quarta-feira, dezembro 30, 2015

TELA INACABADA


Calam-se os pincéis na pressa das horas
que medeiam entre o nascer e o ocaso.
Cala-se a solidão onde ainda moras
e onde me perco tropeçando ao acaso
nas pedras das memórias e dos sonhos perdidos.
Nos trilhos das saudades e de beijos esquecidos.




Calam-se as cores da minha tela inacabada 
que o vazio veio pintar de negros tons.
Cala-se a lembrança e a esperança ansiada,
morrem aos poucos todos os sons
das promessas implícitas e afloradas,
das promessas toscas, balbuciadas.

Calam-se as horas que arrastam o virar do ano,
e calam-se os sonhos que perderam a cor.
Cala-se o mundo mas o tempo corre profano
e nada parece calar esta dor
que me grassa no peito e perturba a calma,
que me invade sombria e me rasga a alma.

Calam-se os pincéis na minha tela inacabada
e a vida esvaí-se por um ferida profanada.

sábado, dezembro 26, 2015

PRINCESA DA LUA










- Olá princesa da lua! 
Onde estão os teus cabelos de argêntea luz?
E o teu olhar de embevecida paixão?

 - Olá princesa da lua!
Onde escondes a dor da tua cruz?
E o peso do engano e da desilusão?

 - Olá nuvem que passas breve,
enevoando o sol nascente
com as tuas brumas de salgado sabor.

 - Olá nuvem que passas breve,
os cabelos levou-os um vazio dormente
e o olhar perdeu-se num dia sem cor.
A dor é o adorno que me enfeita a fronte
e o engano e a desilusão são barca de Caronte
que me leva por inusitado mar.

 - Olá princesa da lua!
Onde guardas o teu coração, gelado de acreditar?
E os teus sonhos onde pairam? Onde vogam?

 - Olá princesa da lua!
Porque choram os teus olhos de prateado luar?
Derramando diamantes que te derrogam.

 - Olá nuvem que passas breve.
deixando no céu o teu odor,
o meu coração levou-o o mar em maré de invernia.
E os meus sonhos guarda-os um amor
que foi grande e forte, que foi vida e cor um dia.
Deixa que chore diamantes, são pedaços de alma nua.
São os restos de uma vida para que a vida flua.

 - Adeus princesa da lua de olhos de eterno luar...
 - Adeus nuvem de brumas leves em céus limpos a flutuar...

sexta-feira, dezembro 25, 2015

ESVAZIADO CASULO

Mero invólucro de carne e ossos consumado
onde os sonhos perderam o norte e o sentido.
Os olhos ainda vêm as auroras e os ocasos,
os lábios ainda se arrepiam num sorriso apagado,
mas o mundo parece vago, escuro e tão despido.
Um mero invólucro o meu para que não haja atrasos
nos caminhos por percorrer, nas madrugadas por nascer, 
apenas um casulo feito de brumas e desenganos.
Nas mãos os farrapos de uma vida esfumada,
nos olhos um lírio roxo de longo padecer.
No coração um vazio que se fez ao longo dos anos
e se colou à pele camada após camada, após camada.
Mero invólucro esta minha concha vazia
onde os sentidos se perdem e diluem devagar,
onde os dias são noites e as noites são luas a morrer.
Onde do limbo espreita  um olhar de dorida agonia
e do vazio a voz rouca de um passado por enterrar.
E os dias passam, arrasta-se a vida por mim a escorrer.
Mero invólucro de perdida alma de negras brumas
enfeitada de vazios e ocos enganos... Mero invólucro!



CONCHA VAZIA


O sol já subiu no céu de mais uma manhã de inverno,
o frio invade cada fibra de uma alma despida, nua,
tão nua, tão sofrida, tão vazia.
E o sol brilha lembrando que ainda há luz no inferno,
e esperança na concha vazia de uma verdade crua,
desesperadamente dura e fria.

Os sorrisos enfeitam as almas, os rostos as vidas,
as mãos ainda se dão e os beijos ainda são beijos
de um sonho que ficou por cumprir.
Ainda há dias de brumas mágicas e antigas
e fadas nos bosques, e amores e desejos,
Ainda há corações doridos a sucumbir.

Há uma concha abandonada em praia deserta
e um caminho escuro por percorrer,
há passos incertos em trilhos inseguros, 
E ondas de dor em ferida aberta.
Há sois e há luas e há sonhos a morrer.
O sol já subiu no céu, mas não quebra os muros
que envolvem um coração vestido de brumas.

sábado, dezembro 19, 2015

ESTE ANO...


Este ano....
as estrelas estão mais longe
o calor partiu para rumo incerto.
Este ano....
sou grão de areia, sou monge
sou ave perdida em rubro deserto.
Este ano....
não brilha o lume no peito,
apenas um sorriso envergonhado.
Este ano....
nada tem cor, nem sabor nem jeito,
passa o tempo, desajustado.
Este ano...
fecho o livro devagar, sem reler as minhas páginas,
sem me prender em sonhos vãos.
Este ano...
É mais um ano que passa, só mais um...a passar.... 

quarta-feira, dezembro 09, 2015

CORDAS DA MINHA VIDA


Dedilho as cordas da minha vida para lhe ouvir os sons
que da distância me lembram que tive uma vida...Um dia.
Olho pelo denso nevoeiro os meus passos marcados pelos tons
de uma melodia estranha, quase profana, que me arrepia
e coloca neve nos cabelos, sulcos no rosto, lágrimas no olhar.
Tudo deveria ser simples. Tudo deveria não custar a passar.

Dedilho as cordas das minhas memórias para me lembrar
que. um dia fui mulher, flori. Sorria como borboleta estonteada,
louca, prenhe de sonhos, de desejos, de vida, de amor para dar.
Olho pelas brumas matinais que me envolvem inebriada
e me vestem de liquida agonia, de calada e profunda dor.
Tudo deveria ser manso e meigo, Tudo deveria ser AMOR.

Dedilho as cordas da minha guitarra quebrada,
da minha alma negra, dolorosamente marcada.
Dedilho as cordas de uma torturante agonia
que me inunda e profana, que me percorre à porfia.


sexta-feira, novembro 27, 2015

VOGO NOS SONS...

Vogo pelos sons do meu mundo de águas infinitas
e de cantos de pássaros irreais. É este o meu mundo!
O meu espaço e o meu corpo, incorpóreo, leve.
Tenho asas de fada dos bosques e nos cabelos as fitas
de tranças que o tempo teceu num sonho profundo
que entretanto se perdeu de tão louco, de tão breve.
Vogo pelos acordes de uma única sinfonia universal,
vogo de nota em nota e deixo em cada acorde
um pedaço de alma despida e sem rumo.
Vogo sem peso, como bola de sabão intemporal
resvalando pela vida sem nada que me prenda ou recorde
um coração despedaçado, desfeito em ténue fumo.
Vogo por cada nota, cada som deste música suave,
que embala a noite escura e prenhe de segredos,
prenhe de sonhos desfeitos, rasgados por amadas mãos.
Vogo, elevo-me, plano, deixo-me levar pelo canto grave
dos caminhos desta vida. E trilhos os meus degredos
com pés de anjo e olhos de menina trago um punhado de grãos
de sonho que ainda lanço no espaço e vejo somente a flutuar.
Porque já não acredito que frutifiquem nem que possam germinar…
Vogo  pelos sons do meu mundo de faz de conta, caixinha de musica intemporal….





quinta-feira, novembro 26, 2015

UMA FORMA DE....LEMBRAR



Tentar esquecer é uma forma de lembrar” e eu quero esquecer!
Esquecer sem remorsos, nem mágoa nem saudade, apenas esquecer!
Mas se ao tentar estou a recordar, como deixo de pensar e de querer?

Quero tirar da memória as memórias de uma vida que passou,
de um pedaço do que fui, do que o tempo deu e já levou.
Não quero pensar, nem lembrar do que de nós sobrou.

Tentar esquecer é uma forma de lembrar” e eu quero continuar
o meu caminho sem peias nem algemas, sem sonhos por concretizar,
quero seguir o que me estiver destinado, sem mágoas para chorar.

Quero extirpar do peito o coração velho e gasto de tanto amar,
não preciso dele! Já nada mais tem para ver nem para dar.
Quero deixar a alma pelo caminho para que possa enfim repousar.

Tentar esquecer é uma forma de lembrar” e eu não quero o que não é meu!
Quero apenas trilhar o meu mundo, pequeno mas onde eu sou Eu!
Não, não quero mesmo nada do que o desejo prometeu.

Não quero porque foi sonho, só sonho… Nunca nada me foi destinado.






segunda-feira, novembro 16, 2015

REGRESSA A CALMA

A calma da noite branda penetra pelos meus poros abertos
sedentos de paz e serenidade, de silêncio e calma.
Tudo se aquieta no veludo sedoso de tranquilos desertos
que pela noite se escoam inundando o coração e alma.
A noite, eterna conselheira, vem envolver-me nos braços,
esses braços, ternos feiticeiros que embalam a dor
e afastam os fantasmas. Que desfazem os medos em pedaços
e iluminam as trevas, põem brilho e luz e até dão cor
á mais dura solidão. A noite invade-me mansa e suave,
como se todas as dores morressem ao seu toque mágico,
como se a escuridão e o silêncio fossem a chave
que abre todas as portas, desvenda até o segredo mais trágico.
A noite branda e serena é o balsamo que me invade a vida,
que me devolve a alma em requebros de uma calma ansiada
e a pulso conquistada. É minha de novo! Una, não repartida.
Invade-me a noite, a minha noite! Tão minha! Tão bem amada!



segunda-feira, novembro 02, 2015

PECADO MEU...






Pecado é amar desta forma insana, desesperada e ansiosa,
eu não sei amar-te de outra maneira. Só assim incondicionalmente!
E se não queres assim, deixa-me. Deixa-me no meu canto, silenciosa.
Faz de conta que eu morri, ou que nem nasci. Calei-me eternamente.
Pecado é amar com o coração todo e dele não sobrar nem o sangue
para bombear. Pecado é amar entregando tudo até ficar exangue.
Até perder a vida ou o que dela sobra, ou o que dela resta.
Pecado é continuar amando sem saber porquê, ou até quando,
sem saber para quê, sem ver o rumo e sabendo que nada presta,
que nada importa ou tem peso, valia ou préstimo. E eu não mando
no coração que chora e dói por um amor que é pecado
por ser tão grande e tão profundamente enraizado.

quarta-feira, outubro 28, 2015

CALMA NO TURBILHÃO




Invade-me uma calma de mares esquecidos e madrugadas vazias,
de mãos abandonadas num qualquer colo gelado e já sem vida,
Invade-me esta calma de noites brancas, de noites ocas e frias. 
Habito as profundezas mansas de um saber sem saber, onde, perdida,
me encontro sem lugar, sem passado, presente ou futuro.
Vogo num limbo azul calado, caindo aos poucos como fruto maduro
que o calor do Verão fez crescer e o Outono da vida fará sucumbir.
Invade-me esta calma sem sentido em que nada tenho ou sinto,
em que apenas e tão só caminho neste  meu fado a cumprir.
E vou calando a minh'alma e vou sufocando o meu grito. Minto
a cada passo na minha estrada, porque eu não entendo mais nada,
eu não sinto mais nada apenas esta calma podre em mim amordaçada

sexta-feira, outubro 16, 2015

PODIA

Podia escrever um amor sem limites ou uma paixão sem barreiras,
podia escrever momentos intensos de loucura e horas sem fronteiras.
Podia escrever-te em mil palavras de um fogo eterno e rubro
de uma cálida noite de verão ou de um frígido inverno obscuro.

Podia elevar-me nas asas de uma quimera pairando mansa
sobre a vida suspensa por invisíveis fios de luz de luar. 
Podia mergulhar nos abismos do esquecimento e numa dança
rodopiar  louca sem principio nem fim. A afundar... a afundar.

Podia escrever uma vida vivida, desdobrada e percorrida
ou todas as pedras que encontrei pelos meus caminhos.
Podia escrever todas as dores e toda a mágoa escondida
e gritar aos quatros ventos que estou de pé por entre os espinhos.

Podia escrever-te em tons de sonho, de maresia e verde prado,
ou escrever cada aurora,  esperança traída e desejo amordaçado.
Podia ser apenas  a nuvem passando breve no céu,
pássaro de fogo ou fénix, podia ser tudo! Menos breu.



sexta-feira, outubro 09, 2015

ACTRIZ

Sou actriz no palco desta vida, tenho mil máscaras que ponho
 e outras mil que vou retirando, mudo o riso pela lágrima,
mudo as certezas e as dúvidas, mudo a realidade e o sonho.
Sou actriz de drama e comédia que se bate e luta e esgrima,
sou rebelde e sou cordata, sou sopro de névoa e sou lua.
Sou o barro que se moldou nesta vida nua e crua.
Sou actriz de mil e um palcos, de mil papeis e mil cores,
paleta de um qualquer pintor, canção, poema e dança.
Cada papel me dá vida. Ou será que sou eu em mil dores
que a dou sem ter medida, sem remédio ou esperança?


Sou actriz neste palco que é a vida… Serei?


quarta-feira, outubro 07, 2015

ANIVERSÁRIO





Aproximava-se a passos largos o dia do seu aniversário. Todos os que sabiam a data estavam entusiasmados e a querer celebrar com ela de uma forma ou de outra. A todos respondia o que sentia bem lá no fundo de si - É um dia como outro qualquer, não há nada que festejar! Ou então por essa ordem de ideias todos os dias deveriam ser de celebração porque estamos vivos.
Sabia que com os seus mais chegados tinha que ceder e estar com eles e fazer alguma coisa de diferente para marcar o dia, mas o que mais lhe apetecia era desaparecer por 24h que fosse, mas desaparecer! Não queria ver nem estar com ninguém. Ou que a deixassem viver o dia como normalmente, sem mais nada. O que tinha de tão especial o dia do aniversário? Não era um dia normal de trabalho? Não tinha que se levantar, vestir, comer, andar…Fazer tudo o que era normal?! Então para que tanto barulho com o dia? Ela até gostava de fazer festa para as outras pessoas, que ligavam e davam importância ao dia de anos. Mas por favor, com ela não!
Ah se lhe fosse possível com um estalar de dedos ficar invisível durante aquele dia! Ou se não acordasse durante esse dia e não tivesse que agradecer os telefonemas e os votos de muitos parabéns, muitas felicidades e anos de vida, e blablabla, bla bla bla, blablabla! Porque não a deixavam viver o seu dia como ela queria intimamente? Já que era o seu dia…Então não a forçassem a nada. Deixassem-na quieta e calada no seu canto. Era só mais dia, que podia passar a arrastar sem mais compromissos, sem ter que ser outra que não ela. Ao menos que naquele dia não tivesse que mascarar o seu sentir!
E o dia chegou. Acordou cedo depois de uma noite pouco dormida e mal descansada. Havia muitos anos atrás por aquelas horas a sua mãe contava as horas para que ela viesse ao mundo. Para a mãe acreditava era um dia de felicidade imensa – fora mãe, tinha nos braços o fruto de um amor que duraria a vida inteira. Mas para ela … Era mesmo um dia mais que ontem e outro menos que amanhã. Suspirando levantou-se e foi arranjar-se para dar início ao “seu dia de anos”. Interiormente ia martelando os neurónios com a frase – É só um dia, são só uns telefonemas, são só provas de amizade. Agradece teres amigos e quem goste de ti e vive o mais calma e tranquilamente estas 24h. Daqui a nada é noite, e já está!

Arranjada e pronta olhou para o ecrã do telemóvel sobre a mesa-de-cabeceira e estranhou não ver os flashes de entrada de mensagens e mails como era hábito. Mas não deu importância e preparou-se para sair de casa. Uma vez na rua o ar matinal pareceu-lhe diferente, mais perfumado, mais vibrante e com cores mais vivas. Olhou em volta para tentar perceber o motivo da diferença. Não tinha chovido, o asfalto estava seco, as árvores sacudiam meigamente os seus cabelos verdes e amarelados balançando devagar e sussurrando uma melodia adocicada que a envolvia. Que manhã linda! E como se sentia calma e quase feliz! Algo a forçou olhar para o alto, para um céu azul sem mácula onde o sol já ia pondo tons avermelhados e dourados. Parecia o tecto de uma catedral pintado por mãos hábeis e sábias. Era uma aurora como havia muito tempo não presenciava. As vozes das pessoas que com ela se cruzavam soavam amortecidas, veladas por uma campânula que não via, mas de certa forma, sentia. Encaminhou-se para o carro com um sentimento novo a preenche-la; Continuava a não querer celebrar este dia como sendo o do seu aniversário! Isso não mudara! Mas pelo menos estava calma e serena, pronta a, como sempre, aceitar e responder com a mansidão de que era feita aos votos que em breve iam começar a chover no seu telemóvel.

sexta-feira, outubro 02, 2015

DIA DA PARTIDA











No dia em que parti, vesti-me de anil e rosa,
calcei sandálias de lírios, enfeitei-me de versos e prosa.
No dia em que parti fechei o coração a sete chaves,
cerrei janelas e portas, memórias duras ou suaves.
No dia em que parti enterrei sonhos e dores,
enterrei as minhas mágoas e todos os meus amores.
No dia em que parti deixei metade do que sou
morri e ao morrer, fui gaivota que voou.
Parti sem olhar para trás, deixei-me em cada canto,
aos poucos perdi o corpo, a alma, o rasto e o pranto.
No dia em que parti, ninguém deu porque eu partia!
Só eu sabia que ia, só eu caminhava e sorria,
só eu olhava sem ver o caminho que percorria.
Só eu trilhava descalça a estrada nua e fria.
No dia em parti, vesti-me de céus e de terra,
calcei sandálias de rosas e encetei uma nova guerra.
No dia em que parti pintei o olhar de infinito
arrumei na mala a esp’rança. Calei fundo mais um grito.
No dia em que parti ninguém soube, ninguém viu.

Atrás de mim só deixei a sombra de quem partiu.

quinta-feira, outubro 01, 2015

FAZES-ME FALTA



Olho o céu nesta manhã de Outono para um nascer do sol rubro, vigoroso e fabulosamente lindo, através das nuvens que a época vai trazendo. No horizonte, tingido de vermelhos e laranjas de amarelos e alilasados, sinto a tua presença. Espreitas-me do meio das nuvens. Desse teu novo lar onde a dor e a tristeza já não existem. Onde a paz, a luz e a segurança são a realidade do teu dia-a-dia. Onde vives um tempo já sem tempo, simplesmente porque atingiste a eternidade. Deixaste na terra o teu involucro físico, como lagarta que se metamorfoseou em borboleta, para te elevares transparente e sem peso a uma esfera silenciosa e calma. Uma esfera que eu acredito existe e para onde vão todas as almas. Para nos verem e nos sussurrarem as suas palavras inaudíveis, para não nos desempararem e velarem sempre por nós que ainda caminhamos na terra. “Sinto-te” velado pela nuvem que te esconde dos meus olhos, mas “sei” que estás do outro lado e sonho o teu sorriso, meio tímido como sempre te conheci. Sei o frio das tuas mãos que tal como as minhas, só aquecem se estamos doentes. Sei a tua presença que me dói não ter deste lado da nuvem. Fazes-me falta, papá, sabes isso não sabes? Neste capitulo eu ainda sou menina, sinto-me pequena e frágil sem o teu apoio e presença. Tenho que decidir sem ouvir a tua opinião, sem saber o que pensas, o que achas melhor. Mas “sinto-te” a olhar para mim desse teu lado, só não te consigo ouvir e no entanto sei que falas comigo. Mas sabes… as nuvens são paredes grossas, compactas, não deixam passar o som, nem a imagem. Gostava de enterrar a cabeça na nuvem só para espreitar para o teu lado e ver que estás bem. Que os teus achaques, dores que jamais disseste e dificuldades que eram visíveis mas que calavas e desvalorizavas o mais que podias, agora não te martirizam e estás de facto em paz e vives realmente na luz. Eu sei que sim, sinto que sim, mas… O ver para crer como S. Tomé não me larga…
As nuvens mudaram de cor porque o sol subiu no céu matinal e fresco deste Outono em que já não estás comigo e quase diria que vislumbrei uma fugaz imagem do teu rosto a espreitar. Sabes que eu não consigo atingir as nuvens, por isso espreitaste tu!


Um beijo deste lado da nuvem que é a barreira entre nós.

quinta-feira, setembro 24, 2015

ESCRAVA



Escrava do tempo e do silêncio vagueio pelas ruas da vida
procuro o chão que não tenho e o céu que já não vejo.
Agrilhoada à ausência que visto como segunda pele,
encastoo o olhar na distância que não quero percorrer.
Escrava de um sonho que foi o meu ponto de partida
palmilho descalça o trilho que é a luz do meu desejo.
Desejo que não morre ou esmorece, feito de frutos e mel
e de voz presa na garganta com palavras por dizer.

Escrava do tempo e da ausência, ao silêncio agrilhoada,
espero um tempo sem tempo, espero um amanhecer que tarda
e do qual já desespero. Espero de alma fria e calada.
Espero ... de sonhos despojada.


quinta-feira, setembro 10, 2015

VELHAS FOTOS

São imagens secas encastoadas na mortalha do tempo,
secas e dissecadas pelo bisturi aguçado da memória.
É a imortalidade presa num errático contratempo,
movimento estático captado em cada história.
História de vida ou de morte, história vivida,
história nossa, tua, dele, passada. Ou apenas vida.
São imagens desbotadas pelos estios e as invernias,
gritos calados, risos gelados na intemporalidade.
São momentos aprisionados em doces fantasias,
é suster o tempo na sua voracidade.
Fotografias perenes na moldura de uma vida

Imagens guardadas de uma história compartida.



sexta-feira, agosto 28, 2015

30 DIAS DE VAZIO


Como o tempo corre e voa, como o tempo não perdoa.
Como o tempo se esvai por um brecha que não fecha,
e esta dor surda que me habita e dura me magoa,
é a flecha que trespassa um coração que fraqueja,
que vacila, que estremece e morre um pouco também.

Passa o tempo e a vida, passam as horas sem conto,
mas esta saudade aguda não passa nem se esbate.
Já passaram muitos dias neste surdo confronto,
nesta mágoa dura e forte que sobre mim se abate.
Passa o tempo e eu sigo lutando sem mais ninguém.

Como o tempo corre e pula, como a vida se escoa,
como bate o coração que a dor ainda povoa?


domingo, agosto 23, 2015

UM CAMINHO, SOMENTE

Sempre que cair, que eu tenha a força certa 
para me levantar e recomeçar.
Sempre que me desviar da minha meta,
que tenha força para continuar a tentar
encontrar o caminho.
Seja qual for o meu destino,
seja qual for a minha guerra, ou batalha,
a minha luta ou o meu estranho trilho.
Sempre que o coração doer e eu fique encalhada
em glaucos nevoeiros sem brilho,
que eu tenha força para querer,
para não desistir e apenas morrer.
Ainda que uma morte sem morte,
ainda que uma morte sem vida.
Sempre que eu caia de tal sorte
que já não adiante estar envolvida,
que eu me levante ainda, levante mais uma vez.
Que me vista de força e  cubra a minha nudez
de alma perdida sem norte.
Sempre que cair, que eu tenha apenas força....
Ou algo que me conforte.



sábado, agosto 08, 2015

FALTA-ME O CHÃO...

Falta-me o chão. Falta-me o dia. Faltas-me tu.
O tempo ainda é breve mas a solidão, essa é imensa!
Vou dando os passos que não posso parar,
porque a vida segue e o tempo urge.
Falta-me o chão, falta-me o dia, faltas-me tu.
sou um vulcão de sentimentos, sou uma corda tensa
que tento corajosamente não rebentar.
Cai de novo a noite e logo um dia surge.
Falta-me o chão, falta-me o dia, faltas-me tu.
Tudo em mim chora e dói de uma forma intensa,
desmesuradamente dura, profunda a magoar. 
E eu sigo a viagem, mas tudo se insurge
contra este andar...Falta-me o chão...Faltas-me tu!


quarta-feira, julho 29, 2015

28/7/2015

Caem as lágrimas mansas como chuviscos de verão,
há um buraco profundo e negro no lugar do coração.
O vazio está mais oco, mais inaudível, mais sem volta,
faltas-me como o sol que se pôs no fim de mais um dia.
Ao meu redor, tudo gira normalmente em rédea solta,
este é só mais um momento na minha estrada só de uma via.

Caem as lágrimas de saudade imensa e dor sem fim,
Resta-me a consolação que descansas, ainda que longe de mim.
Há um vazio que me habita e arrasta sem dó nem piedade,
que me prende os pés como grilhetas de duras lâminas
que ferem, ferem, ferem.... E têm o gosto acidulado de eternidade.
Vazio e dor, colam-se à pele como densas neblinas

Caem as lágrimas, desfaz-se o trio, morre-se um pouco também,
Amanhã.... Amanhã haverá de novo o sol, o vento E a chuva que vem
lavar a vida e a dor. Amanhã....Amanhã será um novo dia....Talvez.


imagem retirada da net

sábado, julho 25, 2015

AMARGO TRAVO (23/7)

Como algodão doce traiçoeiro, os anos passam por ti,
não que os entendas, não que os percebas, não que os vivas.
Apenas resvalas por eles, como criança em escorrega...livremente.
Como nevoeiro ora denso ora leve o tempo, escoa-se aqui
deixando-te pelo caminho aos poucos sem prerrogativas.
E tu vais...Só assim, sem te dares conta, caminhas inexoravelmente
para um mundo de vácuo e vazio. Um buraco negro de silêncio eterno.
Os anos vão passando, e as memórias morrendo no frio inverno
do esquecimento, do vazio sem retorno, do olhar vazio sem vida.
Como algodão doce de amargo travo, a vida assim destinou.
E dói ver-te já sem passado, sabendo que o presente é o segundo
e o futuro nem tem expressão. Algodão doce, as tuas memórias
são brancas e flutuantes, desconectadas; ligação que alguém cortou
circuito que se degenerou e não volta, um vago e impreciso mundo
alheado da realidade. Estranho mundo sem cor nem histórias...
Como algodão doce abandonado em mãos sem jeito
a tua vida é agora um longo e vazio caminho imperfeito...

Como algodão doce....De amargo travo!


domingo, julho 19, 2015

ESTÁS EM MIM, SEMPRE!

Trago-te no peito e na alma, no olhar e coração,
trago-te sempre comigo. Parte de mim eternamente.
Trago-te no pensamento constante, na suplicante oração,
no medo da perda anunciada, tão temida permanentemente.
Mas trago no coração os teus dons, tudo o que me ensinaste,
o caminho que percorremos, tudo o que em mim deixaste.

Não quero ter que dizer até à eternidade, mas sei que o vou fazer,
mais cedo? Mais tarde? Amanhã, ou depois? Isso ninguém sabe.
Um dia será a realidade, um dia será o meu caminho a percorrer.
Agora a esperança é um raio de luz no qual deslizo sem alarde,
apenas pedindo que não seja já a dura hora da despedida.
Que eu não tenha que assistir já a tua partida.

Trago-te no peito, no coração e na alma, onde te gravaste
desde que me deste o ser.
Trago-te na pele, no sangue e na vida que me ensinaste
e nessa tua mão que sempre deste para não me perder.


terça-feira, junho 30, 2015

DEIXAS?












Gosto-te mais que chocolate e sabes que o adoro.
Gosto-te mais que água e sabes que sem ela não vivo.
Gosto-te mais que o por do sol no Outono, e sabe que neles moro
e neles te busco na linha do horizonte, e é neles que sobrevivo
a cada ausência, a cada distancia, a cada silencio calado.
A cada sonho mudo, preso na garganta e nas mãos…Tão apertado!
Gosto-te assim sem saber dizer, porque gostar de ti não se diz,
gostar de ti é um mundo, um caleidoscópio de cores e cheiros e sons.
Gosto-te de corpo e alma, de coração, de mãos, de olhos e de nariz,
porque te cheiro e me perco, porque te toco e me rendo aos teus tons,
aos teus acordes e notas. Ao teu riso e ao teu choro e quero cada lágrima
que derrames para nela chorar também. Deixas? Permite que encontre a rima,
que faça um poema, um conto. Que te ame como se não houvesse amanhã,
e hoje o tempo escasseasse e eu já não conseguisse correr para te ter?
Deixas? Permites que te goste desta forma inteira, rubra como uma nova manhã?
Deixas que te goste, que te queira, que te respire, que te viva com todo o meu ser?

Sabes…Gosto-te mais que tudo o que gosto….

Deixas que te ame assim?

quarta-feira, junho 17, 2015

UM DIA...TALVEZ UM DIA...


Um dia haverá paz, acordo e entendimento.
Um dia haverá sossego,  céus  limpos e brilhantes,
um dia saberemos olhar em conjunto o firmamento
e encontrar as mesmas estrelas distantes mas vibrantes.

Um dia deporemos as armas, a agressividade e o azedume.
Um dia seremos capazes de dar os passos concretos.
Um dia saberemos resolver e calar todo o queixume,
tudo o que emperra o caminho impedindo dar passos certos.

Um dia imperam os sorrisos,  o sonho e as gargalhadas,
seremos de novo crianças sem preocupações nem barreiras.
Um dia entenderemos a vida, riremos das encruzilhadas.
Um dia...Quem sabe um dia não ultrapassamos as cegueiras
e simplesmente aceitamos tudo o que temos nas mãos....


O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA

As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...