FELIZ 2007
Um local tranquilo onde os raios de lua, feitos palavras, lançam feitiços e enxugam lágrimas
sábado, dezembro 30, 2006
FELIZ ANO NOVO
Escrevemos as ultima linhas nos nossos "diários" de 2006, e já ao nosso lado está, intacto, o de 2007, pleno de folhas em branco e sonhos por concretizar.
Desejo a todos que o novo ano vos possa trazer, tudo aquilo que este velhinho que se arrasta para a saída não trouxe.
E, se me permitem, deixo apenas algumas palavras em estilo de prefácio num cantinho pequenino dos vosso novos diários;
Que o Novo Ano nos faça entender o que neste ano não entendemos, nos faça ver o que neste ano não vimos, nos faça amar o que neste ano não amamos, nos dê a capacidade de sermos melhores apenas porque nos deixamos tocar e invadir pelo AMOR.
FELIZ 2007
quarta-feira, dezembro 27, 2006
FELIZES OS QUE AMAM
Felizes os que amam,
os que se entregam,
os que recebem e dão,
aqueles que têm outra mão
para prender sempre a sua.
Felizes aqueles que vivem assim
em comunhão, aqueles que deram o Sim
perene, confiante, amante,
aqueles em cujo semblante
resplandece o sol, rebrilha a lua.
Nesse eterno amar, amando,
que só conhece quem, dando,
se entrega sem mais pensar.
Felizes os que amam,
os que lutam e sonham
por manter o amor fervente,
atiçam a chama latente
e conseguem continuar.
(Eu perdi, já não sei mais lutar!)
segunda-feira, dezembro 25, 2006
DESILUSÃO
Que festa é esta em que os corações se tornam negros como o carvão?
Que sons são estes? Distorcidos, distantes, vazios e desprovidos de sentimentos?
Que lugar é este onde os olhos são falsos e as mãos servem para destruir?
Que fealdade é esta? Que vazio é este?
Onde está o NATAL? O meu NATAL, aquele que amo, aquele que sei viver e quero viver?
Jesus, acende o Teu doce olhar de menino, aqueçe os corações de gelo, abre as mãos fechadas, os olhos cegos pelo mundano, os ouvidos surdos pelo egoísmo.
Jesus, que chegaste de manso adoça as horas frias e triste em que o vazio dos homens impera.
Que festa é esta em que o amor não se sentou à mesa, não deu as mãos, e foi escorraçado?
Que festa é esta em que se esquecem os laços familiares, e à tona vêm as fuligens dos carvões que no lugar de coração se elevam?
Jesus, pelo menos TU, estiveste, como sempre. Eu vi-Te, senti-Te, mas...mais ninguém. Doí!
sábado, dezembro 23, 2006
sábado, dezembro 16, 2006
NATAL DE PAZ
Do outro lado do mundo,
de um local de paz e luz,
veio o presente mais profundo
mais belo, na forma de cruz.
Do outro lado da vida
do céu intemporal,
uma presença dividida
entre cada ser mortal.
Chega-nos de novo o NATAL
num corpo de Deus menino,
pobre, nu, mas imortal,
nas palhinhas pequenino.
Chega-nos de novo a ESPERANÇA,
na força que Ele nos dá.
tempos de paz, de pujança,
de um amor que queremos já.
NATAL! Que seja de alma,
de coração, de interior,
que seja todo ele a calma
de quem ora por AMOR.
sábado, dezembro 09, 2006
TUDO QUE PEÇO À VIDA
Peço à vida tudo, para te poder ter,
peço à vida o impossível;
Tempo, espaço, razões para viver.
Peço-lhe o exequível,
ou talvez não, quem o sabe?
Apenas uma brecha no tempo,
no espaço, na malha apertada,
um suspiro, um sopro, um alento,
um espaço nosso, uma nova alvorada.
Peço à vida tudo, para te poder ter,
para te poder prender num amor intemporal,
para contigo cresce, amar, e apenas viver,
no sentimento maior, mais puro e imortal,
aquele que da alma brota, se expande,
se eleva e dá, se doa e se partilha.
Aquele que nada há que o comande,
ou que o trave. Aquele que sempre brilha
no firmamento do sonho, do eterno desejo,
do incontrolado anseio de nos termos,
e tão somente nos perdermos,
num único e longo beijo….
peço à vida o impossível;
Tempo, espaço, razões para viver.
Peço-lhe o exequível,
ou talvez não, quem o sabe?
Apenas uma brecha no tempo,
no espaço, na malha apertada,
um suspiro, um sopro, um alento,
um espaço nosso, uma nova alvorada.
Peço à vida tudo, para te poder ter,
para te poder prender num amor intemporal,
para contigo cresce, amar, e apenas viver,
no sentimento maior, mais puro e imortal,
aquele que da alma brota, se expande,
se eleva e dá, se doa e se partilha.
Aquele que nada há que o comande,
ou que o trave. Aquele que sempre brilha
no firmamento do sonho, do eterno desejo,
do incontrolado anseio de nos termos,
e tão somente nos perdermos,
num único e longo beijo….
segunda-feira, dezembro 04, 2006
ETERNAMENTE NOSSO
Tem que ser nosso,
eternamente nosso,
cada minuto intensamente vivido,
cada espaço minimamente dividido.
Cada segundo partilhado,
cada beijo docemente trocado.
Tem que ser nosso,
infinitamente nosso,
cada vez que estamos sós
e nos entregamos mesmo nós.
Tem que ser nosso
dolorosamente nosso,
cada adeus magoado.
Tem que ser nosso,
duramente nosso
cada deserto atravessado,
cada beijo ansiado,
cada espera angustiada,
cada festa adiada.
Tem que ser nosso,
eternamente nosso
eternamente nosso,
cada minuto intensamente vivido,
cada espaço minimamente dividido.
Cada segundo partilhado,
cada beijo docemente trocado.
Tem que ser nosso,
infinitamente nosso,
cada vez que estamos sós
e nos entregamos mesmo nós.
Tem que ser nosso
dolorosamente nosso,
cada adeus magoado.
Tem que ser nosso,
duramente nosso
cada deserto atravessado,
cada beijo ansiado,
cada espera angustiada,
cada festa adiada.
Tem que ser nosso,
eternamente nosso
SEDA DE TERNURA
Como é posivel que a tua pele sedosa
seja apenas de um cetáceo?
Que esses olhos meigos, doces
de uma ternura sem fim,
sejam apenas de um mamífero?
Que te exponhas à carícia espantosa
das mãos do humano coreáceo,
sem um estremeção de pavor, e te roçes
com essa meiguiçe, por mim?
És a penas um mamífero!
Uma espécie tão querida, tão amada
e tão sofrida.
Deixaste-me a alma lavada,
o coração bate em paz. Experiencia vivida...
Podemos voltar a trás?!
(golfinhos-12/06)
quarta-feira, novembro 29, 2006
BRANCA, GÉLIDA...A LUA
Do mais profundo do gélido luar,
o bafo branco da clara noite
vem de manso para se aninhar
no meu corpo, pedir-lhe que acoite
mais este beijo, que vem profanar
a pureza deste noite de encantar.
Da mais branca e distante lua
soltam-se mil raios de luz
que me percorrem a pele nua,
lembrando-me a dura cruz
de só de longe te poder amar,
só de leve te poder tocar.
Do mais gélido e profundo luar,
eleva-se apenas esta voz,
o nosso mutuo murmurar
"este amor, é de nós para nós".
segunda-feira, novembro 27, 2006
NOITE DE VENTANIA
Bem do fundo da minha alma
eleva-se um grito,
como um guerreiro rito,
que se espraia na calma
desta noite de ventania.
Bem do fundo do meu ser
há um amor que floresce,
que se desdobra e cresce,
cria asas, eleva-se a amadurecer,
nesta noite de invernia.
Bem do fundo de mim,
eleva-se um grito de prazer,
fruto de tanto te querer,
que flui entre nós, assim,
nesta noite de calmaria
em que o amor renasceu.
domingo, novembro 26, 2006
ENCHENTES TRANSBORDANTES
O céu vestiu-se de cinza carregado,
lançou sobre os longos cabelos
uma mantilha de negro marchetado,
e do olhar cansado e já sem desvelos
grossas bátegas de cristalina chuva
soltam-se em catadupa.
O céu vestiu o seu negro vestido,
carregou o olhar, pintou-o de noite,
feita trovoada e dor. Soltou um bramido
de paixão e mágoa, sem ter quem o acoite.
E a terra tremeu, vergou-se e rompeu
do seu ventre fecundo um grito nasceu,
virado para o céu, suplicante e perdido.
"Céu de tormentas, céu de invernia,
não chores mais, não mais te lastimes
ouve antes esta minha sinfonia
de águas correntes de forças sublimes.
Acalma a tua furia, cala os meus rasgões,
compõe nova musica de paz e calmia.
Ah céu!!! Cala esta minha agonia!"
quinta-feira, novembro 16, 2006
ARCO IRIS
Vestindo-me de azul celeste,
esquecendo o cinzento dos dias ocos,
ultrapassando os vermelhos das iras surdas,
pisando os lilases das dores marcantes,
saltando sobre os castanhos dos vales dos medos.
Vestindo-me de azul celeste,
beijando os verdes das festas,
acarinhando os amarelos dos mimos,
prendendo os laranjas das ternuras,
abracando os negros das saudades.
Vestindo-me de azul celeste
apenas para viver este dia....
terça-feira, novembro 14, 2006
ABISMO
Já nem sequer se importava com as vergastadas dos troncos semi-despidos, que lhe fustigavam o corpo e o rosto á passagem, apenas queria acabar de vez com o tormento que a aprisionava havia tanto tempo. Fugir, fugir, desaparecer, não olhar para trás, e se possível; Esquecer!O vento frio da noite de Inverno arrepiava-lhe a pele cortada aqui e além pelos troncos contra os quais se lançava ás cegas, o bosque que tanto amava e que percorrera vezes sem conta com tanto prazer, era apenas um manto escuro e tenebroso que a envolvia nos seus braços gélidos, apertando, apertando, apertando, sem a deixar respirar livremente. Mas os seus passos em correria dirigiam-se para a orla onde fervilhava o caudal cantante do rio que, por essa altura, já ia bem cheio. A dor, a mágoa, a tristeza imensa inundavam-lhe a alma, embotavam-lhe os sentidos, travavam o raciocínio. Ela era apenas uma mulher sem rumo, sem esperança, perdida, à beira do abismo onde se iria lançar feliz por finalmente encontrar a paz que tanto buscava.Mais um golpe no rosto, sentiu o gosto do seu próprio sangue nos lábios, mas não abrandou a corrida, clareava um pouco o negrume das árvores, sinal que o rio estava perto. A sua libertação, o fim do seu suplício, e para essa ténue claridade encaminhou os passos…
Na curva do rio, onde uma gruta se abria, e as aguas raramente chegavam, uma pequena fogueira ardia, sobre as brasas uma grelha e um peixe que assava com a pele a chiar. Com todo o cuidado e atenção umas mãos masculinas iam virando a grelha para que não esturricasse o jantar, alheio ao drama que sobre a sua cabeça corria, trauteava baixinho uma melodia suave. Mas os seus sentidos, sem motivo aparente, deram-lhe um sinal de alerta, algo não estava bem, uma inquietação crescente começou a apoderar-se dele, algo inconsistente, vago, difuso e impreciso, mas que o deixavam cada vez mais ansioso e desperto, de sentidos aguçados e em guarda.A noite ia agreste e o vento tinha dobrado a intensidade, os sons da noite eram fortes e as copas das árvores agitavam-se em constante agonia. Os seus ouvidos, como homem habituado à vida ao ar livre, descortinavam e identificavam as mais pequenas variantes sonoras, e assim, apercebeu-se de um som rápido e desconcertado que ia crescendo, e sobre a sua cabeça se fazia sentir. Animal? Pessoa? Mas quem se afoitaria numa noite daquelas cá fora, e a correr de tal forma? Animal não lhe parecia muito, mas pelo sim pelo não, melhor era ter a carabina à mão…
E de repente à sua frente abriu-se a porta libertadora e sem pensar ou hesitar lança o corpo magro e ferido para o espaço aveludado do vazio lá em baixo um baque surdo fere os sentidos dele que se volta atónito para o rio, vendo ainda o corpo mole entrar de chapão nas águas geladas e rápidas. O seu instinto de sobrevivência lança-o à água, e com braçadas rápidas e vigorosas alcança o lugar onde o corpo se afundou. Mergulha uma e outra vez, lutando contra a corrente forte e o frio. Acaba por embater nela, cujo corpo vai à deriva, desmaiada, seguindo a carreira do rio. Enlaça-a e puxa-a para terra, extenuado e enregelado, tremendo dos pés à cabeça. Chegados à margem pega-lhe ao colo e leva-a para perto do lume, deitando-a sobre o seu saco cama, enquanto tira as roupas molhadas e as põe a secar perto das chamas.Quem é aquela mulher, de cabelos encharcados, rosto vincado pela amargura, olhos fechados e boca contrita? Que lhe aconteceu? Escorregou? Lançou-se? Quem é?Embrulha-se num cobertor e vai para perto dela sem saber muito bem como lidar com aquele corpo meio despido, com golpes profundos escorrendo sangue e ainda meio inanimado. Ela vai aumentar-lhe o embaraço, ao despertar totalmente e olhando ao seu redor com uma tristeza imensa, desalentada e desesperada. Afinal está viva! Quem o mandou socorre-la? Que faz aquele homem ali? Só para lhe tolher os passos, mas que pretende, quem é?
E num repente salta de novo para tentar alcançar o gelo cantante que perto a aguarda. Rápido e certeiro, ele prende-a nos braços fortes e musculados, impedindo o acto tresloucado, e segurando-a com força enquanto ela se contorce louca naquele plexo que não quer. Debate-se até à exaustão e acaba vencida, cansada e num pranto incontrolado, abandonando-se no abraço que a não largou e agora ampara deitando-a suavemente de novo, sem se soltar do contacto do seu corpo.Um choro convulsivo e aflitivo ecoa sobre a ventania, aquele ser desprotegido e perdido soluça de rosto por terra, parece que mundo vem ás suas costas. Devagar, uma mão passa ao de leve sobre os cabelos molhados, desce pelo pescoço e contorna-o, percorrendo as costas que aos poucos se vão aquietando. O contacto quente da mão, o calor que das chamas se desprende, acaba por acalma-la um pouco. Um golo de café forte vai restaurar-lhe as forças de modo que as primeiras palavras se ouvem; São de uma revolta sem tamanho de um desespero profundo, e só com muita paciência, calma e interesse, ele consegue ouvir a história da sua vida. A noite vai longa, e o lume crepita ainda, o peixe já foi partilhado, as vidas começam agora o seu ciclo de troca e confidências. O rosto fechado dela já ensaiou um sorriso, e as mãos tocaram-se vezes sem conta, os olhos, dois lagos fundos de mistérios e dor, olham-no cada vez com mais doçura e menos medo. O lume aproxima-os, aconchega-os e aninha-os no seu calor ameno e confortante. A noite avança agitada no vendaval, mas naquela gruta um milagre aconteceu; A vida voltou a ter significado, voltou a ter sentido para dois seres perdidos do mundo.
segunda-feira, novembro 13, 2006
CALANDO LÁGRIMAS
Calando as lágrimas bem fundo,
acolho o destino traçado
na vida deste meu mundo.
Como um sonho destroçado
ou petalas caídas sem rumo,
calo a tristeza esvaída em fumo.
Calando o grito distorcido e rouco
que na garganta se forma aflito,
procuro forças para caminhar mais um pouco,
e com o coração contrito
calo as lágrimas doridas,
em mil horas perdidas.
Calando as lágrimas bem fundo...
domingo, novembro 12, 2006
Acordei num lugar estranho
onde a quietude me invade,
esqueci-me da cidade, do ruido,
deixei que o silencio me possuisse,
invadisse e tomasse nos braços.
Acordei num lugar mágico
onde a geada molha os pastos,
o chocalho do gado tilinta manso
e o galo cantas as matinas.
Acordei num lugar puro
onde o mundo parece parar
esquecido do seu eterno girar
para dar tempo ao tempo,
sem presas.
Acordei num mundo de paz
onde o sol entra pela janela
e me beija o rosto ensonado,
as ovelhas, as vacas e os burricos,
os cães e gatos, os galos e os pardais
desafiam as humanas vozes
com seus sons de natureza...
Acordei numa aldeia Portuguesa
onde o tempo se esquece de passar
e fica na quietude de uma manhã Outonal.
(festa da Castanha - Marvão)
onde a quietude me invade,
esqueci-me da cidade, do ruido,
deixei que o silencio me possuisse,
invadisse e tomasse nos braços.
Acordei num lugar mágico
onde a geada molha os pastos,
o chocalho do gado tilinta manso
e o galo cantas as matinas.
Acordei num lugar puro
onde o mundo parece parar
esquecido do seu eterno girar
para dar tempo ao tempo,
sem presas.
Acordei num mundo de paz
onde o sol entra pela janela
e me beija o rosto ensonado,
as ovelhas, as vacas e os burricos,
os cães e gatos, os galos e os pardais
desafiam as humanas vozes
com seus sons de natureza...
Acordei numa aldeia Portuguesa
onde o tempo se esquece de passar
e fica na quietude de uma manhã Outonal.
(festa da Castanha - Marvão)
segunda-feira, novembro 06, 2006
MANHA
Na quietude da manhã
os sons do dia a acordar:
Ladra o cão e o pardal com afã
entoa hinos de encantar.
A fresca brisa agita o cortinado,
e do meu leito de tortura
sinto o beijo do novo dia apaixonado.
É assim, com toda a loucura
que cada dia se entrega
nas nossas mãos, de mansinho,
depois transporta-nos, agita-nos e pega
em nós, pela mão, devagarinho,
e faz ver o sol, as flores o mundo,
e mesmo deitada sinto o vigor
dete dia, forte, doce e profundo,
que me veio dizer; "Bom dia amor!
Voltei para mais um dia!"
sábado, novembro 04, 2006
Se o sonho morresse hoje, inconformado e rouco,
se a vida se transformasse em pétalas sem cor,
se os teus dedos não aflorasem os meus cabelos molhados,
se os teus lábios se perdessem por entre as dobras da vida
e deles apenas sobrassem os beijos que já trocamos.
Se o meu cristal se quebrasse em mil pedaços sem jeito,
se o meu pé deslizasse e para o abismo me arrastasse
sem ter como voltar à vida.
Se eu perdesse esse teu olhar que de manso me acarinha,
se o teu corpo se afastasse sem retorno do meu espaço,
meu amor eu morreria.
Sem pena me tornaria apenas uma gota de orvalho.
quarta-feira, novembro 01, 2006
AS 5 MANIAS
Ora vamos cá tentar retratar-me em 5 maniazitas conforme o desafio lançado pelo nosso querido Tulipa Negra....Xiiiii, no que eu me vou meter...Então cá vai:
1ª Mesmo que esteja a cair de sono, e mal abra os olhos, não dispenso ler na cama, ainda que isso signifique só abrir o livro e passar o "meio" olho que mantenho aberto pela primeira linha.
2ª Encafuar na minha mala as coisas que não passam pela cabeça de ninguém, mas que já deram bastante jeito em várias ocasiões, e fazer questão de não as retirar de lá por muito que comentem ou critiquem.
3ª Sou sempre a ultima a deitar-me, e não o faço sem passar a casa em revista, e se apanho a minha gente em pé, sento-me e aguardo calmamente que se decidam a recolher.
4ª Loucura!!! Não uso botas a não ser se quando saio de casa está a chover a potes, e mal chego ao emprego as botas voam. Odeio botas!
5ª Tenho uma predilecção MUITO GRANDE por pregadeiras, e...tenho uma vasta colecção, que uso com imensa frequencia.
Agora não me peçam mais, não?!!!
domingo, outubro 29, 2006
ATÉ AO INFINITO...
Por uma gota e orvalho suspensa na teia
que a aranha diligente teceu,
por uma lágrima fugidia que patenteia
uma dor que a vida concedeu.
Por uma mão aberta em ansiosa espera
de uma outra que nela se recolha,
por um olhar meigo que desespera
de encontrar quem o acolha.
Por uma vida que aos outros se entregou,
pelos lábios que jamais voltarão a beijar,
por todas as horas que a tua vida doou,
por todas as palavras que ficaram por recitar....
Até ao infinito!
sábado, outubro 28, 2006
ECOS DO PASSADO
Hoje revi um amigo de longa data. Há anos que não nos viamos e ambos olhamos com curiosidade o passar do tempo nos rostos um do outro;
Os cabelos onde a "prata" já deixa marcas, as rugas que vão pintando os contornos das faces outrora lisas, frescas e jovens, os óculos encarrapitados no nariz para ler as malfadas letrinhas miudas que sempre se lembram de colocar em tudo o que temos que ler. Bem, isto para não falar nas encantadoras pregas ao redor da cintura e que se tentam disfarçar das mais variadas maneiras e...Sem resultados significativos claro!
Mas dizia eu, revi um amigo, alguém que marcou a minha vida e deixou um rasto indelével; Foi meu colega de liceu e como tantos (já naquela altura havia muitas situações encobertas) entrou pelo mundo da droga, era um aluno brilhante, raro era não arrancar ás garras dos professores mais "forretas" uns 18 ou 19, merecidamente conseguidos. acho que em linguagem moderna se diz que «era um cromo», no meu tempo cromos coleccionavam-se e havia alguns lindos, mas está bem, eu já estou um bocadinho "cota", isto pega-se!!! Mas voltando ao Francisco, fazia parte do nosso grupo de estudo, era calado, introvertido, mas amigo de ajudar e, de todos nós, talvez fosse o que mais se sabia dar aos outros, era alto e esguio com uns olhos de veludo quase negros. Um dia chegou a uma aula de Português a cambalear e eram apenas 8.30h da manhã, olhos injectados de sangue, cabelo em desalinho, roupa as três pancadas, nada do Xico que conheciamos. Pediu licença e entrou aos tropeções, foi sentar-se ao meu lado como de costume. Fiquei a olhar para ele com cara de parva, porque aquilo não fazia sentido, quem era aquele perssonagem que estava ali de sorriso alvar nos lábios, num mundo extra, fora de toda a realidade, sem se aperceber de uma turma inteira (incluindo a professora) que o mirava incredula? Já não me lembro de como decorreu o resto da aula, mas lembro-me do episódio que se seguiu.
Saimos da aula e logo rodeamos o Xico que não dizia coisa com coisa, tentamos saber o que se tinha passado mas sem resultado. De repente sem que ninguém se apercebesse ele dá um passo em frente em direcção a mim de mãos abertas e prende-me pelo pescoço. Aqueles olhos normalmente doces, macios que pareciam sempre humidos e meigos eram agora dois lagos de sangue, vitreos sem vida ou expressão, prendi-lhe as mãos com força e num sussurro apenas lhe disse; "Xico! Nâo." Desfaleceu-me nos braços e foi levado para o hospital quase em coma.
Quando nos foi permitido fomos vê-lo, ainda internado, e deparei-me com um farrapo de 16 anos numa cama onde quase nem volume fazia, a mãe, impotente, a seu lado pegava-lhe na mão ossuda e esqualida e derramava sobre ela catadupas de lágrimas que nenhumde nós conseguia conter ou acalmar. Um dia em que fui sozinha ouvi um apelo da boca dele corrobrado pela mãe que jamais esqueci em todos estes anos; "Mami- era assim que me tratava sempre, ajuda-me a viver, não te afastes e dá-me a mão."
Durante 5 longos anos lutamos os três com tudo o que tinhamos e não tinhamos, ele a mãe e eu. Depois a vida acabou por nos separar ele continuou a singrar aos poucos, caindo umas vezes outras aguentado bem sem tombar, eu mudei de residencia e se bem que tivesse mantido o contacto a vida sempre acaba por nos impor o seu ritmo e distancias. Há um mês recebi uma chamada e uma voz que já mal me recordava disse um, Olá Mami! Que me pareceu vir de outro planeta...
Hoje estivemos juntos, e adorei rever o nosso Xico. A vida deixou marcas feias, tanto fisicas como psiquicas, os olhos hoje são um mundo perdido sem brilho, as mãos tremem, e a pele esmaecida mostra um envelhecimento precoce, mas a voz, aquela voz de tons quentes e graves, aquele timbre de doação e humildade estão lá. Casou, nunca mais tocou em drogas, conseguiu arranjar e manter o seu emprego, acabou por se formar e hoje, à sua eterna e introvertida maneira é feliz. Veio, delicadamente, trazer-me uma rosa rubra, a que me tinha prometido entregar no dia em que tivesse atingido a meta que ambos tinhamos imposto - Curar-se e ser feliz.
A ti meu querido e doce AMIGO, OBRIGADA pela lição de vida que me deste e pelo cumprimento da nossa promessa. Ter-te como amigo e "mano" é unico, como sempre foi. Que Deus te guie sempre.
sábado, outubro 21, 2006
UTOPIA
Acreditei numa utopia,
vivi por ela, por ela lutei!
E como todas, ela não merecia
a minha luta, tudo o que dei.
Vivo apenas tentando viver,
sem nada mais em que acreditar,
deixo-me conduzir sem me debater
como cordeiro pronto a matar.
Acreditei num sonho novo,
em que poderia voltar a “ser”,
que seria gente, amada e, sem estorvo,
teria direito a não mais sofrer.
Mas o meu sonho utópico e belo
nada mais foi que pura ilusão,
apenas um lindo fantasioso castelo,
feito de desejos e desilusão.
vivi por ela, por ela lutei!
E como todas, ela não merecia
a minha luta, tudo o que dei.
Vivo apenas tentando viver,
sem nada mais em que acreditar,
deixo-me conduzir sem me debater
como cordeiro pronto a matar.
Acreditei num sonho novo,
em que poderia voltar a “ser”,
que seria gente, amada e, sem estorvo,
teria direito a não mais sofrer.
Mas o meu sonho utópico e belo
nada mais foi que pura ilusão,
apenas um lindo fantasioso castelo,
feito de desejos e desilusão.
quarta-feira, outubro 04, 2006
VIAGEM DE CHEIROS
O dia amanheceu entre o cinzento e o rosado, a noite foi de chuva forte e o ar, ainda escuro, tinha um cheiro a lavado que dava gosto inspirar profundamente. Saí bastante cedo de casa, por ter um compromisso em Lisboa, pelas 8h e pouco e a viagem de transportes publico sempre demora algum tempo. Convém aqui explicar que levar carro para Lisboa, só mesmo em ultimo caso, sou apologista dos transportes, e se for o comboio então melhor ainda.
A manhã estava fresca mas tão pura, tão “desencardida” que retardei o passo para melhor saborear o prazer do olfacto que a primeira brisa me despertou. Cheirava a terra molhada, e a húmus, aquele cheiro tão característico, para quem conhece, do solo pronto a dar os primeiros cogumelos. Um leve odor a pinheiro e a eucalipto davam-se as mãos e o adocicado perfume das madressilvas misturava-se com as roseiras que tardiamente ainda abrem os seus botões. Ao passar por uma corda de roupa acabada de estender chegou ao meu nariz o cheirinho da minha infância das roupas molhadas e lavadas com sabão, e em mim ficaram a ecoar as memórias de menina e dos estendais de minha casa, onde, para desespero da avó, eu me embrulhava nas peças estendidas acabando por suja-las ou deixa-las encardidas.
Continuei o meu caminho para a estação da CP, e novos perfumes me espicaçaram o olfacto, identifiquei a grande magnólia que ainda abre alguns dos seus enormes botões deixando o doce aroma tão próprio desta flor, e o das folhas caídas e amarelecidas, molhadas e sujas de terra, o cheiro do musgo nas paredes velhas com tantas histórias para contar, onde não resisto a passar a mão ao de leve, e sentir a humidade verde que dele se desprende; Lembrei-me do Natal, que já não tarda, e de como forrava o tampo da grande mesa de mogno com musgo e me entretinha a colocar as figuras fazendo-as seguir um imaginário caminho de Belém…Era tão pequena então!
A manhã estava fresca mas tão pura, tão “desencardida” que retardei o passo para melhor saborear o prazer do olfacto que a primeira brisa me despertou. Cheirava a terra molhada, e a húmus, aquele cheiro tão característico, para quem conhece, do solo pronto a dar os primeiros cogumelos. Um leve odor a pinheiro e a eucalipto davam-se as mãos e o adocicado perfume das madressilvas misturava-se com as roseiras que tardiamente ainda abrem os seus botões. Ao passar por uma corda de roupa acabada de estender chegou ao meu nariz o cheirinho da minha infância das roupas molhadas e lavadas com sabão, e em mim ficaram a ecoar as memórias de menina e dos estendais de minha casa, onde, para desespero da avó, eu me embrulhava nas peças estendidas acabando por suja-las ou deixa-las encardidas.
Continuei o meu caminho para a estação da CP, e novos perfumes me espicaçaram o olfacto, identifiquei a grande magnólia que ainda abre alguns dos seus enormes botões deixando o doce aroma tão próprio desta flor, e o das folhas caídas e amarelecidas, molhadas e sujas de terra, o cheiro do musgo nas paredes velhas com tantas histórias para contar, onde não resisto a passar a mão ao de leve, e sentir a humidade verde que dele se desprende; Lembrei-me do Natal, que já não tarda, e de como forrava o tampo da grande mesa de mogno com musgo e me entretinha a colocar as figuras fazendo-as seguir um imaginário caminho de Belém…Era tão pequena então!
De repente quase sem dar muito por isso, encontrei-me na estação, e os odores mudaram, tornaram-se mais “urbanos”, mais intensos e também menos agradáveis diga-se, o cheiro do comboio acabado de entrar na estação e ainda quente, o ferodo do sistema de travagem, o da lixívia que alguém passava na calçada à entrada do café e claro, lá me arrancou um espirro de alergia. Entrei no comboio e sentei-me mas o meu nariz parecia bem desperto esta manhã, e o lugar que escolhi perto de uma janela, tinha um cheiro horrível a comida estragada, mudei rapidamente e o cheiro abrandou, na estação seguinte começou o verdadeiro festival de perfumes!
Ao meu lado sentou-se primeiro uma senhora com um intenso perfume daqueles que nos fazem dores de cabeça e também de algibeira, muito bem arranjada e senhora de si, saiu três estações adiante para dar lugar a um jovem de after shave fresco e verde de phones nos ouvidos e alheado do mundo. Neste meio termo sucediam-se em catadupa os odores, o suor que não se explica, as roupas usadas e não lavadas que me abstenho de comentar, os perfumes caros, mas nem sempre agradáveis, as águas de colónia juvenis ou mais pesadas, o delicioso perfume dos bebés que seria uma bênção podermos manter ad eternum, e o, perdoem-me, odioso cheiro de tabaco retardado que se desprende de tantos cabelos e bocas, essas que foram feitas para beijar e serem beijadas.
Num caleidoscópio imenso de aromas decorreu a viagem e mal dei pelas estações que se sucediam ao ritmo normalmente lento e algo enfadonho para quem as conhece de trás para a frente, guardado na mala ficou o livro que nem teve direito a ver a luz do dia, já que espicaçado que foi o nariz, dei primazia a este orgãozinho apurado, deliciando-me com a nova experiência de uma simples e corriqueira viagem de comboio.
É bem verdade que há sempre um mundo novo e desconhecido que nos aguarda
Ao meu lado sentou-se primeiro uma senhora com um intenso perfume daqueles que nos fazem dores de cabeça e também de algibeira, muito bem arranjada e senhora de si, saiu três estações adiante para dar lugar a um jovem de after shave fresco e verde de phones nos ouvidos e alheado do mundo. Neste meio termo sucediam-se em catadupa os odores, o suor que não se explica, as roupas usadas e não lavadas que me abstenho de comentar, os perfumes caros, mas nem sempre agradáveis, as águas de colónia juvenis ou mais pesadas, o delicioso perfume dos bebés que seria uma bênção podermos manter ad eternum, e o, perdoem-me, odioso cheiro de tabaco retardado que se desprende de tantos cabelos e bocas, essas que foram feitas para beijar e serem beijadas.
Num caleidoscópio imenso de aromas decorreu a viagem e mal dei pelas estações que se sucediam ao ritmo normalmente lento e algo enfadonho para quem as conhece de trás para a frente, guardado na mala ficou o livro que nem teve direito a ver a luz do dia, já que espicaçado que foi o nariz, dei primazia a este orgãozinho apurado, deliciando-me com a nova experiência de uma simples e corriqueira viagem de comboio.
É bem verdade que há sempre um mundo novo e desconhecido que nos aguarda
segunda-feira, outubro 02, 2006
TARDE DE OUTONO
De novo a chuva se deixou simplesmente cair do céu.
Quem a lançou?
Teriam sido os olhos dos anjos que a derramaram sobre a terra?
Teria sido somente a nuvem prenhe de tristeza, que a lançou sobre o solo?
Teria sido o Outono na sua melancolia sonhadora e bela que a espalhou sobre o mundo?
De novo a chuva se abandonou sóbriamente sobre a terra.
Quem a lançou?
As mãos de Deus...O sonho do Homem....A tristeza dos corações....
Apenas um dia de chuva outonal enchendo o ar de poesia.
quinta-feira, setembro 28, 2006
CRISÁLIDA
As nuvens ameaçadoras, cinzentas e carregadas pairam no céu onde o sol já não brilha, o verão abandonou definitivamente estas paragens e a praia permanece deserta.
De pés nus e saia presa para não se molhar, imprime as pegadas na areia molhada, deixando que as ondas gélidas lhe beijem os pés de um branco nacarado. Os longos cabelos negros estão soltos ao vento como enfunada vela de veleiro destemido na tempestade, o rosto fino e de olhos profundos permanece sério e fechado, olhando bem no horizonte, onde o mar, de verde acinzentado vestido, se perde. As ondas de marés vivas correm velozes sobrepondo-se e contorcendo-se sem cessar assaltando a praia com fúria. O som alteroso do mar e o vento que se vem levantando não parecem perturbar esta figura que esbelta e esguia caminha aspirando profundamente o ar impregnado de maresia e iodo.
De pés nus e saia presa para não se molhar, imprime as pegadas na areia molhada, deixando que as ondas gélidas lhe beijem os pés de um branco nacarado. Os longos cabelos negros estão soltos ao vento como enfunada vela de veleiro destemido na tempestade, o rosto fino e de olhos profundos permanece sério e fechado, olhando bem no horizonte, onde o mar, de verde acinzentado vestido, se perde. As ondas de marés vivas correm velozes sobrepondo-se e contorcendo-se sem cessar assaltando a praia com fúria. O som alteroso do mar e o vento que se vem levantando não parecem perturbar esta figura que esbelta e esguia caminha aspirando profundamente o ar impregnado de maresia e iodo.
Um bando de gaivotas vem pousar na areia deixando as marcas finas das patas ao lado das pegadas certas da mulher. Tem a praia envolta no nevoeiro característico das tardes outonais e o espaço inteiro para si; Senhora, rainha e dona. Então o seu rosto perde o rito de dor, o olhar tem tonalidades de uma doçura infinita, abandona os sapatos e, abrindo os braços, enche os pulmões de ar deixando que o corpo aos pouco se vá soltando. Ao som de uma musica que só os seus ouvidos ouvem inicia uma dança em que põe toda a sua alma, todo o seu amor mudo que jamais dará, que jamais partilhará, o xaile que à pouco lhe envolvia os ombros arredondados é agora uma nuvem de cor nas suas mãos, habilmente o faz voltear e dançar em torno do seu corpo jovem e completamente entregue. As águas ora rugem ferozmente como que incentivando a dança louca e doce, expressiva e sentida, ora se adoçam aos requebros do corpo flexível que para elas dança, rodopia e contorce exprimindo toda a profundidade de uma alma acrisolada em si própria, tenebrosamente calada. As gaivotas agruparam-se e extasiaram-se com a figura grácil que quase esvoaça pela areia fria e húmida, os seus pés mal tocam o solo, a saia flutua ao redor do corpo que quase se tornou etéreo, rodopia na melodia da natureza que a envolve e penetra, que a assola e faz explodir em mil expressões.
Cai a noite, a maré está na vazante, e as sombras invadem rápidas o areal, o bando de aves, como que sentindo o gélido bafo da lua levantam voo e soltando os seus pios lamentosos sobre a cabeça que ainda volteia entregue e solta, afastam-se. De repente, como se algo dentro de si se tivesse partido, quebrado irremediavelmente cai desamparada sobre a areia. O rosto por terra, os braços pendentes como uma boneca sem corda, os cabelos em desalinho espalham-se em seu redor como tentáculos de um polvo pronto a devora-la. O corpo é agora um tronco sem vida, apenas os ombros acusam os soluços profundos que a sacodem, e é um rosto desvairado, marcado por uma tristeza imensa e uma dor sem limites que se eleva para o céu já de negro veludo vestido. Aqueles olhos marejados de lágrimas doridas estão sem cor, sem brilho sem vida. Acabara o seu momento de glória e evasão, agora era o regresso à vida de todos os dias, negra como o céu de trovoada. Recolhida de novo em si mesma apanhou os sapatos, envolveu-se no xaile quente e atirando um beijo ao mar, encaminhou-se para o carro.
quarta-feira, setembro 27, 2006
VESTIDO MAIS BELO
Duas formas de uma frase que ouvi.
Deram dois poemas, não sei de qual gosto mais, fica ao vosso critério
Vem amor,
no teu vestido mais belo!
Na tua pele branca e nua,
como um breve raio de lua.
Vem amor
no teu sorriso singelo,
no esplendor do corpo alvo
onde me perco e me salvo.
Vem amor,
no teu mais lindo vestido,
a tua pele por minhas mãos desnudada,
arrepiada, entregue e perfumada.
Vem amor,
no mais literal sentido
deitar-te na minha cama
e atear a nossa chama,
perder-te em mil carícias,
afundar-me nas delicias
do teu mais belo vestido.
PELE
Vem amor,
no teu vestido mais belo!
Nesse imenso calor
do teu sorriso singelo,
no esplendor da tua pele
branca, suave, perfumada.
Os teus beijos gotas de mel,
vem branca e desnudada.
Vem amor,
no teu vestido mais puro!
Deixa provar o sabor
do teu corpo, fruto maduro.
Suaves as curvas brancas
da tua pele alva de neve,
ternas as tuas mãos brandas
repousando em mim ao de leve.
Vem amor,
no mais belo dos teus vestidos,
sussurra-me o teu ardor
penetrando os meus sentidos.
terça-feira, setembro 26, 2006
DESERTOS
O vento do deserto abrasa,
passa assolando as nossas vidas,
e a chuva da ausência arrasa
as defesas mais encarnecidas.
Voltam os desejos loucos
nas fraquezas consentidas,
voltam os apelos roucos
e as lutas mais renhidas.
E o eterno e duro vento
sopra e devasta à passagem,
deixa o seu dorido lamento,
imprimindo escuridão na paisagem.
O vento do deserto voltou
uivando, rasgando-nos em estilhas,
e nos nossos corações ficou
a ansia de nova partilhas.
segunda-feira, setembro 25, 2006
AMIGOS
"O melhor amigo; Uma flor no deserto"
"Agarra um verdadeiro amigo com ambas as mãos"
"Um quilómetro percorrido com um amigo, contem apenas cem passos"
"A amizade é o unico cimento capaz de unir o mundo"
"Precisamos sempre da amizade tanto quanto precisamos dos proverbiais bens básicos da vida: O fogo e a água"
"A linguagem da amizade não é feita de palavras mas de significados"
sexta-feira, setembro 22, 2006
OSCILANDO ENTRE BRUMAS
terça-feira, setembro 19, 2006
FLECHAS DA VIDA
domingo, setembro 17, 2006
CULPA
sábado, setembro 16, 2006
NOVELOS DE BRUMA
Novelos de bruma odorosa,
envolvem em espasmos a serra
mística e mágica.
Essa bruma líquida, silenciosa,
escorre em soluços pela terra
fria...Trágica.
Mágicas, as árvores, prende-me em ecos dolentes,
fazendo circulos sussurrantes,
ondas mansas, calmas, quentes.
Novelos de bruma silenciosa
envolvem a serra
e devolvem à terra
a paz mansa e odorosa.
sexta-feira, setembro 15, 2006
VULCÃO DE LUZ
Utilizo uma imagem que retirei da net, apenas pelo prazer de a poder comentar.
Não é de minha autoria, mas tem muito a ver comigo, este jacto de luz, faz-me lembrar um vulcão que explodiu em beleza, sem os estragos que normalmente provoca. Faz-me sentir em paz com o mundo e devolver um pouco de beleza ao "cinzento" que trilho tantas vezes. Dá para pensar se com um pouco mais de "vontade" não saberei uma vez mais transformar o cinza em dourado...Quantas vezes uma varinha de condão daria imenso jeito!
MISTERIOSO FAROL
Na ponta verdejante sobranceira ao mar, elevava-se, branco, silencioso e isolado. A seus pés uma escadaria bem cuidada de uns 50 degraus, o manto verde e o mar, esse seu eterno companheiro beijando-o incessantemente.
De quase todos os pontos da cidade se podia avista o farol; Majestoso nas noites calmas e de temporal, um marco luminoso nas escuras horas em que o sol se esconde e a lua se eleva nos céus.
Já não era a primeira vez que o via, que o apreciava e desejava vê-lo, visita-lo, ouvir-lhes as histórias mudas que tinha no seu coração para contar, histórias de uma vida de pedra e cal sobre os eriçados rochedos que traiçoeiramente se estendiam na sua frente sob o manto azul esverdeado ligeiramente encapelado do oceano.
De cada regresso à sua cidade cúmplice fazia tentativas de alongar os seus passos um pouco mais além para ir ter com ele, aquele farol tinha um imã que a atraía irresistivelmente, trazia-lhe lembranças antigas;
De quase todos os pontos da cidade se podia avista o farol; Majestoso nas noites calmas e de temporal, um marco luminoso nas escuras horas em que o sol se esconde e a lua se eleva nos céus.
Já não era a primeira vez que o via, que o apreciava e desejava vê-lo, visita-lo, ouvir-lhes as histórias mudas que tinha no seu coração para contar, histórias de uma vida de pedra e cal sobre os eriçados rochedos que traiçoeiramente se estendiam na sua frente sob o manto azul esverdeado ligeiramente encapelado do oceano.
De cada regresso à sua cidade cúmplice fazia tentativas de alongar os seus passos um pouco mais além para ir ter com ele, aquele farol tinha um imã que a atraía irresistivelmente, trazia-lhe lembranças antigas;
- As primeiras visitas que fizera a um farol pelas mãos do pai, a explicação do mecanismo da luz, da vida do faroleiro, coisas que lhe tinham ficado na memória, e mais recentemente mas com alguns anos também o célebre Farol de Alexandria, ou da ilha de Pharos; Essa maravilha do mundo que as águas haviam tragada muitos e muitos séculos antes, no entanto as descrições da sua alvura de mármore, do porte altíssimo e elegante, de esguias e doces formas, alimentavam-lhe o imaginário e a fantasia, e muito embora este fosse apenas uma pequena amostra, havia uma semelhança que a encantava, vá lá saber-se porque e onde, mas a mente tem destas coisas e quando se liberta a ilusão….
Nessa manhã decidira não adiar mais os seus propósitos e foi confiante e sonhadora que se pôs a caminho, sem nenhum motivo para ser especificamente naquele dia, mas aproximava-se a partida de novo para o ritmo normal e vida diária longe das suas paragens, do seu espaço mais querido, e não queria levar por fazer essa tarefa, não sabia quando voltaria ou sequer se voltaria. O dia estava ensolarado e quente, como é normal por essa latitudes e a brisa fresca vinda do mar agitava-lhe os cabelos ondulados estampando-lhe no rosto a beatitude de quem está em paz consigo e com o mundo. Um ligeiro sorriso aflorava-lhe aos lábios dando a sensação de pensamentos felizes e memórias agradáveis. O seu passo certo levou-a do hotel até à zona portuária e daí, pela marginal, até à mesquita, imensa e poderosa, que como sempre a aguardava de braços abertos, e cadenciados cânticos que do seu interior por vezes chegavam. No final do passeio marginal, sobre o outro promontório um pouco mais baixo e menos debruçado sobre o mar lá se encontrava ele, olhando o infinito, lançando no ar o seu ronco e de noite espraiando a sua luz intermitente sobre o oceano.
A sua paragem obrigatória na mesquita deixou-a para mais tarde, ainda lhe ocorreu o seu poiso favorito sobre uma das conchas de água, forrada a mosaico verde e onde os pombos escreviam as suas mensagens, arrulhavam e deixavam os seus dejectos, mas que a ela não incomodavam muito, e munida de lenços de papel, para lá ia com o seu livro ou caderno e canetas, mas fora apenas um pensamento passageiro e os seus pés viraram-se para as escadas que a levariam ao pontão de pedra que envolve a arredondada baía e onde nas marés vazias se vêm dezenas de homens e algumas mulheres, unas apanham moluscos outros tomando banho. Percorreu a marginal pedestre com calma recebendo o sol em cheio no rosto e a brisa perfumada das ondas. Perto as águas estavam sujas de areia e algas, emprestando um tom acastanhado, mas para além da rebentação, a meio da baia já exibiam o seu tom característico de verde-esmeralda e azul.
Uma mulher sozinha, branca e estrangeira, quase sempre suscita alguma atenção e uns quantos assobios de modo a captar-lhe a atenção., mas ela na sua passada apenas tinha olhos para a sua meta que se erguia um pouco mais longe e as ondas que de manso se vinham quebrar nos rochedos, deixando na mente perguntas variadas;Onde seriam apanhadas as deliciosas ostras que tanto adorava e que sempre faziam parte da dietas das suas escapadelas por aquelas bandas? E onde iria ter o peixe que degustava com prazer e que era tão bem confeccionado nos restaurantes que frequentava? As actividades pesqueiras podia confirma-las no mercado onde ia com frequência, no porto, onde à noite as redes de pesca era tratadas para a próxima saída para o mar, mas lota ainda não vira nem sabia se existiria. E logo o seu coração lhe agudizava a dor da partida dizendo-lhe alto; E se te fosse possível ficar? Como seria? Enquadrar-te-ias, enquadrar-se-iam? Afastou resolutamente os pensamentos sabendo que nada podia mudar o rumo das vidas, e olhou uma vez mais para o seu farol enquanto os seus pés sabendo de cor o caminho, como se predefinido houvesse sido, pisavam a terra batida e a ressumar de sal.
A olhos vistos crescia o farol, meio amarelado agora pela refracção do sol intenso da manhã adiantada, a paisagem circundante delineava-se aos poucos, dali onde por segundos abrandara o passo, já podia ver as escadarias e o verde campo nas traseiras, para a frente era ainda confusa a paisagem, apenas o cabeço eriçado de negros rochedos que pelas águas entravam se identificava. A sua cabeça sonhadora desfiava agora o rosário de leituras que fizera sobre o Farol de Alexandria, e deleitava-se com essas lembranças, parecia-lhe que na sua frente se agigantava aquele pequeno irmão, que crescia e se embelezava, tomava as proporções do outro e a ela era-lhe dada a felicidade de o ver em pé, belo e único, como se o tempo houvesse voltado para trás e ela por um portal do qual desconhecia a existência, entrada ou saída, tivesse penetrado para outra dimensão do tempo e espaço.
O caminho encurtava e em breve se encontrou no primeiro degrau, tremendo de nervosismo pisou a pedra polida e branca e subiu, como em sonhos, os cerca de cinquenta degraus. À volta, só as gaivotas soltavam os seus pios ao vento, as ondas emprestavam o seu rugido ainda calmo de maré vazia, e o vozear de vozes masculinas um pouco esmaecidas e apenas trazidas entrecortadas pelo vento.
Lá do alto o ronco, agora bem forte e ensurdecedor, saía a intervalos certos, algo que seria substituído pela luz horas depois, ou melhor por ela complementado porque houvera noites em que o ouvira emitir o seu som característico altas horas. Deu a volta lentamente tocando a parede que ali era mais suja do que lhe parecera ao longe, e foi caminhando em direcção à ponta sobranceira ás aguas, não encontrou vivalma, e no entanto as vozes faziam-se ouvir, caminhou curiosa e mais decidida esquecidas das horas de regresso, foi até onde podia ir, aventurou-se um pouco sobre os penhascos e debruçou-se para baixo no murete que fazia a fronteira entre o território do farol e o do mar, que lhe parecia em dias de tempestade devia acoitar se não o próprio farol pelo menos o molhe onde estava cravado. E…Nada, mas onde viriam as vozes? Não estava a sonhar, embora aquelas viagens fossem sempre de sonho, mas agora estava acordada e tinha essa noção, louca, estaria louca? Ou seria uma valente insolação? O facto é que continuava a ouvir as vozes, mas não entendia a língua e não era árabe…Estranho, muito estranho, pensou. Estugou o passo em direcção a terra e teve a impressão que acabara de ver uma pessoa, mas…Não, não podia ser, fora alguém que saíra do farol ou algum residente que por ali passara, que tal como ela tinha vindo conhecer aquele guardião das noites. Mais uma vez se encaminhou para a ponta rochosa e observou o oceano na sua frente, perguntou-se o que sentira o outro farol ao ser derrubado no seu esplendor e majestade únicas? Que vivências levara para o fundo do mar? Alguma vez voltaria a ser descoberto, se é que existira mesmo? O menos aquele ali ao seu lado estava bem presente e acordava-lhe gratas memórias.
As horas urgiam e tinha que regressar para o almoço, enfrentava pelo menos uma hora e tal de caminho e agora, com os pés cansados e o sol mesmo a pique não tinha a vida facilitada. Virou-se contra vontade e começou a percorrer o promontório atapetado, já na sombra do farol olhou uma vez mais em direcção ao mar e viu recortados contra o azul imenso do céu as suas vozes masculinas; Um senhor nos trajos de grego rico e um criado, quem sabe, que o acompanhava. Piscou os olhos dizendo de si para si que enlouquecera, e ao reabri-los apenas pode ver um vulto de cinzento, com a djelaba característica a descer os rochedos que minutos antes ela havia ensaiado descer também. Estacou sem saber o que pensar, o que vira na realidade?
Elevando os olhos para o topo do farol e abarcando o céu, limitou-se a sorrir, e a agradecer, fosse o que fosse estivera de facto em Pharos e no seu soberbo farol, concretizara o seu sonho, nada mais importava.
Nessa manhã decidira não adiar mais os seus propósitos e foi confiante e sonhadora que se pôs a caminho, sem nenhum motivo para ser especificamente naquele dia, mas aproximava-se a partida de novo para o ritmo normal e vida diária longe das suas paragens, do seu espaço mais querido, e não queria levar por fazer essa tarefa, não sabia quando voltaria ou sequer se voltaria. O dia estava ensolarado e quente, como é normal por essa latitudes e a brisa fresca vinda do mar agitava-lhe os cabelos ondulados estampando-lhe no rosto a beatitude de quem está em paz consigo e com o mundo. Um ligeiro sorriso aflorava-lhe aos lábios dando a sensação de pensamentos felizes e memórias agradáveis. O seu passo certo levou-a do hotel até à zona portuária e daí, pela marginal, até à mesquita, imensa e poderosa, que como sempre a aguardava de braços abertos, e cadenciados cânticos que do seu interior por vezes chegavam. No final do passeio marginal, sobre o outro promontório um pouco mais baixo e menos debruçado sobre o mar lá se encontrava ele, olhando o infinito, lançando no ar o seu ronco e de noite espraiando a sua luz intermitente sobre o oceano.
A sua paragem obrigatória na mesquita deixou-a para mais tarde, ainda lhe ocorreu o seu poiso favorito sobre uma das conchas de água, forrada a mosaico verde e onde os pombos escreviam as suas mensagens, arrulhavam e deixavam os seus dejectos, mas que a ela não incomodavam muito, e munida de lenços de papel, para lá ia com o seu livro ou caderno e canetas, mas fora apenas um pensamento passageiro e os seus pés viraram-se para as escadas que a levariam ao pontão de pedra que envolve a arredondada baía e onde nas marés vazias se vêm dezenas de homens e algumas mulheres, unas apanham moluscos outros tomando banho. Percorreu a marginal pedestre com calma recebendo o sol em cheio no rosto e a brisa perfumada das ondas. Perto as águas estavam sujas de areia e algas, emprestando um tom acastanhado, mas para além da rebentação, a meio da baia já exibiam o seu tom característico de verde-esmeralda e azul.
Uma mulher sozinha, branca e estrangeira, quase sempre suscita alguma atenção e uns quantos assobios de modo a captar-lhe a atenção., mas ela na sua passada apenas tinha olhos para a sua meta que se erguia um pouco mais longe e as ondas que de manso se vinham quebrar nos rochedos, deixando na mente perguntas variadas;Onde seriam apanhadas as deliciosas ostras que tanto adorava e que sempre faziam parte da dietas das suas escapadelas por aquelas bandas? E onde iria ter o peixe que degustava com prazer e que era tão bem confeccionado nos restaurantes que frequentava? As actividades pesqueiras podia confirma-las no mercado onde ia com frequência, no porto, onde à noite as redes de pesca era tratadas para a próxima saída para o mar, mas lota ainda não vira nem sabia se existiria. E logo o seu coração lhe agudizava a dor da partida dizendo-lhe alto; E se te fosse possível ficar? Como seria? Enquadrar-te-ias, enquadrar-se-iam? Afastou resolutamente os pensamentos sabendo que nada podia mudar o rumo das vidas, e olhou uma vez mais para o seu farol enquanto os seus pés sabendo de cor o caminho, como se predefinido houvesse sido, pisavam a terra batida e a ressumar de sal.
A olhos vistos crescia o farol, meio amarelado agora pela refracção do sol intenso da manhã adiantada, a paisagem circundante delineava-se aos poucos, dali onde por segundos abrandara o passo, já podia ver as escadarias e o verde campo nas traseiras, para a frente era ainda confusa a paisagem, apenas o cabeço eriçado de negros rochedos que pelas águas entravam se identificava. A sua cabeça sonhadora desfiava agora o rosário de leituras que fizera sobre o Farol de Alexandria, e deleitava-se com essas lembranças, parecia-lhe que na sua frente se agigantava aquele pequeno irmão, que crescia e se embelezava, tomava as proporções do outro e a ela era-lhe dada a felicidade de o ver em pé, belo e único, como se o tempo houvesse voltado para trás e ela por um portal do qual desconhecia a existência, entrada ou saída, tivesse penetrado para outra dimensão do tempo e espaço.
O caminho encurtava e em breve se encontrou no primeiro degrau, tremendo de nervosismo pisou a pedra polida e branca e subiu, como em sonhos, os cerca de cinquenta degraus. À volta, só as gaivotas soltavam os seus pios ao vento, as ondas emprestavam o seu rugido ainda calmo de maré vazia, e o vozear de vozes masculinas um pouco esmaecidas e apenas trazidas entrecortadas pelo vento.
Lá do alto o ronco, agora bem forte e ensurdecedor, saía a intervalos certos, algo que seria substituído pela luz horas depois, ou melhor por ela complementado porque houvera noites em que o ouvira emitir o seu som característico altas horas. Deu a volta lentamente tocando a parede que ali era mais suja do que lhe parecera ao longe, e foi caminhando em direcção à ponta sobranceira ás aguas, não encontrou vivalma, e no entanto as vozes faziam-se ouvir, caminhou curiosa e mais decidida esquecidas das horas de regresso, foi até onde podia ir, aventurou-se um pouco sobre os penhascos e debruçou-se para baixo no murete que fazia a fronteira entre o território do farol e o do mar, que lhe parecia em dias de tempestade devia acoitar se não o próprio farol pelo menos o molhe onde estava cravado. E…Nada, mas onde viriam as vozes? Não estava a sonhar, embora aquelas viagens fossem sempre de sonho, mas agora estava acordada e tinha essa noção, louca, estaria louca? Ou seria uma valente insolação? O facto é que continuava a ouvir as vozes, mas não entendia a língua e não era árabe…Estranho, muito estranho, pensou. Estugou o passo em direcção a terra e teve a impressão que acabara de ver uma pessoa, mas…Não, não podia ser, fora alguém que saíra do farol ou algum residente que por ali passara, que tal como ela tinha vindo conhecer aquele guardião das noites. Mais uma vez se encaminhou para a ponta rochosa e observou o oceano na sua frente, perguntou-se o que sentira o outro farol ao ser derrubado no seu esplendor e majestade únicas? Que vivências levara para o fundo do mar? Alguma vez voltaria a ser descoberto, se é que existira mesmo? O menos aquele ali ao seu lado estava bem presente e acordava-lhe gratas memórias.
As horas urgiam e tinha que regressar para o almoço, enfrentava pelo menos uma hora e tal de caminho e agora, com os pés cansados e o sol mesmo a pique não tinha a vida facilitada. Virou-se contra vontade e começou a percorrer o promontório atapetado, já na sombra do farol olhou uma vez mais em direcção ao mar e viu recortados contra o azul imenso do céu as suas vozes masculinas; Um senhor nos trajos de grego rico e um criado, quem sabe, que o acompanhava. Piscou os olhos dizendo de si para si que enlouquecera, e ao reabri-los apenas pode ver um vulto de cinzento, com a djelaba característica a descer os rochedos que minutos antes ela havia ensaiado descer também. Estacou sem saber o que pensar, o que vira na realidade?
Elevando os olhos para o topo do farol e abarcando o céu, limitou-se a sorrir, e a agradecer, fosse o que fosse estivera de facto em Pharos e no seu soberbo farol, concretizara o seu sonho, nada mais importava.
quinta-feira, setembro 14, 2006
PÉROLA
Num banco rochoso das profundas e escuras águas do Oceano Indico, uma ostreira desenvolvia-se na mansidão da quietude azul, sem grandes variações térmicas nem correntes excessivamente fortes.Bem no centro do maciço submerso uma enormíssima tridacna entreabria a rugosa casca deixando que as nutrientes águas lhe depositassem na rosadas carnes, que afloravam os bordos sequiosos, o alimento precioso que a fazia crescer ao ritmo lento com que crescem todas as maravilhas e perfeições da natureza. A sua idade, já lhe perdera o conto, mas uns centos de anos teria, a julgar pelo tamanho das formas escuras e maciças, pelas tonalidades das suas carnaduras majestosas e pelo precioso tesouro que nas pregas macias do seu corpo alaranjado se escondia. Ao seu redor as ostras em cachos ou isoladamente iam-se desenvolvendo como que protegidas por aquela “mãe” imensa e branda.De quando em vez um mergulhador vinha visita-las para ver o seu estado de saúde e maturação, já que aquele banco, de produção elevada e excelente qualidade, servia para abastecer os mercados longínquos e estranhos, que sabiam apreciar o paladar exclusivo e único de uma ostra. Só um verdadeiro apreciador reconhecia os cambiantes do paladar daqueles delicados moluscos e sabia dar-lhes o mérito próprio. De cada vez que fazias as suas visitas ia sempre cumprimentar a imensa mole escura que, como por magia da paixão, delicadeza de sentimentos, ou simples função natural, lhe entreabria um pouco mais a casca e expunha os “lábios” carnudos aos beijos da água e festas das mãos calejadas do mergulhador, mas não se recolhia, antes se distendia deliciada com as carícias que de manso recebia.A mão experiente descia pela carne nacarada de tons estranhos ora alaranjados, ora rosa pálido, ora amarelados, marcada aqui e além por negros pontos, e massajando à passagem, o animal ia desdobrando as pregas internas até pôr semi a descoberto o tesouro inviolável que ele tão bem conhecia e guardava em estreita cumplicidade com ela; Uma pérola sem valor, cinzento-nacarado, imensa, esférica, perfeita na sua beleza e única.A tridacna, de válvula e concha completamente abertas repousava nesses momentos e deixava que a água fresca a invadisse sem barreiras, e que o seu tesouro fosse contemplado na extensão da sua preciosidade e belezas únicas e incomparáveis.Celebrado o ritual, homem e animal retomavam os seus rumos normais, ela fechava o seu corpo e ele emergia com a sua carga de ostras para o mundo.Nem um nem outro pensavam em separações ou mortes, como se o laço que os unia fosse eterno e imutável. Mas o facto é que o homem envelhece, e uma pérola é sinal de doença, mesmo numa tridacna descomunal e intemporal como ela. E assim, ali bem perto uma ostra ia crescendo lentamente já sustentada por um pé firme que calmamente se firmava na base rochosa, dali a muitos, muitos anos seria uma belíssima e imensa tridacna, mas por enquanto limitava-se a crescer sonhando, talvez, em ser como a sua bela e rugosa parceira, mansamente repousando ao seu lado.Um belo dia o mergulhador voltou, mas já não colheu ostras, foi direito à sua velha amiga, fazendo-lhe uma festa na casca e recebeu o costumeiro e alegre bafo de bolhas enquanto ela se abria. Muito a custo e visivelmente cansado empurrou a mão e expôs pela última vez a belíssima pérola cinzenta. Batendo com os pés no fundo com vigor, fez um rápido adeus à sua amiga que não mais verá. Pouco tempo depois um novo mergulhador se aproxima do banco para recolher o néctar submarino e nem se apercebe da forma escura e enorme que resiste ao tempo e ás mãos humanas que lhe acariciaram o corpo e se deleitaram com o tesouro que guarda.Fechada, triste mas persistente, desenvolve, cria camadas e vai polindo o seu incalculável conteúdo, até que um dia morrerá também e deixará o banco livre para o seu pequeno rebento que vai crescendo a seu lado.A pérola, essa pertencerá para sempre a Neptuno, será mais um dos seus tesouros eternos.
SEM RUMO
Uma vez mais sem rumo
perdida entre ilhas belas,
vida esvaída em fumo
feita de brancas velas.
entre o verde e o azul profundo
entre a terra e este mar
cada vez caio mais fundo
sem saber se quero voltar
PEQUENA SEREIA
O sol batia-lhe em cheio no rosto obrigando-a a franzir-se e semicerrar os olhos apesar dos óculos escuros. Baixou o olhar sobre a praia onde algumas pessoas se aqueciam e tostavam alheias à figura ainda esbelta que projectava a sua sombra sobre a areia escura da pequena enseada.Quantas memórias! Quantas lágrimas! Quantos anos…Ali estava de novo, de vestido branco de linho, uma grinalda de flores nos longos cabelos de sereia e um sorriso de menina nos lábios, a seu lado uma figura masculina, igualmente jovem e sonhadora enlaçava-a ternamente pela cintura. Olhavam o mar, calmo e azul, profundamente azul, e os negros e eriçados rochedos, dedos de lava endurecidos pelas águas.Os cabelos acobreados baloiçavam docemente na leve aragem fazendo cócegas no rosto, que rindo, lhe mordiscava o pescoço em ar de quem se vinga de tão ternas vergastadas. Os pés de ambos, nus, enterrados na areia preta e quente seriam doravante uma marca constante, e nesse preciso momento a jura de amor que haviam feito perante o altar, renovavam frente ás águas que a ambos enfeitiçavam e viriam a ser o seu segundo lar.Ambos adoravam o mergulho em profundidade, ambos Biólogos de profissão, ela mais dedicada à Biologia marinha ele à Biologia em geral, tinham-se conhecido no continente na faculdade e o amor crescera desde então. Já exerciam e tinham um sonho e um projecto em comum; Regressarem à sua ilha natal e nela desenvolverem o estudo, o reconhecimento e preservação das espécies nativas.Casa havia, quer dos pais dele que haviam falecido anos antes, quer dela, que comprara uma vivenda pequena e encantadora sobre uma falésia com acesso, íngreme e difícil, mas acesso mesmo assim, a uma minúscula baía de águas calmas onde por norma iniciava os seus mergulhos e onde fizera o seu “curso” de mergulho com o pai e o tio, anos antes. Aliás a baía era quase exclusivamente deles, e muitos dos apetrechos ficavam na loca de lava bem a salvo das marés. Com as ajudas estatais para o seu projecto tinham voltado e metido mãos à obra, mas antes tinham decidido dar o nó e fazer de dois um só. Tinham casado nessa manhã e ali estavam numa jura muda perante o extenso oceano – Preservar, catalogar e descobrir, estudar e dar a conhecer a fauna e flora das ilhas que tanto amavam. O mar calmo recebia, como beijos, os murmúrios daquelas almas apaixonadas e quem tivesse ouvidos e alma de poeta, poderia perceber a resposta das águas desfeitas em alva espuma, uma resposta de comunhão e aceitação entre homem e natureza, que nos ilhéus é mais forte e mais presente.Rodaram os anos, as estações, os desgostos e as alegrias, vieram dois filhos, e no meio, centro e união entre ambos, o mergulho, o êxtase perante essas águas de um cobalto que jamais alguém igualou, a loucura perante a miríade de peixes, crustáceos, moluscos e plantas que sob as escuras águas se agitam. Horas de paixão, horas de entrega quase física, horas de estudo, de recolha e de observação, milhares de fotografias, e amostras devidamente identificadas e catalogadas. Uma vida dedicada ao mar. E sempre o amor doce e calmo de quem não tem pressa e sabe que a vida corre mansa, as horas das refeições eram passadas em família, os garotos brincando desde muito novitoscom as redes e camaroeiros, com os apetrechos de mergulho e ensaiando os seus próprios dotes, treinando pulmões e corpo para mais tarde acompanharem os pais. Eram uma família feliz, que naquele pedacinho perdido entre céus e mar, fizera um hino a Deus, à natureza e ao amor.A cada ida ao continente, ambos tentavam ser breves e resolver tudo rapidamente, a confusão, o trânsito, as caras fechadas e indisposições constantes de quem por lá habita, não eram situações que lhes fossem agradáveis, por isso limitavam a duas deslocações anuais as obrigações para com a entidade que os apoiava e empregava. Tinham trazido os filhos apenas 4 vezes em toda a sua vida de casados, mas a decisão de os mandar estudar para Lisboa ou Porto já tinha sido ponderada e no caso do filho mais velho decorria já com êxito, já que o pequeno era aplicado e inteligente, a mais nova ainda luta em S. Miguel para se abalançar por o velho continente e voar para um curso que poucas ou nenhumas hipóteses tem nas Flores, mas que os pais por nada querem contrariar.Os anos já se fazem sentir em ambos, mas os mergulhos e explorações continuam, e um belo dia a eles junta-se um novo casal, enviado de Lisboa, para seguir e aumentar o espolio que já tem honras de livro editado, museu montado e videoteca, bem como visitas de estudo quer em terra quer no mar. Mas o oceano por vezes tem o seu feitio muito especial, e recebera as confidencias e promessas deles no 1º dia das suas vidas, recebia-os como filhos no seu seio, deixava-os à vontade, e eles no seu elemento mais querido aproveitavam e gozavam ao máximo esse comunhão consentida e querida.O coração pode ser traiçoeiro, e uma cara bonita, um corpo insinuante e tonificado, podem fazer os estragos de uma lavagem de tanques de petroleiro numa vida feliz e sem mácula. O destino que até ali fora benéfico e amigo para com a “pequena sereia”, como o marido lhe chamava tantas vezes, deu-lhe a provar o fel da traição. Mergulhador por excelência, a ele coube ensinar e vigiar os mergulhos dos continentais. Mas a voz da paixão falou mais alto e acabou por se envolver em escaldante romance com a jovem recém chegada. Voltou a fazer mergulho nocturno, coisa que haviam posto de parte 2 anos antes, por terem apanhado um susto com problemas respiratórios dele, voltou ao mergulho a mais de 30m que também lhe fora proibido, e à escalada para manter a forma. A tudo assistia com o coração em chaga e cada vez mais entregue ao trabalho para não sentir o ferrete da dor. Ele voltava sempre, meigo e comprometido, mas sem conseguir deixar o néctar daquele corpo jovem e pujante que tomara na praia ao luar imenso e claro, louco de paixão.A “pequena sereia” sucumbia a olhos vistos, definhava, mal dormia, ele apercebia-se e tentava por todos os meios emendar o seu erro, mas a jovem sempre se insinuava, e como alcoólico viciado, não resistia.Uma noite em que ambos os casais já se haviam recolhido, e a pequena casa se recortava na negra noite aveludada e morna de fim de verão, ouve-se abrir uma porta devagar; Por ela saem duas figuras, uma mais esguia e outra com as formas que os anos já começaram a marcar. Vão em silêncio, de corpos enlaçados e vultos ás costas, as suas silhuetas recortam-se nítidas contra o breu das águas onde os raios de lua doirada se espraiam mansamente. O ruído do mar é a única companhia destes dois que sorrateiramente para ele se dirigem. Mas o corpo fala mais alto, a carne é mais imperiosa, o desejo mais forte e a ambos já nada mais importa, a natureza repousa, nada os perturba. Deixam de lado os apetrechos de mergulho e entregam-se em arroubos de paixão louca, num frenesim intenso e desmedido sobre as negras areias, como que a relembrar outras explosões, as de um vulcão há muito extinto, mas que deixou as suas marcas indeléveis na ilha.Fatos vestidos, lanternas assestadas, e arpões nas mãos, mais um beijo antes do mergulho e ei-los nas águas, tenebrosas a tais horas em que todo o imaginário nos assola, nadam lado a lado, descuidados de tudo, do mundo, do coração despedaçado que deixaram em terra e que julgavam adormecido, mas que lentamente e desfeito desceu à praia e atrás deles mergulhou.Dirigem-se para uma gruta submarina, não muito fácil de fazer, mas que a experiência dele e a rapidez dela em conjunto resolveriam. Mas as páginas do livro da vida, ditariam um fim trágico àquele mergulho. Apanhados desprevenidos pela enchente, e lançados contra os rochedos afiados, nem a experiência nem a agilidade ou rapidez e robustez os salvariam, e enquanto se acariciavam felizes por terem atingido a gruta, seu sonho de havia meses, são esmagados furiosamente contra os aguçados picos que eriçam a entrada da gruta. Assustados e desnorteados, com uma das garrafas perfurada, as barbatanas dela foram arrancadas dos pés, e as costas dele em sangue, lutam por se manterem vivos, e sobem à tona da água, para encontrarem um mar furioso e encapelado, que os obriga a mergulhos curtos em que dividem a garrafa que sobrou. Mas o oceano não lhes perdoa a traição, o profanar de um santuário que fora pela sua “sereia” descoberto e tão cuidadosamente estudado e preservado, e fustiga tresloucado aqueles dois corpos que aos poucos vão perdendo as forças. Mas um vulto seguiu no seu encalço, e é com imenso esforço e determinação que tenta por todos os meios tira-los da corrente traiçoeira que tão bem conhece e sempre soube evitar, mas na qual tem que se arrojar para os salvar. A “sereia” ora choca de pés nos rochedos segurando o marido nos braços e a amante com o seu próprio corpo, ora se vira e nada de costas tentado puxa-los para o interior da gruta onde acabará por depositar o corpo moribundo do marido e o quase desfeito corpo da amante. O resto da noite passam-na em tormentos mil, ambas tentando mantê-lo vivo e tentando estancar o sangue que jorra abundantemente das feridas dela. No dia seguinte um barco leva-os para o hospital, onde um falece, a outra sobrevive e a outra apenas habita o corpo já que a alma morreu duas vezes….Quantos anos já passaram?...Deixou de os contar, voltava hoje, abria de novo a pequena casinha encarrapitada na falésia, os netos chegariam no dia seguinte, a vida continuara longe dali, no velho continente tão odiado, e que acabara por a receber. De “sereia” ficara-lhe o nome da casa, carcomido pelos anos, pela maresia e pelo vento, e a figura anda grácil de mulher bem madura, os cabelos já não eram longos e o tom cobre já se diluíra nas cãs que emprestavam um ar fino aquela mulher a quem a vida tanto marcara.Mas o azul-cobalto, profundo e imenso ainda a chamava no seu apelo mudo de mar, e as suas profundezas murmuravam aos seus ouvidos histórias mil secretamente contadas, que lhe abriam um ténue sorriso no rosto vincado de “sereia” perdida.
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