Um local tranquilo onde os raios de lua, feitos palavras, lançam feitiços e enxugam lágrimas
sexta-feira, dezembro 28, 2007
TOQUE
quinta-feira, dezembro 27, 2007
PORTA FECHADA
atrás dela ficam pedaços de uma vida;
Sorrisos, lágrimas, alegrias, feridas por sarar,
desejos, sonhos desvalidos, alma dividida
coração a chorar.
E nas dobras do caminhar
começa-se um novo livro em branco,
pronto para se encher de vida vibrante,
de novos sonhos, do sorriso franco
de quem se entrega confiante
nas mãos do verbo "amar",
ensina-me a conjugar
desse verbo, cada tempo,
cada estrofe desta vida, pedaços
migalhas de fraco alento,
festas, beijos e abraços
num eterno movimento.
Encerra-se a pesada porta do esquecimento.
domingo, dezembro 16, 2007
DESAFIO
Nas palavras talhadas num vento que desfolha pétalas de sonhos meus, encontrei-me a sós com um tormentoso dia de brumas envolventes e frio glaciar. Nesse dia andei pelos caminhos da solidão dei passos de escuras memórias, acordei tormentos, desalentos, alegrias e tristezas com os meus passos. Esperei-te amor amado e espero-te ainda e sempre no vendaval das emoções, na macieza dos lençóis de linho, no perfume da pele nua e cálida beijada pela branca lua, nas nossas noite de paixão….Espero-te ainda nas horas que marcam os dias da ausência, nos segundos que ferem o coração mas que nos ensinam a singela lição que um amor quando o é de verdade cavalga as vagas da distancia, da ausência, da fria solidão, supera as ondas do desalento, os assaltos do mar das duvidas e da desistência. Essa lição amor, aprendo e tento viver todos os dias, porque simplesmente é uma lição de VIDA, nas nossas vidas.
quinta-feira, dezembro 13, 2007
"ESCRITORES DA LIBERDADE"
A nossa querida Juli do blog "Lagrimas e Sorriso" entregou-me mais um mimo. Se os outros que recebi sempre achei que eram um exagero, porque não merecedora, este então supera em larga escala!
Juli, obrigada pela ternura e pela amizade. e acima de tudo por me leres assim, mas olha que não mereço mesmo!
"Este prêmio foi criado pelo blog Batom cor de rosa que explica assim sua intenção:"Todos temos blogs pelo fato de gostarmos de escrever. Por prazer, profissionalismo, ou qualquer motivo pessoal. E a maioria gosta de escrever para liberar algum sentimento profundo, seja ele bom ou ruim. Escreve para se encontrar, para analisar a situação depois de algum tempo, ou naquela mesma hora, e também por essa paixão de por tudo no papel. E estou chamando esses blogueiros de Escritores da propria liberdade. Escritores sim, mesmo que amadores, que escrevem suas emoções, que não guardam tudo para si. Que compartilham tudo com pessoas muitas vezes estranhas(entre as conhecidas)... Escritores que admiro muito, por vários motivos, que se destacam de um jeito único, para cada uma das pessoas que os conhecem. Blogueiros que publicam a sua liberdade de expressão."
Passo este premio a;
Vitor Solano - mandalaspoemas.blogspot.Nina - momentusmomentus.blogspot
Profeta - /profeciaeterna.blogspot.
Ana - analuar.blogspo
Gui - /coisasdogui.blogspot
FELIZ NATAL
segunda-feira, dezembro 10, 2007
LIÇÃO
que cada bofetada da vida
me faz crescer.
Um dia aprenderei
a não me sentir ferida
por quem não quer entender.
Um dia aprenderei
a não me mostrar inteira
ao mundo,
um dia aprenderei
que a regra primeira
é ser um lago profundo
onde ninguém mais toca.
Um dia aprenderei
que nem tudo "é" de verdade,
e que a cada fuso sua roca,
que há sempre a liberdade
para ferir quem se entrega
de uma forma simples e cega.
Um dia aprenderei
que confiar é um erro impar,
que se paga com o coração
e com a alma a soçobrar
de dor e desilusão.
Será que algum dia aprenderei?
sexta-feira, dezembro 07, 2007
VENDAVAL
domingo, dezembro 02, 2007
ESPERO-TE
Espero-te nas dobras da noite silenciosa e dura,
no torpor de cada nova madrugada.
Espero-te nas horas de agonia e nas de alegria pura,
no amargo caminho feito de alma calada.
Em cada momento de eternidade traçado,
qual lençol bordado a retrós de sonhos,
espero-te no beijo, no abraço adiado,
paixão amordaçada em olhares tristonhos.
Espero-te a cada esquina da vida,
a cada passo, a cada hora, cada mero instante,
espero-te à chegada e à partida,
no delírio da dor da ausência constante.
Espero-te na imensidão do desejo
no fogo dos braços que não te prendem,
nos beijos que esperam o ensejo
para se te entregarem pois só a ti se rendem.
Espero-te na eterna espera,
espero-te no amor sem fim,
espero-te na doce quimera
que guardo silenciosa em mim.
Espero-te nas dobras da noite
e nas esquinas da vida.
Espero-te eternamente!
sexta-feira, novembro 30, 2007
PELOS CAMINHOS
escoam-se os sentimentos, dores, mágoas p'lo caminho.
Na escuridão do vazio o silêncio faz-se voz,
retalhos de uma vida vivida numa passagem atroz.
Chove...Faz sol...Nada importa,
o tempo passa sem cor,
este barco já não comporta
nem mais um pedaço de dor.
Cruzo o espaço vazio como estrela cadente
num ténue raio de luz esmoreço, transparente,
pelos caminhos do mundo, alma penada somente,
nuvem desgarrada, rolando no céu eternamente.
(foto retirada da net - olhares)
domingo, novembro 25, 2007
TORMENTOSO DIA
O coração vai em chaga, o pensamento vai em fogo, a alma vai desfeita e a vida sem sentido escoa-se nos passos que as botas de escalar pisam sem rumo. Subira a serra, a sua bem amada serra, feliz, estava uma manhã de sonho, um sol vermelho anunciava-se no horizonte, a mochila às costas e o casaco quente, as botas de serra como lhes chamava e um sorriso nos lábios e o dia prometia ser um sonho. A sua meta, o topo, de onde a vista abarca um espectáculo fabuloso e deixa quem se atreve à escalada, extasiado com o mundo aos pés. Lá bem no alto a umas boas três horas de caminhada aguardam-na os segredos e mistérios da resistente anta que por lá permanece desafiando o tempo, as intempéries, as mãos humanas pouco cuidadosas e menos conhecedoras, também a voz do vento agreste e fresco que sempre sopra, e aquele silencio interior que só ali consegue e a deixa em paz. Neste dia porém aguardavam-na bem tristes e devastadoras noticias.
A escalada tornara-se um pouco mais difícil devido ao vento que entretanto virara e se abatia duro sobre a encosta escarpada, mas, habituada ás viragens súbitas do tempo subia a pulso e pinos a falésia pelo lado que mais gostava e mais difícil se tornava, o que estava virado ao mar. Não se permitia um segundo de distracção e nem o grito agudo das aves nem o marulhar forte da rebentação lhe tiravam a concentração. Chegada à sua plataforma de repouso ao fim de uma hora e pouco de subida sentou-se a olhar o mar imenso e já encapelado que se arremessava bravio contra as rochas. Tirou o termo com chá quente e as bolachas de maçã que sempre levava, da mochila que pousara a seu lado no diminuto espaço. Aquela primeira paragem era-lhe tão cara como a “sua” anta lá bem no topo. A meia encosta os ninhos já eram bastantes e se se mantivesse sossegada e sem mexer muito aos poucos os casais voltavam para os lares para dar atenção às crias e ovos, por isso, se mantinha o mais imóvel que a sua natureza irrequieta permitia, e desfrutava de momentos únicos junto das avezitas recém emplumadas e dos ninhos com ovos que eram com todo o esmero aquecidos passado o primeiro susto provocado pela sua chegada.
O céu ia-se toldando aos poucos e as ondas iam subindo de tom no estertor da rebentação, o seu olhar apurado vislumbra no nevoeiro que se adensa sobre as águas uma sombra oscilante. Uma embarcação! Tão perto da costa?! Num local onde a navegação se faz bem mais ao largo…Estranho, teria perdido o rumo com o nevoeiro espesso? Estaria em apuros? O rosto da rapariga franze-se tentando ver mais além, mas os dedos frios e húmidos da névoa colam-se às pestanas e pálpebras não permitindo ir mais além do que uns escassos metros de visão e mesmo essa bastante deficitária. Resolve encurtar o repouso e voltar à ascensão, para poder ter uma panorâmica mais abrangente lá de cima, isto se o nevoeiro não se tornar no mar leitoso e impenetrável que é normal naquelas épocas. O vento já sopra em rajadas secas e fortes que a fazem abanar como uma simples vara verde presa pela raiz frágil. As mãos enluvadas começam a não responder devido à pressa e perde dois grampos de fixação que a deixam furiosa, mas não menos disposta a alcançar o topo. De quando em vez olha para o mar tentando ver o vulto que sobe e desce ao ritmo das ondas cada vez maiores, sem saber muito bem porque o seu coração começa a apertar-se numa dor que não sabe explicar mas que a obriga a acelerar a escalada. Algo em si dispara em todos os sentidos. Uma dor imensa a inunda como se alguém muito querido estivesse a sofrer a seu lado sem que pudesse fazer fosse o que fosse. Uma ânsia sufocante abate-se sobre ela, tudo em si dispara sinais de alarme e perigo. Tentando raciocinar e não se deixar levar pelo sentimento desenfreado que a invade, firma-se nos pontos de apoio e nas cordas, nos seu grampos e nas suas mãos e pés conhecedores. Mas a sua mente acaba por sucumbir à descarga de adrenalina e deixa-se corroer pelo medo, pela ânsia e pelo desespero sem que saiba porquê nem de onde vem. Algo inexplicável a domina e a obriga a tentar subir o mais rápido que consegue, descura a segurança, perde o seu habitual sangue frio e domínio e só uma palavra lhe martela no cérebro; Chegar lá acima! Porquê? Não sabe. Para quê? Também não, apenas sabe que tem que chegar quanto antes.
Os pés já não buscam o trilho certo, as luvas já rasgou uma nas arestas da escarpa e a mão está cortada num golpe profundo que deixa rastos de sangue pelas rochas. Finalmente atinge o cume. Firma-se nos pés esgotados e olha de cenho franzido o mar. Um grito de pavor ecoa pelos rochedos abandonados e solitários; O barco vem desgovernado e desmastreado direito aos rochedos agudos. Os seus olhos abertos num pavor desmedido vislumbram uma figura solitária no tombadilho.
Conhece aquela capa de oleado, o chapéu da mesma cor que compraram juntos meses antes, conhece a figura masculina que de braços estendidos, como que querendo empurrar a penedia, se despede impotente da vida diante dos seus olhos. Um novo grito de pavor e horror trespassa o ar, as nuvens densas, o nevoeiro que se avoluma, nele vai o nome tantas vezes repetido numa dor sem fim. Imobilizada pelo terror, presa ao chão como se em pedra se tivesse subitamente tornado, assiste ao despedaçar do barco, ao soçobrar do casco e ao desaparecimento do único amor da sua vida. Um amor com o qual rompera havia uma semana, por uma briga estúpida e sem razão, e que precisamente hoje, pazes feitas pelo telefone e encontro combinado na “anta dos sonhos” como ele por graça dizia, voltaria a segurar nos braços e desaparecer no amplo peito que sempre a aninhava quando ele a abraçava.
Sem alento, morta com ele nas águas, sem entender o porquê, nem o que tinha acontecido, atordoada e sem rumo, cai de joelhos no solo. Incapaz de verter uma lágrima, o seu peito estoira de dor, a sua cabeça gira sem sentido. Só uma imagem lhe perpassa nos olhos, o barco despedaçado e o ruído pavoroso da madeira a rasgar nas rochas assassinas, e as águas negras que tragaram em segundos o corpo amado.
sábado, novembro 24, 2007
PÉTALAS DESFOLHADAS
sexta-feira, novembro 23, 2007
PALAVRAS
DESENCONTROS
em lagrimas por secar,
nos sorrisos por sorrir,
nas vidas por florir.
quinta-feira, novembro 22, 2007
ETERNIDADE
SEM DESTINO
segunda-feira, novembro 19, 2007
ACTORES
sábado, novembro 17, 2007
CAMINHO MAGOADO
como a breve alvorada
como o beijo da morte
perdido pela madrugada,
Como a lua tímida que espreita
como as nuvens que afogam o pranto,
como a maré que na areia se deita
e se deixa envolver pelo belo manto
do diáfano sol que renasce.
como a vida que se escoa,
como o amor que se perde
como a ausencia que magoa,
como a barreira que se ergue
e a voz que não se ouve.
Caminho trilhado, mil vezes pisado,
caminho torturado.
quinta-feira, novembro 15, 2007
SE EU FOSSE UM DIA
se eu for um dia o beijo que não fica por dar,
o rio que não se cansa de correr para o mar,
o sol que jamais tem ocaso e a aurora que jamais morre,
se eu for um dia o sorriso que não negas, o olhar que não permites
o toque doce que não se esconde e a pele que não se cala....
Se eu fosse um dia....Alguém
domingo, novembro 11, 2007
NOTAS SOLTAS IV (FIM)
Ordens cumpridas e sobem os três a escadaria, Armando com o seu precioso fardo no braços, Diana meio adormecida, e Alberto de tabuleiro nas mãos.
Deita-la foi obra de segundos, mas faze-la engolir algo já não foi tarefa tão simples. Acabam por conseguir que coma uma sopa bem quente e depois deixam-na dormir. Armando por precaução havia mandado arranjar o quarto ao lado do seu e deixa a porta entreaberta dos dois quartos, O seu sono é leve e não será difícil despertar se a rapariga se levantar ou chamar durante a noite, algo lhe diz que a noite vai ser longa e nada fácil. Alberto desce com ele para jantarem e comentam o estranho acontecimento, que motivos terá para se lançar pelo espaço como pretendia? Que segredo se esconde naquela alma transtornada e aflita, perdida e sem rumo?
No escuro do quarto desconhecido, aconchegada no calor dos lençóis Diana não concilia o sono, a sua cabeça rodopia como um caleidoscópio louco, girando, girando, girando sempre sem parar….A saída da consulta médica em que o diagnóstico não deixava margem para duvidas, e a recepção em casa, as portas fechadas dos supostos amigos, e o peso da desilusão, da vida sem sentido e sem, mais rumo algum. Agora ali, tudo passava como se de um filme se tratasse, aquele dia decorria diante dos seus olhos, como se fosse externo a si. Não, aquela não era ela! Aquela não era a mulher determinada e segura que sempre seguira em frente ponderando mas decidindo. Não aquele farrapo que descia as escadas do consultório não era ela! Era a protagonista de uma película de fraca qualidade, e sem gosto algum! Mas, bem no fundo da sua alma a voz gritava-lhe sem cessar; - “Acorda mulher! Essa és mesmo tu daqui em diante, não escondas a verdade nua e crua de ti mesma. Essa és tu, sim!”
Senta-se na cama e olha em redor, apenas vislumbra os contornos dos móveis, o odor de quarto que não é usado há algum tempo, um leve cheiro de flores secas nas quais ainda permanece um ténue perfume. Levanta-se, descalça e estonteada, às apalpadelas caminha para não tropeçar em nada e acordar a casa toda, segue o raiozinho de luz que pela porta se escoa e vem até ao corredor ficando a oscilar na balaustrada, a escada abre-se aos seus pés, mas ao por o pé nu no primeiro degrau uma vertigem apaga-lhe momentaneamente os sentidos e sente-se cair no vazio.
Acorda minutos mais tarde de novo na cama, com um rosto entre o zangado e o expectante sobre o seu. Armando ouvira os passos e viera atrás dela amparando-a de novo na queda.
-“Porque insiste em ser teimosa Diana? Ainda não percebeu que o seu estado embora sem ser grave requer repouso? Vamos passar a noite a tentar evitar que se magoe mais ou aconteça algo de mais grave? Amanhã, quando estiver mais calma e repousada tratamos de falar e tomar medidas, mas hoje só a quero na cama sossegada e a dormir, para repousar e recuperar alguma paz. Pode ser? Peço muito?” – Diz Armando em tom firme entre o zangado e o meigo. Só um acenar negativamente lhe reponde e, obedientemente a moça deita-se adormecendo quase de imediato, não sem antes ter sentido um leve beijo no cabelos que deixou ambos intrigados, ele porque o fez impulsivamente, ela porque apanhada de surpresa, mas mais, porque aquele beijo a encheu de paz e confiança.
A manhã nascia límpida após a tempestade da véspera apenas o ar estava mais frio. Alberto preparara o pequeno-almoço e aguardava por ordens para o servir onde fosse preciso. Armando desceu como habitualmente, fresco e revigorado, havia passado pelo quarto da sua inesperada hospede e encontrara-a a dormir profundamente, no rosto uma expressão de paz e uma beleza que o cativara, o cabelo espalhado pela almofada, a correcção dos traços agora relaxados e calmos, os lábios rosados e entreabertos numa respiração suave, e uma das mãos abandonada docemente sobre a colcha. Para ali fiou uns minutos deixando-se invadir por uma série de sentimentos que nem ele sabia definir muito bem, apenas o cativava aquela presença desamparada e o enigma que a envolvia. Acordou dos seus devaneios a um leve movimento da rapariga, e apressou-se a descer. Tomou o pequeno-almoço na cozinha na companhia do fiel criado, coisa há uns tempos vinha sendo hábito. Mal haviam terminado a refeição ouvem um breve, bom dia, peço desculpa, que levantou os dois das cadeiras como se tivessem sido picados por uma centena de abelhas. Diana, ali estava, pálida é certo, mas composta, repousada e serena. Alberto tratou de arranjar o tabuleiro para levar para a sala, mas a rapariga afirmou que a cozinha, quente e aconchegante como estava era um lugar perfeito para comer, de longe preferia estar ali do que na frieza e austeridade da sala. E sentando-se desarmou os dois homens, que a olhavam atordoados. Alberto serviu-a de café acabado de fazer e de pão quente e fresco, a manteiga e o doce, o queijo e a fruta estavam ao alcance das mãos esguias e ainda inseguras. Armando deixou-a comer mas após a refeição fez questão de a ouvir, encaminhou-a para o salão onde estivera na noite anterior e delicadamente foi tentando saber o que se passara. Não contara porém com a dor que na alma dela ia e no desalento profundo que a assolava, e assim, após algum tempo em que ela fugia ás questões e ela a encurralava, Diana pediu delicadamente desculpa e acrescentou; -“ Armando, permita-me que o trate assim até porque nem sei o seu apelido, não tenho palavras para lhe agradecer o seu gesto, a delicadeza com que fui recebida na sua casa a atenção que me dispensaram, e tudo o que por mim fizeram. Um ser humano tem por “obrigação” salvar outro quando o vê em situação de perigo, mas peço-lhe que esqueça esta noite, não me conhece, jamais me viu e não verá nunca mais. Nunca deveria ter impedido o carro de se despenhar e com ele eu, posso parecer-lhe….Tudo o que quiser pensar de mim, pouco me importa. Apenas sei que de uma forma ou de outra nestes derradeiros momentos levo comigo o verdadeiro significado do, vai-me perdoar, “amor”, sim…Por favor não faça essa cara, falo de um amor desinteressado, o amor como eu o entendo, sem esperar nada em troca. O Armando deu-me hipótese de voltar a acreditar que é possível estar-se e ser-se para alguém, inclusive que se desconhece, ensinou-me a voltar a acreditar no ser humano, e é por essa lição que lhe agradeço do fundo do coração. Parto mas vou com uma paz que pensei perdida. Obrigada por tudo.” – E levantando-se deu por terminada a conversa. Armando por sua vez seguia a evolução da conversa cada vez mais determinado a não perder aquela mulher, que por alguma razão desconhecida o cativava, lhe devolvia o calor ao coração, tão frio desde a morte de Helena. De um salto levantou-se e envolveu-a nos braços com efusão. Apanhada de surpresa, debate-se empurrando com força o peito dele, mas sentindo-se cada vez mais apertada naqueles braços quentes e possantes acaba por deixar de se debater imobilizando-se ao contacto doce dos lábios de Armando sobre os seus. O beijo emudeceu a sala, apagou o mundo, parou os corações. Diana entreabriu os olhos e apenas foi capaz de murmurar; - “Porque o fizeste?” – – “Porque não te quero perder, muito menos que saias daqui pronta para me matares ao terminares com a tua vida.” – Foi única resposta que se ouviu na imensidão do salão.
Lá fora uma suave brisa com eflúvios do mar beijou docemente o jardim já vestido de Outono, e o marulhar das bravias águas chegou até eles, cada um ouvindo-o de maneira diferente, o que os levou enlaçados até à beira da fatídica falésia.
Diana olhou para a pequena baia enquanto Armando a olhava a ela admirando o perfil bem desenhado. Com o mar por testemunha um novo e demorado beijo selou o pacto de uma nova vida.
sábado, novembro 10, 2007
DIZ-ME ...PORQUÊ?
Diz-me simplesmente, porquê?
Porque caem as folhas douradas,
morrem os sonhos mais queridos,
desfalecem as esperanças ansiadas,
ficam nas mãos os desejos feridos.
Diz-me simplesmente, porquê?
Porquê?
Diz-me somente para quê?
Para que abro as portas à vida,
para que acredito no impossível,
para que me desdobro dividida
inventando o meu "possivel".
Diz-me somente para quê?
Porquê? Porquê? Porquê?!!!
quarta-feira, novembro 07, 2007
NOTAS SOLTAS III
A pergunta, onde estou, soa num misto de medo e desespero. Armando ajoelha-se ao lado do sofá e em voz baixa e quente, pergunta-lhe se se lembra do que aconteceu. Duas lágrimas correm pelos estranhos olhos e mais duas se seguem, a cabeça pende para a frente como que escondendo uma dura realidade que não quer conhecida, que não quer revelar. E um simples aceno de cabeça responde à pergunta.
“ – Então se se recorda do que aconteceu, sabe que esta estrada não tem saída, verdade?” – Perguntou Alberto do seu canto.
“ – Sei, há muito que sei que este caminho leva à falésia, e há muito que o faço sem nunca ter chegado ao destino….Hoje foi só mais uma tentativa….Falhada de novo!” – Responde em voz sem cor.
“ – Posso saber qual o seu nome?” – Perguntou Armando preso da bela desconhecida.
“ – Que lhe importa o meu nome? Sou alguém que impediu de ser finalmente feliz! Deve bastar-lhe!” – Responde a moça com um desespero profundo na voz.
“ – Ser feliz?! O que é ser-se feliz, sabe dizer-me? É que também eu busco a felicidade, tive-a nas mãos e ela fugiu um dia, afastou-se de mim, naquelas falésias. Por isso não me venha dizer que os rochedos trazem a felicidade, garanto-lhe que são apenas portadores de uma infelicidade sem fim….Sei do que falo! Acredite! Mas…Como se chama?” – Disse Armando com a voz igualmente embargada pela comoção.
Ela levantou os olhos para ele e encarou-os pela primeira vez, mergulhou na limpidez e na tristeza profunda que os invadia, e aos poucos foi acalmando, aquele homem trazia no peito uma angústia e uma dor semelhantes à sua…
“ – Diana. Chamo-me Diana.” – Disse estendendo a mão que entretanto tinha retirado das mãos dele.
“ – Muito prazer, Armando Vasconcelos, seja bem vinda Diana, pena que nestas circunstancias….Como se sente?” – Disse um Armando ajoelhado de novo ao lado dela e de alguma forma rendido à beleza estranha e irradiante da rapariga.
“ – Estou tonta, e dorida, mas peço-lhe apenas que me deixe partir, não quero ficar aqui, quero ir embora.” –
“- Lamento desiludi-la Diana, mas esta noite ficará sim, porque o seu carro está mais no fundo da ribanceira do que cá em cima, aproxima uma noite de temporal e eu não vou deixa-la partir assim, voçe está ferida, está magoada e sem transporte. Eu e o meu criado vamos tentar puxar o seu veículo para um lugar mais seguro, mas nada nos garante que sejamos bem sucedidos, por isso, vou ser intransigente e não a vou deixar sair. Perdoe mas não!” – Soou segura e firma a voz de comando dele.
Ainda tentou levantar-se e provar que estava bem, que não queria ficar naquele local onde mais uma vez a sua tentativa de por termo à vida falhara, queria fugir dali, desaparecer, correr para outro local onde ficasse sozinha, sem que ninguém a visse. O peso do novo falhanço era-lhe insuportável. Não queria ver nem estar com ninguém, mas a pancada e o embate violento que sofrera falaram mais alto e ao tentar pôr-se de pé, caiu desamparada para a frente indo aterrar nos braços de Armando, que atento aos seus movimentos, rapidamente a amparou. Sem uma palavra volta a deita-la, lívida, na chaise longue, e sem mais volta-se para o cão que, silenciosamente aguardava a ordem, e saem. Alberto ainda diz que não é muito boa ideia deixarem a rapariga sozinha, porque está em nítido estado de choque e pode fazer uma nova tentativa de suicídio já que o que acabou de tentar falhara redondamente.
Armando arrisca e deixa-a deitada, saindo em passo lesto em direcção ao carro.
Entretanto o vento já soprava rijo e com rajadas vigorosas, chegaram ao carro que ainda oscilava no seu poiso periclitante. Com cordas e um guincho conseguiram puxa-lo para o caminho, e como tinha a chave, vieram com ele para casa arrumando-o dentro dos muros. A chuva já caía fria e fina e o vento uivava a bom uivar. Na sala reinava o silêncio só cortado pelo crepitar das chamas. A manta estava no chão e o sofá vazio. Alberto ia dizer que bem tinha avisado que era um erro, mas Armando travou-lhe a palavra, com um gesto. Aninhada num vão de uma das janelas estava Diana, parecendo uma criança medrosa e assustada, completamente enrolada sobre si mesma, sacudida por soluços brandos. Com toda a suavidade, Armando aproxima-se dela e, a medo, toca-lhe no ombro esperando uma reacção agressiva. Mas apenas e só o choro manso e incontrolado lhe deu resposta. Então com uma meiguice que há um ano ninguém lhe via, pega nela ao colo e trá-la de volta para o sofá, dizendo a Alberto que vá preparar o quarto dos hóspedes, porque ela precisa de comer alguma coisa quente e dormir.....
segunda-feira, novembro 05, 2007
SUSPENSA
sábado, novembro 03, 2007
TELA IMPERFEITA
PEDRADA
INTANGÍVEL
sexta-feira, novembro 02, 2007
SEM...
Na noite sem lua, os olhos procuram outros olhos,
as mãos, sedentas e cegas, prendem o ar frio
e os lábios sem cor, lançam um suspiro sem som....
Na noite sem lua, apenas uma lágrima flutua.
quarta-feira, outubro 31, 2007
NOTAS SOLTAS II
Enquanto os pensamentos deambulavam perdidos na dor da perca e na angústia da solidão, as mãos não paravam o seu incansável ardor sobre as teclas, acariciando aqui, martelando além, num vai e vem constante. Mal dera pela entrada de Alberto e não fora o ligeiro latido do cão a saída teria sido tão desapercebida como a entrada. Calou-se o som e estacaram os passos do velho criado, que lentamente vira o rosto para o piano à espera da reprimenda, mas é recebido com um sorriso apagado e sem cor, e as palavras vindas do fundo de uma alma desesperada; - “Porquê Alberto? Porquê? Está tudo tão morto ao meu redor!!!”
Sem esperar por este desabafo, e sem saber muito bem como, encaminha-se para o piano e coloca-se ao lado de Armando pousando a mão ossuda e marcada pelos anos sobre o ombro enquanto lhe responde; - “Porque a felicidade não é eterna, é apenas feita de pequenos pedaços espalhados pelas nossas vidas senhor. A D. Helena foi um pedaço dela, mas mais, dentro em breve virão, tenho fé e esperança que sim, esta casa não pode morrer assim.” – Dito isto deu um leve palmadinha no ombro do jovem amo e encaminhou-se para fora do salão. De novo o silencio apenas quebrado pelo vento mais forte e o marulhar das águas agitadas na apertada praia, o olhar vai pousar no cadeirão vago e a mente atraiçoa-o uma vez mais, de novo o corpo flexível e esbelto de Helena se enrola encolhendo-se no aconchego do tecido escuro, a sua maneira especial de olhar para ele e ao mesmo tempo aquele etéreo pairar sobre tudo como se não pertencesse em boa verdade a este mundo, parecia tão despegada do mundo por vezes, e no entanto a sua atenção era minuciosa e sempre desperta, sabia quando ele a olhava e como olhava, sabia se estava bem ou mal, calmo ou irritado, triste ou alegre ainda que o seu rosto mostrasse a impenetrabilidade dos rochedos que os rodeavam. Fora uma mulher especial! E era esse vazio que lhe tolhia o coração, a alma e vida. Desde a sua morte cessara quase por completo as suas actividades e nos primeiros tempos só o encontravam sentado no penedo de onde Helena caíra, absorto, alheado de tudo e todos, de olhos perdidos ora no horizonte ora nas rochas no fundo da falésia. Aos poucos a actividade profissional reclamava por atenção e a vida tinha que continuar e passados três meses voltou ao escritório onde a acumulação de serviço não lhe deu tempo para grandes pensamentos e exigiu a máxima capacidade de resposta e resolução. Agora, um ano volvido, a vida decorria a ritmo lento e sem cor, mas dentro da normalidade, não foram os momentos de dor profunda e desespero vincado que o assolavam e deixavam sem norte nem rumo e tudo, aparentemente, estava normal.
No meio do silêncio quase sepulcral eleva-se de repente um travar brusco de um rodado de pneus com um chiar pavoroso de travões, o Labrador ladra furiosamente, saltando como um louco de encontro a janela e Armando estremece como se uma corrente o tivesse subitamente atravessado. Levanta-se de um salto e esbarra com Alberto que corre para a rua com uma lanterna em direcção ao final da estrada, Como é possível que alguém se tenha aventurado por uma estrada bem sinalizada de “sem saída”, numa noite como aquela? Não teria visto os diversos sinais? Estranho. Quase impossível!
Ambos correm apressadamente para o local com o cão a saltar ao seu lado, sem parar de ladrar. Mesmo sobre a laje grande onde tantas vezes uma mesa e duas cadeiras haviam estado para desfrutarem um por do sol frente a um refrescante sumo de frutas, está agora um carro com uma das rodas perigosamente fora da rocha e em equilíbrio instável. Faróis acesos e um vulto imóvel, estático lá dentro no lugar do condutor, a cabeça descaída sobre o volante escondido o rosto por uns longos cabelos anelados. Segurando o cão pela coleira e estranhado a imobilidade da mulher, Armando tenta abrir a porta do carro, que oscila perigosamente, fazendo-o avançar com extremo cuidado para tentar retirar a rapariga sem que o veículo se precipite talude abaixo arrastando mais uma vida consigo.
Alberto segura a lanterna e o cachorro que furioso não cessa de ladrar. Ao puxar devagar o corpo inerte descai sobre o seu ombro uma cabeça em sangue que jorra de um golpe profundo na testa mesmo sobre o sobrolho, a custo consegue tira-la sem que o carro se despenhe e carregando-a nos braços apressam-se para casa deixando para depois as preocupações com a viatura que fica mansamente a oscilar sem saber se tombe para a frente e acabe de uma vez com a vida, ou se se agarre ao que resta e se imobilize sobre a laje.
Chegados a casa Alberto afadiga-se em trazer para a saleta o estojo dos primeiros socorros e Armando de pousa a sua carga na chaise longue, vendo pela primeira vez à luz o rosto desfigurado da rapariga. Limpam a ferida e pensam-na, mas é em vão que tentam despertar aquele corpo que não parece querer regressar ao mundo dos vivos. Umas olheiras profundas cercam os olhos cerrados, os lábios estão apertados numa linha fina e arroxeada, e as mãos finas e quase transparentes pendem sem graça ao lado de um corpo elegantemente vestido, de formas graciosas. Os pés estão calçados com uns sapatos confortáveis sem contudo perderem o seu quê de elegância e bom gosto. Mas traze-la de novo à vida é que maugrado de ambos não conseguem.
Aquecem-se botijas, acende-se a lareira e cobre-se a moço com uma manta quente e felpuda, e só algum tempo depois uma ténue cor volta ao rosto, as mãos se agitam e o corpo se distende em vários espasmos. Aos pouco vai voltando a si, sem contudo se aperceber bem do que a rodeia nem do que se passou...
sábado, outubro 27, 2007
NOTAS SOLTAS
As notas ecoavam tristes e melancólicas na noite fria, A janela aberta de par em par sobre o jardim cuidadosamente tratado deixava entrar a brisa fria de Outono alto adivinhando já uma invernia dura. Insensíveis ao frio as mãos percorriam seguras o teclado gasto do “amigo” eterno e sempre presente, o piano. Mais ao fundo, como que a acompanhar a música suave e triste, o rugido do mar de encontro às falésias abruptas e cortantes, dava ao quadro um tom funesto e pungente que invadiam o espaço negro da noite.
Alto, trigueiro, na casa dos 40, de compleição mediana e olhos amendoados, de um negro profundo, as mãos esguias e nervosas, e o rosto de traços correctos e algo duros, os cabelos anelados tão negros como os olhos, a boca apertada num rito de dor, tinha a doçura de um beijo, quando se descontraía, o que não era de momento o caso. Mais parecia um traço desenhado por um breve tira linhas, ou finíssimo pincel de um Miguel Ângelo. O seu olhar perdido algures pelo salão, não olhava as teclas que ia ferindo de manso e arrancando delas toda a dor que na alma lhe ia.
O Labrador dormia enroscado perto dos seus pés, e de quando em vez levantava a meiga cabeça e olhava o dono com uns olhos de quem pede que a dor acalme e por fim se perca no tempo que tudo leva e desvanece. Os pesados reposteiros de um grenat escuro com pequenas flores de liz em doirado mais parecendo minúsculas estrelas aliviando o peso da noite ondulavam com vigor e o ambiente foi ficando cada vez mais gelado, mas sempre as mãos compridas e seguras dedilhavam sem parar, saltando, parando, pressionando.
O velho criado veio sem ruído fechar as altas janelas, a medo, como sempre acontecia a cada noite de tempestade na costa e no coração destroçado do seu amo. Não seria a primeira vez que era quase escorraçado do salão, por se ter atrevido a entrar e dispersa-lo dos seus devaneios e dores que só nos sons arrancados ao piano conseguia acalmar. Mas sempre tentava amornar um pouco o ambiente porque o frio já se fazia sentir bem e sabia que o seu amo era homem que apreciava o calor e o sol, não era criatura de neves e frios, esse dom ficara-lhe do grande e único amor da sua vida, a esposa que perdera havia um ano. Ela sim, era a amante das neves, do frio, do Inverno, do vento e das tempestades. Na realidade parecia uma fada branca e frágil, grácil e alta como ele, flexível como um junco e bonita de uma beleza etérea e quase angelical, olhos profundos que mudavam entre o verde cinza e o verde esmeralda, os cabelos médios meios acobreados, e o sorriso sempre aberto no rosto. Mulher a um tempo frágil e segura, corajosa e sem grandes temores arrostava as falésias em qualquer tempo e ao vento norte e rijo se rendia com uma beleza característica que o marido temia e amava ao mesmo tempo. Durante os breves anos de união feliz muitas haviam sido as horas que passaram caminhando dobrados pelo vento pelas rochas negras e rasgadas onde, bem lá no fundo as águas bravias escachoavam incessantemente, mãos dadas e o riso franco nos rostos corados pelo frio, eram horas de prazer que ela vivia com uma sofreguidão inexplicável e que ele bebia oscilando entre o medo de tanta loucura e tanta felicidade. Naqueles picos a mulher parecia um elemento da natureza dura e áspera, perdia a sua candura de menina e tornava-se uma mulher em plenitude como se as forças a invadissem e tornassem noutra Helena, mas não menos bonita ou inquietante, misteriosa e grácil por isso. Amava-a completamente como se ama a vida, como ele amava o sol, as águas frescas e frenéticas na praia pequenina ao fundo dos penhascos, o calor do verão.
Helena deambulava pelo jardim nas manhãs em que a neve cobria as ruas delineadas e sinuosas, com a alegria de uma corça a quem deram um punhado de erva fresca, com um camisolão branco e calças justas manhã cedinho o criado via-a passar pelas janelas da cozinha onde invariavelmente batia com a mão enluvada e lhe atirava um beijo e um sorriso de alegria fazendo sinal para ter o café quente dentro de uns minutos, o bastante para ir até ao fim do jardim e abraçar o vento matinal sobre os rochedos. Por sua vez Armando deliciava-se em fotografa-la nesses momentos e lançava-se atrás dela apanhando-a desprevenida captando cada expressão especial e única do rosto e corpo amados. Assim os instantes de Helena foram ficando, impregnando as paredes, as roupas, os móveis, as vidas, e na fatídica manhã em que o poderoso Labrador veio uivando acordar a casa para o desgosto e para o luto a máquina fotográfica repousava sobre a banqueta do quarto onde sempre estava à mão para rapidamente ser agarrada e sair atrás daquele pedaço de vento, ou lágrima de nevoeiro. Helena desaparecera no fundo da ravina, e o seu corpo fora recuperado por um Armando morto por dentro, completamente despedaçado e mutilado. Desde esse dia a casa morrera, as salas foram ficando encerradas aos poucos, o pó foi-se acumulando nos móveis, os criados acabaram por ir também aos poucos embora, só o velho e fiel Alberto ficara a servir o seu amo, como sempre fizera, mas também ele mudou, a beleza e presença de Helena trouxera um ambiente novo e estranho aquela mansão, agora só o peso do silencio, o arrastar das horas e dias, e a profunda magoa de Armando restavam.
Havia algum tempo que recomeçara a tocar o piano, mas as lembranças eram dolorosas. A mulher tinha por habito vir aninhar-se no cadeirão perto da lareira, enroscada como um cordeirinho pequeno, descalça e de olhos perdidos nas brasas ou no rosto atento do marido, silenciosa e deliciada ouvia-o tocar e perdia-se nos acordes dos “Nocturnos” que ele magistralmente executava. No final levantava-se e de manso abraçava-o pelas costas e murmurava ao seu ouvido; - “Lindo meu amor, toca, toca só para mim. Toca amor, adoro ouvir-te!” ....
(O conto é grande para não ser tudo de uma só vez...Vai em várias partes)
E SE....
quinta-feira, outubro 25, 2007
SILENCIO
"Todos temos uma asa para voar, no silêncio que nos aproxima, embora
em vão, e na dor indisciplinada que nos prende o coração nas horas silenciosas"
quarta-feira, outubro 24, 2007
BEIRA RIO
O TEMPO PERDIDO NÃO SE RECUPERA
As palavras lançadas não voltam atrás, o tempo perdido já não tem retorno e a vida esvai-se, no silêncio voraz. Fica o caminho, diluído, sem...
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PENSAMENTO SOLTO Elevo o pensamento para bem longe, onde as asas dos pássaros não vão e o som das águas não chega. Elevo o meu coração, feit...
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Dou-te uma lágrima de amor guarda-a junto ao coração. Dou-te uma vida e o ardor de quem ama sem restrição. Dou-te o meu sonho mais lindo, o ...
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Abracei o ar fresco e o céu cinzento da manhã, encolhi-me nas profundezas do casaco quente, e deixei que a aragem me beijasse o rosto, permi...