Um local tranquilo onde os raios de lua, feitos palavras, lançam feitiços e enxugam lágrimas
quinta-feira, dezembro 29, 2016
ATAVIADO TEMPO SEM TEMPO.
O tempo corre, ataviado, em egoísmos e desamores,
em negras tintas de um carvão chinês - ancião - selecto.
O tempo corre: vá lá saber-se para onde - corre - escoa-se,
perde-se, ganha-se, esvai-se, mata-se, descobre-se, enevoa-se.
O tempo corre - nos Invernos frios -, nas manhãs sem alvores
e nos ocasos infectados de alaranjado deserto.
A vida dedilha-se num fado sem som, em garganta cristalina,
e caminha-se: com pés de anjo, com penas de andorinha,
com olhos de garça e corpo de diletante golfinho.
A vida bebe-se e come-se - pão e água: pão e vinho;
E embriaga-se numa miragem, qual pendente de opalina,
a vida rompe-se, como véu de noiva, como nuvens de morrinha.
O tempo passa, passando a despassar, arrastando as estrelas - o mar.
O tempo voa: gaivota cega de amor, derrubado em extinto vulcão.
Grita e agita-se, como víbora, hiante, de insano veneno,
como olhar saudoso, aguado, nas dobras deste sereno.
O tempo rasteja: encolhe-se, distende-se; Cresce no luar.
Agita-se, revolta-se; A vida faz-se VIDA no vento suão.
O tempo corre - com o diabo no ventre - e o fogo nas mãos
nuas de desencanto. Vazias de sal e lágrimas - ocas, vãs.
O tempo corre, como pincel em mãos de poeta,
como risos em madrugada encoberta,
como voos rasantes de milhafres pagãos.
O tempo corre em direcção ao futuro, numa rumba de titãs.
O tempo corre... O tempo esvai-se ... O tempo morre.
terça-feira, dezembro 20, 2016
TALVEZ O "MEU" NATAL...
Hoje não vou procurar rimas nem encontros de palavras,
não vou querer poetar em termos de poeta - tonto de esperar.
Não! Hoje vou deixar que o meu corpo e alma falem, devagar.
Quero sentar-me ao frio matinal e olhar o céu - azul gelado -,
e vou vestir-me de nuvens brancas, rosadas: de vento Russo,
de sol brilhante, de olor de marés algadas de sal e vida.
Hoje deixo que o mundo me faça ponto de partida!
Hoje deixo a vida tomar conta de mim!
O caminho é para a frente, seguindo os meus pés alados
de esperança. Seguindo os meus olhos pintados de luz.
O medo, a solidão, a distância ficaram dobrados aos pés de uma cruz.
E de novo a Estrela risca o céu - o meu - e indica o caminho,
chega de manso um doce enlevo, uma carícia: calor invisível;
Um calor que atavia a pele, que embandeira a alma - caída.
Hoje empurro a tristeza para a nebulosa saída.
Hoje eu não sou eu: nem sei quem sou - não importa!
Hoje não quero ser nada, nem ninguém: somente uma pena,
uma bola de sabão. Uma agulha de pinheiro, ou uma rena...
Hoje sou o que o vento me fizer.
Hoje sou o que o sol me emprestar.
Hoje sou o Tudo e o Nada: o principio e o fim,
hoje... Quero apenas sentir esta PAZ em mim.
Hoje fez-se Natal - simples, despido, puro - o "meu" Natal, assim.
Feliz, Suave e Pacífico Natal
sexta-feira, dezembro 16, 2016
VESTIR O CORAÇÃO DE NATAL...
Há recantos por enfeitar e poeira por limpar.
Esta casa está vazia, no frio gélido do desencanto.
Abrem-se os olhos, mexem-se as mãos a esquadrinhar
os esconsos arrabaldes de uma vida sem espanto.
Toco a chuva com sonhos ávidos e lábios perdidos,
ensaio uma dança com passos líquidos, entorpecidos.
Pinto o rosto, de arlequim moribundo, enluvo a alma,
calço o coração com sapatos de penas e plumas
e visto a solidão com folhas ásperas de palma.
Pego na tela branca,
enfeito-a de auroras e brumas,
guardo, na caixa da memória, as curvas de uma estrada
que me cansei de ver, percorrer, imaginar: para nada.
Abri a casinha de chocolate, plantei o feijoeiro, calcei as
botas,
fui ao baile e não perdi o sapatinho: perdi as asas de
sonhar,
voltei ao lume e ao borralho, perdi a partitura - todas as
notas.
Compus de novo as letras, juntei todas as palavras a
arranhar
a vida, a sangrar o coração, a despir a alma em fogo gélido.
Há recantos por enfeitar e um pó aguado por limpar – fétido.
É apenas tempo de VESTIR O CORAÇÃO DE NATAL- se for
possível.
segunda-feira, dezembro 12, 2016
CICATRIZES DE VIDA
O meu corpo é um mapa onde se lê a vida,
onde se lê cada caminho percorrido, vivido.
O meu corpo tem cicatrizes de pomba sofrida
e de anjo tombado: de um céu passado, perdido.
O meu corpo tem os rasgões de farrapo gasto
e as lantejoulas de alegrias de sabor casto.
O meu corpo é um mapa onde a alma se encontra
e o coração se esconde, e os anos se aninham sem fim.
O meu corpo tem as marcas que os gumes, sem conta,
lhe deixaram escritos - como poemas de marfim.
O meu corpo guarda as feridas sem penso nem balsamo,
sem unguento nem sutura; apenas abertas, sem cálamo.
O meu corpo tem cicatrizes de um percurso que a via abriu,
tem trilhos de história que fazem de mim - eu.
O meu corpo tem punhais cravados e estrelas que ninguém viu.
Tem cores de arco-íris e jasmins, rosas, violetas de um
jardim meu.
O meu corpo tem as estradas que a vida lhe escreveu,
as memórias, os sonhos, as páginas recônditas que ninguém percorreu.
O meu corpo é um mapa de caminhos entrecortados
de esperanças truncadas, de soluços calados e alegrias
passadas.
O meu corpo é um livro de capítulos enevoados
e de marcas de melodias estranhas, tortas e enviesadas.
O meu corpo é a cicatriz do tempo, das mil histórias
retalhadas
que a vida lhe escreveu. O meu corpo é tabernáculo de
orações soluçadas.
O meu corpo tem escrito um amor feito punhal
num sonho que soçobrou, e uma lágrima que se perdeu na
eternidade,
tem um lenho que o travessa e um rio de manso caudal,
tem uma estrela que se cala no frio da crueldade.
Mas o meu corpo encerra a força de cada cicatriz magoada,
a luz de cada lua esforçada: de cada nova madrugada.
E tem páginas por escrever e sóis por amanhecer,
embora marcado - cicatrizado -, o meu corpo ainda luta,
ainda sabe caminhar e querer, ainda esgrima por sobreviver,
espera, calado, no silencio: espera em serena e leve escuta.
O meu corpo tem cicatrizes que a vida lhe traçou,
um vestido duro e belo de um percurso que passou…
sexta-feira, dezembro 09, 2016
ENIGMA
imagem retirada da net |
Toca um piano na brevidade esparsa da lua,
numa noite de ventos do mar.
A cada nota, uma criança de alma nua
volteia, cega e muda, errando o verbo amar.
Melopeia de embalar os sonhos jamais sonhados,
os desejos presos, toscos e inconfessados.
Toca um piano, notas soltas, na noite de espanto,
de solidão e de perdidos passos sem destino.
A música eleva-se: breve pomba de arrolhar de encanto,
ecoa, distende-se, contrai-se: negro peregrino
de passos torpes e mãos de gélidas madrugadas,
de olhos glaucos e preces breves, dilaceradas.
Toca um piano as dores de um parto ardente
e a suavidade de um amor por fazer, por crescer,
e as teclas vibram sob a pressão crescente
das mãos que acariciam as notas a nascer.
Melodia de menino de olhar triste e perdido,
que o cais vê e o mar abraça, um horizonte sem sentido.
Toca um piano pela noite de esperas, longas, frias,
e a alma embranquece, e o coração morre um pouco mais.
E a melódica harmonia eleva-se, estonteada de fantasias,
ataviada de plumas e rendas: tão oca, vazia, ébria demais.
Escondeu-se a lua, envergonhada de nudez breve,
o mar calou-se e o vento adoçou-se numa aragem leve,
e o piano chorou, o homem, sobre ele, os sonhos derramou,
entregou a alma e despiu o medo. Agarrou farrapos de vida,
fez deles um manto de negra esperança e dançou,
com asas de gaivota curiosa e pés de bailarina esquecida,
e o piano, pela noite fora, apenas soluçou as notas de um enigma.
sexta-feira, novembro 25, 2016
SETE...SETE SORTILÉGIOS MANSOS..
Sete páginas por escrever e sete sonhos por sonhar,
sete anjos por encontrar e sete luas por enfeitar.
Sete sortilégios de amor e sete ondas por alcançar.
Sete sóis, dentro de sete estrelas, e sete lágrimas a
derramar.
São sete os anéis de fogo e sete os vulcões adormecidos,
sete são as lagoas e sete as purpúreas auroras.
São sete os suspiros abandonados e despidos
em sete almofadas de cetim, perdidas em nebulosas horas.
Sete, as cores das dores de amor e sete são os pecados
mortais,
onde me perco e me encontro. De que me visto e enfeito.
Sete flores por florir e sete manhãs por nascer. Sete
olhares leais.
E são sete as setas cravadas, amargamente, no peito.
Sete são as capas vermelhas, rubras de amargor e desencanto,
sete são meus nascimentos e sete serão minhas mortes.
Serão sete os meus delírios e as dobras do meu manto,
e mais sete hinos de agonia divididos por mil sortes.
Serão sete anéis de compromisso com orvalhos matinais,
e sete noivas enfeitadas com sete diademas de ouro.
Serão sete sapatinhos de cristal quebrados em vazio cais.
Sete anjos secam lágrimas – pérolas de um qualquer tesouro.
Sete páginas repletas de sortilégios mansos em sete marés de
ternura.
Serão sete as manhãs de Outono e sete as noites de invernia.
Sete palavras de dor, sete beijos de amargura.
Vão ser sete as ninfas cantando em dulcíssima maresia.
Venham sete barcas de
Caronte! Venham sete trovões de alquimia.
Venham brados, venham sonhos, em amanheceres de poesia.créditos tribodosgoticos.com |
domingo, novembro 20, 2016
ONDE HABITAM OS ANJOS....
"No sexto nível do céu, onde habitam os anjos",
Para lá do infinito, e do finito, desta terra,
onde os abismos são grifos de negras penas,
e os olhos se perdem do horizonte.
Para cá do principio e do fim de uma guerra,
onde as vidas se perdem, ou ganham, serenas.
E as mãos, abertas, vazias, constroem a ponte,
por onde o sonho vai passar,
por onde a dor vai desfilar.
"No sexto nível do céu, onde habitam aos anjos".
Debaixo da noite e sobre o dia, nas mãos das estrelas,
nas asas do desejo e no chão dos desencontros,
nas gargantas mudas de mágoa.
No fundo dos mares, entre naufrágios e querelas,
entre tesouros e medos, entre perdas e reencontros.
Na estiagem de cada suspiro, no acender de cada frágua.
Debaixo da terra e dos céus,
envolto em neblinas e véus.
"No sexto nível do céu, onde habitam os anjos".
Há sois que não se deitam e luas de eterna luz,
há sorrisos, que os anjos guardam, e sonhos que não morrem.
Há uma insana esperança férrea,
que pontua a vida dos homens que carregam a sua cruz.
Há uma estrela, que os anjos cuidam, e águas frescas que correm
como corsa em campo aberto, livre...etérea.
"No sexto nível do céu, onde habitam os anjos"... Será?
terça-feira, novembro 08, 2016
OS NOMES QUE TENHO...
Os nomes que tenho deu-mos a vida;
Baptizou-me: Mulher e deu-me um coração amante.
Baptizou-me: Sonhadora e deu-me uma alma errante.
Baptizou-me: Criança e vestiu-me de alegrias.
Baptizou-me: Sonho enfeitou-me de fantasias,
fez delas o meu magistério.
Os nomes que tenho deu-mos a vida;
Baptizou-me: Mar e encheu-me de esperanças.
Baptizou-me: Nuvem enfeitando de lembranças.
Baptizou-me: Brisa e fez-me voar para longe.
Baptizou-me: Névoa e fez-me segredos de monge,
em árido ermitério.
Os nomes que tenho deu-mos a vida;
Baptizou-me: Tristeza vestindo-me de negra dor.
Baptizou-me: Mágoa estampada em tela sem cor.
Baptizou-me: Noite esperando por uma nova manhã.
Baptizou-me: Esperança acreditando no amanhã,
e em todo o seu mistério.
Todos os nomes que tenho foi a vida que mos deu.
Mas apenas um se destaca: aquele com que assino,
aquele que me define, aquele que sou mais EU.
O que me rege olhar, o que me rege o destino;
O meu nome : MULHER
quarta-feira, novembro 02, 2016
MULHER TERRA...POR NAVEGAR
imagem: espacoalpha |
Mulher terra: teu corpo amortalhado de invernia
guarda cioso as sementes dos Verões por nascer
e as chuvas que choram ensopando a cercania,
os prados e os campos que o sol fará florescer.
Mulher terra: trazes no ventre a esperança,
nas mãos passam as contas do teu rosário de dor.
E nos olhos, que o mar alcança, pedes a temperança,
rezas a inclemência, semeias trabalho e amor.
Mulher terra: teus pés são gaivotas sem dono nem chão,
e teus olhos são lagoas por onde adormece o Verão.
Mulher terra: teus seios – uvas doces – intocados de
solidão,
teus cabelos as raízes que dão vida e perdão.
Mulher terra: sofrida de tanto penar, orar, esperar,
és pedaço de solo fértil que mãos duras não sabem arrotear,
nem arados, nem foices, nem enxadas sabem onde começar,
porque tu, Mulher terra, não tens principio nem fim para
mostrar.
Mulher terra: confundes-te com o solo e as plantas a
crescer,
mas és também onda azul a rebentar: gaivota breve fugidia,
és o tudo e o nada que na lava veio lutar e veio morrer.
És a hortênsia que teima em ser flor, embora singela e
tardia.
Mulher terra: soluças como a terra em convulsão,
amas como se não houvesse mais perdão,
dás teu corpo às intempéries para que nasça o pão.
És somente Mulher terra enfeitada de azul, verde e carvão.
Mulher terra: porque choras? Por que lágrimas te perdeste?
Por que rios te esvaíste e por que mares navegaste?
Que gaivotas e milhafres teus olhos guardaram no muito que
já viveste?
Quantos barcos e arpões arremessaste? E que pão do diabo já amassaste?
Mulher terra: somente mulher, deitaste raízes profundas,
cravadas em solo duro,
bebendo das águas da pobreza, das privações e da luta.
Mulher terra: que és semente, és flor, és mar, és suporte de
amor puro
de beleza sem igual. Um dia o teu corpo, em eterna escuta,
vai saber ser nuvem, ser margem, ser casca de noz arrojada…vai apenas navegar.
terça-feira, outubro 25, 2016
UM ÚNICO MAR...POR NAVEGAR
Há no mar o mistério do azul, e o profundo do negro,
há no ar o sal de descalço viver.
E nas ondas de alva espuma, as palavras por dizer,
escondem-se dos lábios por encontrar.
Na morte aparente das hortênsias, segredam-se sonhos,
murmuram-se contratempos e desencontros,
esperam-se chuvas e raios de sol, esperam-se abraços de mar.
A saber a sal, a saber a tristeza terna e esperança.
Há no mar, de azul cobalto, um olhar perdido no horizonte,
e um sopro de navio em busca de porto de abrigo.
Há o ardor da labuta de corações a mourejar,
de caudas na distancia, de tempos de intemperança,
de sonhos mortos e outros por sonhar.
E há as gaivotas sempre prontas a partir...e a voltar.
A lava negra, eriçada, de trágica e rude beleza
que embala todos os medos e a trágica fragilidade do ser.
Há no mar, revolto de fúria incontida, a certeza da presença,
a fome por matar, a sede por aventurar, a dor a espreitar,
e há o fogo em cada olhar. E há a mansidão nos pastos a verdejar.
Há o frio, o agasalho, o pão, o ralho, a mão calejada de pelejar.
E uma beleza intemporal, um sonhar acordado e um morrer a cada passo
para logo ressuscitar.
E sempre o mar, salgado mar, e o verde, de louca esperança
a invadir a alma, a vestir o corpo, a coroar cada sonho.
Há um mar, eterno e único mar, onde o mundo acorda e dorme,
onde a vida ainda vibra...Ainda acontece... Há um mar - Este mar!
há no ar o sal de descalço viver.
E nas ondas de alva espuma, as palavras por dizer,
escondem-se dos lábios por encontrar.
Na morte aparente das hortênsias, segredam-se sonhos,
murmuram-se contratempos e desencontros,
esperam-se chuvas e raios de sol, esperam-se abraços de mar.
A saber a sal, a saber a tristeza terna e esperança.
Há no mar, de azul cobalto, um olhar perdido no horizonte,
e um sopro de navio em busca de porto de abrigo.
Há o ardor da labuta de corações a mourejar,
de caudas na distancia, de tempos de intemperança,
de sonhos mortos e outros por sonhar.
E há as gaivotas sempre prontas a partir...e a voltar.
A lava negra, eriçada, de trágica e rude beleza
que embala todos os medos e a trágica fragilidade do ser.
Há no mar, revolto de fúria incontida, a certeza da presença,
a fome por matar, a sede por aventurar, a dor a espreitar,
e há o fogo em cada olhar. E há a mansidão nos pastos a verdejar.
Há o frio, o agasalho, o pão, o ralho, a mão calejada de pelejar.
E uma beleza intemporal, um sonhar acordado e um morrer a cada passo
para logo ressuscitar.
E sempre o mar, salgado mar, e o verde, de louca esperança
a invadir a alma, a vestir o corpo, a coroar cada sonho.
Há um mar, eterno e único mar, onde o mundo acorda e dorme,
onde a vida ainda vibra...Ainda acontece... Há um mar - Este mar!
domingo, outubro 16, 2016
DEPOIS? DEPOIS A VIDA....TALVEZ
Calam-se os sentimentos, enterrados
vivos, no fundo da alma,
ou poço sem fundo, ou abismo sem volta.
E depois? Depois a vida, depois o amanhã, o continuar.
Matam-se os sentimentos onde nada importa, nem a calma,
nem a ira, nem a dor, nem mágoa ou a revolta.
E depois? Depois... o nada, ou o tudo, depois o acreditar.
Olhos no céu, ensombrado e negro, céu de tempestade,
céu de desolação e tormenta.
Mãos no mar, profundo, tão doce quanto traiçoeiro,
tão belo quando feroz. Quanto pode o amor? A amizade?
Quanto pode o perdão, se a dor aumenta?
Como navega o barco que perdeu o timoneiro?
Porquê? será a eterna pergunta de um alma magoada,
em busca, silenciosa e contida, arrepanhada de ausência.
Enxovalhada de abandono, na dúvida amortalhada.
A um tempo leve, dura, de efémera existência.
Calam-se os sentimentos, caídos num qualquer poço sem fundo,
abafados de sonhos, despidos de lutas inglórias e duras,
tombados na batalha da vida, feridos de desprezo.
Calam-se os sentimentos, amortalhados neste mundo,
para que passem ao oblívio, sendo apenas memórias puras
de onde se expurgou o veneno. Maldade e menosprezo.
E depois? Depois... a vida, o amanhã... o que for....
ou poço sem fundo, ou abismo sem volta.
E depois? Depois a vida, depois o amanhã, o continuar.
Matam-se os sentimentos onde nada importa, nem a calma,
nem a ira, nem a dor, nem mágoa ou a revolta.
E depois? Depois... o nada, ou o tudo, depois o acreditar.
Olhos no céu, ensombrado e negro, céu de tempestade,
céu de desolação e tormenta.
Mãos no mar, profundo, tão doce quanto traiçoeiro,
tão belo quando feroz. Quanto pode o amor? A amizade?
Quanto pode o perdão, se a dor aumenta?
Como navega o barco que perdeu o timoneiro?
Porquê? será a eterna pergunta de um alma magoada,
em busca, silenciosa e contida, arrepanhada de ausência.
Enxovalhada de abandono, na dúvida amortalhada.
A um tempo leve, dura, de efémera existência.
Calam-se os sentimentos, caídos num qualquer poço sem fundo,
abafados de sonhos, despidos de lutas inglórias e duras,
tombados na batalha da vida, feridos de desprezo.
Calam-se os sentimentos, amortalhados neste mundo,
para que passem ao oblívio, sendo apenas memórias puras
de onde se expurgou o veneno. Maldade e menosprezo.
E depois? Depois... a vida, o amanhã... o que for....
sexta-feira, outubro 07, 2016
RESTOS MORTAIS
Passaram os sois e as luas, as chuvas e os vendavais,
passaram as rosas e os lírios, e o tempo a arrastar.
Passaram as horas e os dias, passou a vida sem parar,
morreram as violetas, secas de esperar demais.
Secaram também os sonhos, perdidos no esquecimento,
os passos esfumaram-se, sem rumo, enganados no andar.
E os olhos perderam brilho e a força de querer olhar,
de querer ver o invisível, ou o óbvio em cada momento.
Passaram os sois e as luas, as marés e os marinheiros,
passaram viagens e sons, momentos e solidão,
tudo passou, arrastando o tempo em turbilhão.
Restam apenas memórias como densos nevoeiros.
Onde ficaram as horas, as esperas e os desencontros,
onde se esconderam os anos, pérfidos de tanta mentira,
onde habita o bem querer? Em que órbita é que gira?
Onde ficou o tudo e o nada, onde são agora os encontros?
Passou, como nuvem sem rumo, como ave sem lar,
como velho sem tecto, ou criança sem sorriso.
Passou como vento suão, duro e rude a arrasar.
Passou como folha desencantada a quem foi roubado o juízo.
E foi dor e espada e ferrete, e foi grilheta a apertar,
foi furacão violento que passou destruidor.
Foi o Inverno e a neve, foi um Estio duro a queimar.
E foi lágrima e foi morte, Queronte ameaçador.
Passaram os sóis e as luas, passou o tempo sem parar,
restam mortalhas de sonhos e um coração a sangrar.
sexta-feira, setembro 30, 2016
NOS BRAÇOS DE UM MAR DESCONHECIDO
Adormeço nos braços
do mar, cobrem-me o corpo as gaivotas
com penas de
duro penar. Nos cabelos, verdes algas, escondem-se ilhas ignotas.
A lua veio
embalar um sono de sonhos profundos,
e espalha
docemente no ar, pó de estrelas, visões de novos mundos.
Adormeço nos
lençóis da fantasia, como se menina ainda fosse,
como se a vida
não houvesse traído os sonhos, amordaçado o coração,
quebrado as
asas de uma andorinha perdida da Primavera precoce.
Embalado o coração
dorido e a alma exangue, sigo no silêncio de uma oração
que da voz do
mar se eleva. Sigo na concha de um nautilus aventureiro,
vou á deriva da
maré. Vou á bolina do poema, vou como arrojado arpoeiro
que na proa se
ergue sem medo. Vou como anjo ou demónio, pétala lançada ao vento.
Adormeço nos
braços do mar, esqueço a vida, a dor, o pranto. Esqueço o desalento.
Apenas vou rumo
ao infinito; borboleta de mil cores que das mãos do sonho se eleva.
quinta-feira, setembro 22, 2016
SER APENAS MULHER
Não quero ser o sorriso que morre lento no rosto,
nem a gargalhada oca que entulha a garganta,
falsa, de circunstancia, com sabor a fogo posto.
Não quero ser quem não sou; nem rainha, nem infanta,
açafata ou meretriz. Nem rochedo, nem oceano,
nem demónio ou querubim, nem tão pouco vago arcano
porque a magia perdeu-se de mim.
Não quero ser a alegria que se cola e se força,
nem a tristeza eminente que veste a pele desnudada.
Não quero ser quem não sou; nem predador nem corça
acossada pelo medo. Nem águia ou andorinha voando tresloucada.
Nem rosa, jasmim ou verbena, nem faia, nem salgueiro,
nem folha perdida no vento, nem nuvens de aguaceiro.
Porque a magia perdeu-se de mim.
Quero ser somente a alma que pisa a estrada da vida,
que trilha o caminho deserto, empoeirado de tempo.
Quero ser apenas mulher entre o cá e o lá dividida,
pés nus carregando os anos como duro contratempo.
Quero ser somente o que sou, sem tintas nem adornos,
sem atavios ou jóias, sem enfeites ou esbatidos contornos.
Porque a magia perdeu-se de mim.
Quero ser a mulher que caminha, ainda que o sorriso morra
no rosto que se cansou de sorrir.
Quero ser a mulher que olha, ainda que olhar já não corra
sobre os prados a florir.
Quero ser a mulher que sou, ainda que o brilho esmoreça
nos anos que passam velozes.
Quero ser a mulher que sou, ainda que a esperança apodreça
no cansaço de esperas atrozes.
Não quero ser o sorriso que morre amargo no rosto!
nem a gargalhada oca que entulha a garganta,
falsa, de circunstancia, com sabor a fogo posto.
Não quero ser quem não sou; nem rainha, nem infanta,
açafata ou meretriz. Nem rochedo, nem oceano,
nem demónio ou querubim, nem tão pouco vago arcano
porque a magia perdeu-se de mim.
Não quero ser a alegria que se cola e se força,
nem a tristeza eminente que veste a pele desnudada.
Não quero ser quem não sou; nem predador nem corça
acossada pelo medo. Nem águia ou andorinha voando tresloucada.
Nem rosa, jasmim ou verbena, nem faia, nem salgueiro,
nem folha perdida no vento, nem nuvens de aguaceiro.
Porque a magia perdeu-se de mim.
Quero ser somente a alma que pisa a estrada da vida,
que trilha o caminho deserto, empoeirado de tempo.
Quero ser apenas mulher entre o cá e o lá dividida,
pés nus carregando os anos como duro contratempo.
Quero ser somente o que sou, sem tintas nem adornos,
sem atavios ou jóias, sem enfeites ou esbatidos contornos.
Porque a magia perdeu-se de mim.
Quero ser a mulher que caminha, ainda que o sorriso morra
no rosto que se cansou de sorrir.
Quero ser a mulher que olha, ainda que olhar já não corra
sobre os prados a florir.
Quero ser a mulher que sou, ainda que o brilho esmoreça
nos anos que passam velozes.
Quero ser a mulher que sou, ainda que a esperança apodreça
no cansaço de esperas atrozes.
Não quero ser o sorriso que morre amargo no rosto!
segunda-feira, setembro 05, 2016
PÕE-SE O SOL EM MAIS UM DIA
foto de arv |
Há momentos que as palavras não dizem
e as almas não retêm. São grandes, grandes demais.
Há sentimentos que os olhos não traduzem
e as mãos não guardam.Não podem, são simples mortais.
foto de arv |
E com o sol se deitam os sonhos e as dores,
se aconchegam a esperança e o querer.
No mar...O reflexo da alma e os odores
de um Verão doirado por entre os dedos a escorrer.
foto arv |
É uma bola amarela que brinca nas mãos do céu.
Como se uma criança risonha lhe pegasse
e a fizesse brilhar.
São os sonhos que se deitam num mar ateu,
mas que rezam as "vésperas", para se purificar.
E o sol se deita em águas de frescura,
e diz "boa noite" com um ar de ternura.
E os sonhos não morrem e os desejos não passam,
os homens são loucos e as estrelas não calam
o que grita nas almas e nas bocas caladas.
O sol deixa um rasto de doirado tom,
e o mar marulha na areia sem som,
cansada de um dia de Estio e calor.
Cansada de um dia de alegria e dor.
Cansada de mentiras de sombras alongadas.
foto arv |
Subscrever:
Mensagens (Atom)
O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA
As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...
-
PENSAMENTO SOLTO Elevo o pensamento para bem longe, onde as asas dos pássaros não vão e o som das águas não chega. Elevo o meu coração, feit...
-
Dou-te uma lágrima de amor guarda-a junto ao coração. Dou-te uma vida e o ardor de quem ama sem restrição. Dou-te o meu sonho mais lindo, o ...
-
Abracei o ar fresco e o céu cinzento da manhã, encolhi-me nas profundezas do casaco quente, e deixei que a aragem me beijasse o rosto, permi...