE DA VIDA
rei, cavalo ou peão,
sou apenas vez após vez,
o aconchego desta mão
que se te estende mansa.
Sou a vaga e simples lembrança
de um porto de abrigo na noite,
sou o que falta para a unidade
sem a coragem que afoite
a dar o passo da eternidade.
Como peça de um puzzle imenso,
onde não me encaixo ou pertenço,
ando aos tombos pelos espaços
(não há nenhum que me acolha).
Entre os rabiscos e traços
a minha peça não tem escolha
estará sempre descartada,
do baralho separada.
Como peça de xadrez,
neste puzzle sem sentido,
trilho duro de aridez
em mil passos percorrido.
domingo, fevereiro 10, 2008
UM DESAFIO
1º Adoro escrever, ler e passear.
2º Sou uma curiosa por natureza, daí que as viagens, os estudos e o desconhecido sejam um atractivo para mim.
3º Sou também o que se pode chamar uma amante da "solidão", o silencio, a calma, a paz, são essenciais para que me equilibre e me sinta "feliz".
4º Adoro cozinhar e é uma forma de acalmar o stress. Dedicando-me às artes culinárias passo do estado de "ebulição" ao estado de "arrumar no frigorifico".
5º Dança é outra das minhas formas de me libertar, a musica faz-me vogar em mundos meus e pela expressão corporal liberto-me quase na totalidade.
6º Adoro crianças, e só não sou mãe....Porque assim não teve que ser. E mais não digo.
Agora passo o desfio aos seguintes blogs;
whispersinnight.blogspot.com - Rachel
coisasdogui.blogspot.com - Gui
julls17.blogspot.com - Juli
analuar.blogspot.com - Ana Luar
momentusmomentus.blogspot.com - Ni
suavetoque.blogspot.com -Elcia Belluci
NA TUA AUSÊNCIA
sábado, fevereiro 02, 2008
TÃO LONGE....
na noite escura de medos?
segunda-feira, janeiro 28, 2008
ENCONTROS E DESENCONTROS
Sonhas as noites, os beijos, o amor?
Sonhas o termo-nos, sonhas os corpos?
sem a pressão mansa dos nossos corpos
na imensidão da noite escura,
nos lençois feitos de entrega, de paixão,
de sonhos e tanta loucura.
Amor, toma de novo a minha mão,
encontra-me nos desencontros da vida!
Preciso de ti! Cala esta dura ferida
que é ter-te sem te ter,
amar-te, querer-te e apenas permancer
na encruzilhada da vida aguardando o amanhecer.
terça-feira, janeiro 22, 2008
PERMANECE EM MIM
como o perfume suave da rosas,
sê o principio e o fim
de cada poema meu, das minhas prosas.
Permanece como o ouro eterno,
deixa o teu rasto no meu corpo,
marca-o com o teu selo terno
que em cada beijo transparece
em cada caricia se eleva.
Fica em mim...Permanece,
crava os teu sonhos e ensejos
na minha pele sob a tua mão
ardente de mil desejos.
Acorda em nós a imensa paixão
de sermos um só no caminho.
Permanece em mim !
Ainda que este amor seja um espinho
de dorida ausencia sem fim....
Permanece amor, permanece em mim.
O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA
As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...
-
PENSAMENTO SOLTO Elevo o pensamento para bem longe, onde as asas dos pássaros não vão e o som das águas não chega. Elevo o meu coração, feit...
-
Quando as amarras que nos predem ao chão, nada mais são que laças cordas sem vida, nós esgotados, rasgadas velas, farrapos em ferida. ...
-
As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...